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Top-5 de Atlanta

Atlanta não é o principal destino turístico dos Estados Unidos, mas tem muito para oferecer. Capital dos movimentos dos direitos civis no passado, herdou um legado brutal na transmissão da história. Mas Atlanta tem também espaços verdes e outro tipo de museus que justificam uma passagem pela Geórgia, mesmo que por poucos dias.

 

1. Visitar o King District e aproveitar o tour gratuito à casa onde nasceu Martin Luther King Jr.

Túmulo de Marting Luther King Jr., no King District

Há museus, exposições e espaços verdes mas o King District é o que é verdadeiramente por ter a casa onde nasceu Martin Luther King Jr., a 15 de janeiro de 1929. As visitas são gratuitas e há um guia que nos acompanha ao longo de cada divisão da casa com histórias deliciosas sobre os primeiros anos de vida do ativista.

 

2. Compreender o passado e temer o presente no Center for Civil and Human Rights

Center for Civil and Human Rights

Martin Luther King Jr. não é o único ícone ativista destacado em Atlanta. No Center for Civil and Human Rights, temos três andares de história que nos fazem recordar que o mundo já foi um local muito mais sombrio. Com experiências que são um verdadeiro soco no estômago, o museu é também um grande abre-olhos para os perigos que a sociedade atual está a correr sem se preocupar muito com isso.

 

3. Ser seduzido pelo World of Coca-Cola

World of Coca-Cola

Não é preciso gostar de Coca-Cola, nem de nenhuma das bebidas associadas, para gostar de uma visita a este museu. Nenhum dos capítulos da história da marca criada em Atlanta é ignorado neste espaço e até há lugar para uma sala de degustação com centenas de bebidas.

 

4. Passear pelo Oakland Cemetery

Oakland Cemetery

É um dos muitos espaços verdes que Atlanta, conhecida como "a cidade numa floresta", oferece, com uma visita privilegiada sobre o centro da cidade. A organização dos cemitérios norte-americanos é sempre deslumbrante e neste caso há direito a visitar as campas de lendas do golfe, como Bobby Jones, ou da literatura, como Margaret Mitchell. Outros espaços verdes recomendados incluem o Beltline Trail e o Piedmont Park.

 

5. Compreender a paixão no College Football Hall of Fame

College Football Hall of Fame

Atlanta é uma cidade repleta de museus e estão praticamente todos junto ao Centennial Olympic Park, que assinala os Jogos de 1996. Também existe o aquário ou as instalações da CNN, com visitas guiadas, mas no College Football Hall of Fame a interatividade ganha vantagem. Somos convidados a entrar no mundo do futebol americano universitário, a compreender a cultura e a paixão e, mais importante, a experimentar fazer passes como um quarterback e a rematar aos postes. Se a paixão por desporto for ainda maior, dependendo da altura do ano, há sempre a hipótese de ir ver um jogo, seja dos Braves, dos Falcons ou dos Hawks.

Um pôr do sol fantástico e um jogo mega aborrecido: a nossa estreia em casa dos Atlanta Braves

A nossa viagem a Atlanta não estaria completa sem um bocadinho de desporto. Por isso mesmo, no último dia, incluímos uma tarde no SunTrust Park, o estádio dos Atlanta Braves, para um joguinho contra os Phillies de Filadélfia.

Atlanta Braves

A aventura começou ainda em Lisboa, quando percebemos que o SunTrust Park, o mais recente estádio da Liga, fica muito fora do centro da cidade. Na verdade, fica mesmo fora da cidade, em Cumberland, e chegar lá de transportes (somos quase fundamentalistas dos transportes públicos quando estamos de férias, mas isso é tema para outro dia) não era linear.

 

Acabámos por decidir partir de Midtown, depois de termos passeado pela zona e pelo Piedmont Park, num autocarro que nos levaria até um centro comercial a 20 minutos do estádio. Uma hora de viagem pelo meio dos subúrbios até podermos matar a gula numa Cheesecake Factory e seguirmos caminho.

 

Como fazemos sempre, fomos cedo. Aproveitámos o ar condicionado do centro comercial para recarregarmos baterias, depois de um dia cansativo (e quente). Duas horas antes do início do jogo, quando as portas se abriram, pusemo-nos a caminho - aí percebemos que a zona que envolve o estádio teria sido igualmente uma boa escolha para aguardar: as lojas, os restaurantes e os espaços verdes são novos, arranjados e convidativos. 

SunTrust Park

Depois das fotos da praxe, passámos a segurança e ocupámos o nosso lugar. Também como é habitual, sabíamos que os nossos lugares seriam dos mais altos do estádio - os mais baratos. O que não sabíamos é que o nosso tempo de espera até ao início do jogo ia ser abrilhantado com um pôr do sol magnífico.

 

Não é preciso haver uma razão especial para gostar de um pôr do sol mas ali foi também uma questão de conforto. Quando chegámos, o sol ainda nos batia de frente e era impossível estarmos sentados nos nossos lugares. Nem o protetor disponível em vários pontos do estádio (tipo desinfetante) nos safou e decidimos regressar ao corredor comum, onde encontrámos uma daquelas mesas de piqueniques à sombra, junto a uma das rampas de acesso à bancada. Só depois, quando o sol estava mais baixo, é que voltámos e ficámos maravilhados com aquela imagem.

Pôr do Sol no SunTrust Park

Confesso que tive de ir confirmar o resultado final do jogo - sabia que a vitória tinha sido da equipa da casa, mas não por quanto: aquilo que retive da minha primeira experiência no SunTrust Park foram os cânticos e celebrações dos adeptos, um estádio lindo e um jogo aborrecido e lento como já não se usa na MLB. Já agora, ficou 8-3.

 

O basebol é um desporto de tradições e até espetadores menos frequentes como nós se apercebem disso. No sétimo inning ouve-se sempre o «Take me out to the ball game», independentemente da equipa, e depois cada uma tem os seus próprios hábitos. Em Boston, por exemplo, os Red Sox aproveitam um intervalo para ter milhares de pessoas a cantar o Sweet Caroline do Neil Diamond. Outra coisa que acontece é a tendência para cada equipa ter a sua música eleita para lançar nos altifalantes sempre que um jogo termina com uma vitória. Falando apenas das equipas que estão na final este ano, os Red Sox têm a Dirty Water dos The Standells e os Dodgers a I Love LA de Randy Newman.

 

Os Braves surpreenderam-nos com uma espécie de cântico para chamar a sorte. Com milhares de luzes dos telemóveis ligados e um cântico com tons indígenas, repetem um gesto de martelo conhecido por "tomahawk chop". Como o estádio é moderno, dá para controlar as luzes e a intensidade é reduzida para tornar tudo mais... intenso.  

O cântico resultou... mas demorou a ter efeitos práticos. Noutras alturas, e desde que o frio não apertasse (ali, isso nem era uma questão), a lentidão do jogo e o empate mantido até ao sétimo inning não seriam problemáticos. Naquele dia, no entanto, sabíamos que o último autocarro (a 15 minutos a pé de onde estávamos) partia às 23h20... e não havia forma de o jogo acabar. Os quatro pontos que chegaram no oitavo inning foram mesmo o que precisávamos para decidir sair antes do final sem sentir que podíamos perder uma reviravolta histórica: os Phillies não pareciam capazes de dar a volta ao resultado.

 

Estávamos já fora do estádio quando ouvimos as celebrações do final do jogo, com direito a fogo de artifício. Chegámos a tempo ao autocarro (que até se atrasou um bocadinho) e tivemos quase uma hora e meia de caminho até casa para pensar se a experiência tinha valido a pena. Da minha parte, sim, apesar do anticlímax que foi encerrar a viagem a uma cidade cheia de emoções fortes com um jogo tão chatinho.

O circuito dos direitos civis em Atlanta

King District

Senta-te ao balcão de um restaurante. Coloca os auscultadores nos ouvidos e assenta as duas mãos na bancada. Fecha os olhos. Ninguém te vem perguntar o que queres, se já foste atendido ou se estás à espera de alguém. As pessoas à tua volta desprezam-te mas não te ignoram. Longe disso: o único objetivo que têm é insultar-te, amedrontar-te… matar-te.

 

Durante mais de um minuto e meio, o único som que ouves saído dos auscultadores são as ameaças, os gritos, o arfar próximo de quem preferia que estivesses morto, que não existisses, que toda a tua família desaparecesse da face da terra. A cada barulho de pontapé ou murro na mesa, os teus pés e as tuas mãos tremem. É suposto. O objetivo deste espaço no Center for Civil and Human Rights em Atlanta é fazer com que sintas na pele o que os protestantes afro-americanos sofriam nos EUA em plena batalha pelos direitos mais simples.

 

A experiência é marcante, mesmo não tendo qualquer ligação direta a esta época. Quando o tempo acaba, uma assistente do museu coloca-nos a mão no ombro e diz-nos que já acabou, que aguentámos, que fomos muito corajosos ao aguentar aquele teste. Nem toda a gente consegue. Ao meu lado, uma mulher afro-americana sai em lágrimas a meio. Foi demasiado para ela. Há episódios demasiado marcantes, uma eventual história familiar ligada diretamente à luta pelos direitos civis, um passado incógnito.

 

A experiência provoca repulsa. Toda a primeira fase daquele piso tem esse condão. Antes, já tínhamos ouvido os testemunhos dos ícones da supremacia branca: aquilo que diziam, no que acreditavam e como o expressavam. Hoje, em 2018, tudo nos parece ridículo, despropositado. Mas não foi assim há tanto tempo e há vestígios que ainda persistem.

 

Atlanta é uma cidade que não nos deixa ignorar a sua história. Entre o Center for Civil and Human Rights e o King District somos constantemente expostos a algumas das partes mais negativas na história dos Estados Unidos.

 

Mesmo antes de Martin Luther King, Jr. nascer ali naquele bairro, a 15 de janeiro de 1929, já Atlanta era um ponto de ebulição racial. Descobrimos, logo no início do tour à casa que o viu nascer, que estávamos a poucos quarteirões do centro do motim que em 1906 matou mais de 30 pessoas, na sua esmagadora maioria afro-americanos. O rastilho foi a publicação no jornal de uma notícia falsa sobre uma violação. O estilo parece-vos familiar?

 

Humanização de um ícone

Casa onde nasceu MLK

A visita à casa onde nasceu e cresceu Martin Luther King, Jr. é gratuita e altamente recomendada. Logo no início, o guia que nos faz a visita ensina-nos que Martin nasceu… Michael. A mudança de nome – tanto dele como do pai para Martin – só aconteceu aos seis anos, quando o avô estava a morrer e expressou um último desejo.

 

A apresentação dos primeiros anos de vida do ícone dos direitos civis é perfeita e humanizadora. A casa mantém a estrutura há praticamente um século, a maior parte da decoração é a mesma daquela altura, e somos bombardeados com pormenores de como era Martin, sempre com base nos testemunhos da irmã mais velha - que celebrou o 90.º aniversário no ano passado, precisamente no quintal daquela casa.

 

Sabemos que ia esconder-se para a casa de banho e ler banda desenhada para evitar levantar a mesa após o jantar, que fez os possíveis para se escapar às aulas de piano em casa, e quais os jogos de tabuleiro e outras diversões tinha como preferidos. A ideia com que ficamos – e a que nos repetem com alguma frequência – é que Martin era uma criança igual a todas as outras, reguila, e que não nasceu já ícone da luta pelos direitos civis.

 

O bairro permanece praticamente intacto. É património nacional e reserva-nos outros edifícios com exposições e documentários sobre aquela época. A um quarteirão da sua casa, está o seu túmulo, imediatamente ao lado do da mulher, Coretta Scott King. Do outro lado da estrada, o Visitor Center dá-nos mais uma aula de direitos civis. É impossível escapar.

 

Martin Luther King Jr. foi um entre muitos

Visitor Center

Nós visitámos o King District antes do Center for Civil and Human Rights, por isso quando chegamos ao museu a história do ativista parece-nos já menos pormenorizada. Ali, há muito mais para saber, apesar de descobrirmos também a influência brutal que a Coca-Cola, outro produto de Atlanta, teve para que Martin Luther King, Jr. pudesse ser homenageado na sua própria cidade depois de lhe ser atribuído o Nobel da Paz.

 

Se o museu nos consegue fazer sentir repulsa numa fase, mais à frente é capaz de nos inspirar através da coragem de quem pareceu ser imune às ameaças para defender aquilo em que acreditava. Seja Rosa Parks, a mulher que se recusou a abandonar o lugar onde se tinha sentado no autocarro, ou Ruby Bridges, a primeira criança afro-americana a frequentar uma escola dessegregada nos Estados Unidos, em Nova Orleães.

 

A coragem é o denominador comum de todas as histórias que vimos. São inspiradoras. Fazem-nos pensar como é possível alguém achar que naquele momento poderia haver outro lado certo da história. Ao mesmo tempo, faz-nos pensar no presente e em como é possível continuar a haver dois lados em questões que daqui a uns anos serão óbvias. 

Center for Civil and Human Rights

O museu tem muito mais. Tem um andar inteiro dedicado às lutas pelos direitos humanos em todos os cantos do mundo e nem o 25 de Abril escapa. Somos confrontados com os ditadores mais famosos mas também com outros capazes de atrocidades idênticas, ainda que não gozem da mesma atenção do mundo. Num pormenor interessante, a exposição faz um balanço perfeito entre o bem e o mal, reservando um lado da parede para os vilões e o outro para os ícones da luta pela igualdade nas mais variadas áreas.

 

Atlanta é uma cidade que nos faz acordar para o passado, mais do que qualquer outra que conheçamos nos Estados Unidos. Faz-nos estar mais conscientes, mais atentos. Pode não parecer a cidade mais interessante para visitar mas é essencial para compreender a história.

Três dias em Atlanta entre cultura e direitos humanos

Atlanta foi a cidade que mais me surpreendeu na viagem que fizemos ao sul dos Estados Unidos. Não sou fã de The Walking Dead e não esperava muito, ou nada de especial, desta cidade que não conhecia. Só sabia que não ia conseguir fugir às muitas árvores e aos mosquitos - confirmadíssimo.

(Also available in English)

 Ao contrário dos planos para Nova Orleães e Miami, que estavam um bocadinho na nuvem, o itinerário para a capital do estado da Geórgia (sim, nós contamos em quantos estados dos EUA estivemos) estava bem definido. Afinal, com apenas três dias para aproveitar, não havia tempo a perder.

 

Dia 1, introdução à vida e história de Martin Luther King

Chegámos de manhã a Atlanta e tivemos a sorte de podermos instalar-nos logo naquela que ia ser a nossa casa. Este airbnb (se nunca experimentaram podem inscrever-se na plataforma e receber crédito para uma viagem), a dois passos do Martin Luther King Historic District, deu o mote às visitas do primeiro dia.

Martin Luther King Jr. Historic Center 

Depois de um descanso merecido - afinal tínhamos saído da cama às três da manhã - rumámos em direção ao parque nacional Martin Luther King, Jr., dedicado à vida do ativista e à luta pelos direitos civis, muito ligada à história da cidade. Esse foi o primeiro ponto para explorar o "Historic District", onde estão integrados vários edifícios das redondezas.

Os mais interessantes são, sem dúvida, a casa onde nasceu Martin (cujo nome original é Michael...) Luther King e o King Center, um conjunto de espaços interiores e exteriores que convida à contemplação e introspeção, e onde se encontra o túmulo de MLK.

Os bilhetes (gratuitos) para visitar a casa são levantados no Visitor Center, que deve ser a primeira paragem para a vossa exploração dos arredores. Depois, demorem-se nos memoriais e nos jardins e arranjem toda a força que tiverem para lidar com o que vão ver e ouvir sobre os movimentos civis, ali em Atlanta e um pouco por todo o sul dos Estados Unidos. 

Casa onde nasceu MLK

Se andarem por aí e a fome apertar, o Sweet Auburn Curb Market é uma boa opção - além de mercado tradicional, com produtos frescos, tem também vários sítios para fazer uma refeição. Os hambúrgueres do Grindhouse Killer Burgers receberam o nosso selo de aprovação.

Para quem quer ver uma espetacular vista de Atlanta - mas é mesmo só para ir lá ter um espetacular panorama da cidade e tirar uma foto bonita - ou para os fãs de Walking Dead, que vão certamente reconhecer o horizonte: se ainda tiverem quilómetros disponíveis nos pés, subam mais duas ruas até à Jackson Street Bridge e... voltem para trás. Mas vale a pena.

Downtown Atlanta

 

Dia 2, do consumismo americano (e mundial) aos direitos humanos

Já tínhamos decidido que o segundo dia ia ser dedicado a museus. Quem nos conhece sabe que somos esquisitos com a coisa, mas há uns quantos que nos conseguem arrebatar (raramente são de arte, já agora). Em Atlanta íamos com três na cabeça, e nenhum deles desiludiu.

A primeira paragem do dia foi no College Football Hall of Fame, um museu dedicado à versão universitária do futebol americano. Para mim era só mais uma forma que o Rui tinha de meter um bocadinho de desporto no meio dos nossos dias, não esperava mais do que isso. Na verdade, é um edifício cheio de pequenas surpresas e histórias - a skill zone, onde podemos experimentar chutar aos postes da linha das 15 jardas (mais ou menos 14 metros) ou fazer um passe a la quarterback, é apenas uma.

College Football Hall of Fame

O museu está feito de forma a contar-nos a história do jogo, das grandes rivalidades, dos momentos mais significativos, dos melhores jogadores, e fazer-nos perceber a importância que este desporto tem nos Estados Unidos. Esqueçam um jogo de NBA com adeptos mais entusiásticos: no College Football é que as pessoas perdem a cabeça. Resultado? Eu saí de lá a perguntar ao Rui que equipas jogavam em Boston na nossa próxima visita, cheia de vontade de ver a coisa ao vivo.

Saídos do Hall of Fame, fizemos uma paragem rápida para comer na zona de restauração da sede da CNN, em remodelação na altura, antes de seguirmos para o World of Coca-Cola. Antes de mais, um disclaimer: eu não bebo Coca-Cola. O Rui também não, na maioria das vezes. Não foi garantidamente por qualquer fanatismo por esta bebida que decidimos que este museu havia de ser parte da nossa visita.

A verdade é que a Coca-Cola é uma parte fundamental da cultura pop americana, e mundial, e não havia nenhuma boa razão para não conhecermos um pouco mais da sua história e presença. Criada numa farmácia em Atlanta, a bebida que todos conhecemos é a estrela principal neste "mundo", mas está bem acompanhada por outras bebidas da companhia - e que podem ser experimentadas numa sala de "degustação" com sabores do mundo inteiro. Antes disso, há espaço para conhecer a história, as mascotes, os anúncios mais emblemáticos, uma mini-cadeia de produção (parada na altura da nossa visita devido à avaria de uma peça) e o cofre onde, dizem, está guardada a fórmula secreta. Who knows.

World of Coca-Cola

Center for Civil and Human Rights (Centro para os Direitos Civis e Humanos) foi a última paragem de um dia bem preenchido e, para mim, o mais marcante. As duas horas que tivemos antes da hora de fecho do museu não foram, nem de perto, nem de longe, o suficiente para retirar dali tudo o que podíamos.

É na ala inicial, dedicada ao movimento americano de Direitos Civis, com um óbvio foco na luta anti-segregação, que encontramos a exposição mais comovente. Às menções a Martin Luther King, Jr. ou a Rosa Parks juntam-se histórias de outros, mais ou menos desconhecidos, que também mudaram a história. E ouvem-se, com um nó no estômago, os testemunhos dos segregacionistas. Mas é mais à frente, numa experiência criada para simular o que os negros tinham de suportar nos seus protestos em restaurantes, que nos sentimos postos à prova - uma mulher ao nosso lado não conseguiu aguentar e saiu lavada em lágrimas.

O andar de cima é dedicado ao movimento global de Direitos Humanos e faz-nos pensar duas vezes nos nossos consumos e nas nossas vidas. Apesar da visão muito americanizada de algumas partes da exposição, a perspetiva global que obtemos sobre o que são direitos humanos - da saúde à acessibilidade, passando pelos que associamos mais diretamente a esta luta, como os direitos das mulheres ou da comunidade LGBT - é de grande valor. Nem de propósito, um dos "heróis dos Direitos Humanos" aí presentes é o recém-galardoado com o Nobel da Paz, Denis Mukwege (a viagem foi feita antes do anúncio do prémio).

Center for Civil and Human Rights

A exposição sobre Martin Luther King, Jr., com muitos dos seus documentos pessoais, torna-se um pouco secundária depois da visita ao MLK Historic District, mas pode ser um bom ponto de partida se ainda não tiverem tido uma introdução à vida e obra do ativista.

 

Dia 3 - Entre cemitérios, parques e bolas 

O final de tarde e a noite do último dia que teríamos em Atlanta já estava reservado para o jogo dos Braves, mas faltava preencher o resto do tempo. As opções eram inúmeras: afinal, a cidade é monstruosa, apesar do seu compacto centro. Uma das que mais me chamava era um passeio por Buckhead, zona histórica mas muito afastada do centro. Little Five Points, a zona trendy, também podia ser opção. No entanto, decidimos manter-nos fiéis às nossas raízes e tirar um dia para passear em parques (que não faltam por aquelas bandas).

Campa de Bobby Jones no Oakland Cemetery

O primeiro destino do dia foi o Oakland Cemetery. Fundado em 1850, é um espelho das muitas faces de Atlanta, sendo o local de sepultura de ilustres desconhecidos e de outros, mais famosos, como o golfista Bobby Jones ou a escritora Margaret Mitchell. Nas várias alterações que foi sofrendo, uma das mais drásticas foi a trasladação dos restos mortais de escravos e negros para uma zona distinta, e mais afastada, do cemitério. É só mais uma expressão da realidade de Atlanta.

São os carvalhos (oaks) que dão nome ao cemitério e trazem os maravilhosos esquilos que nos fazem companhia ao longo da caminhada. Só falta mais sombra, num dia de verão abrasador, para a visita ser fantástica.

Daí seguimos para o Ponce City Market, totalmente renovado e... totalmente hipster. A zona de restauração é imensa, mas não confusa - mesmo em plena hora de almoço - e permite-nos repor as calorias perdidas com o sol. O mercado é também um dos pontos de entrada no Eastside Trail, o primeiro troço do Beltline (um projeto que pretende dar a volta à cidade com um espaço pedonal e ciclável) a ficar concluído. É para aí que nos dirigimos - mas não sem antes experimentar o colorido piano que está à nossa disposição. Há mais um, mais à frente, à chegada ao Piedmont Park.

Escultura no Eastside Trail

Mais uma vez, o nosso maior problema com o Eastside Trail é a falta de sombras. Do Ponce City até ao Piedmont Park são menos de três quilómetros, mas o calor dificulta a tarefa de seguir por esta antiga linha ferroviária, agora requalificada. Quando finalmente chegamos, um banco de jardim à sombra parece quase um oásis.

O Piedmont Park é um dos maiores espaços verdes em Atlanta - uma cidade que não tem falta deles - e parece um local privilegiado para eventos. Localizado na zona da Midtown, tem novamente uma vista espetacular para o centro da cidade, que podemos conciliar com o imagens do enorme lago central. O problema? Um cheiro insuportável que nos obrigou a encurtar o passeio. Mais uma vez, o conselho: não visitem em setembro. 

Vista de Atlanta do Piedmont Park

Depois de uma mini-exploração da zona, seguimos para Cumberland, onde está situado o estádio dos Braves. A viagem de autocarro dura cerca de uma hora e leva-nos pelo meio do que parecem florestas com casas no meio. É uma visão da típica Atlanta, onde a maioria das pessoas mora, que não teríamos de outra forma.

O jogo dos Braves, sobre o qual vão poder ler noutro post, encerrou os nossos dias em Atlanta. E desta vez conseguimos ver um jogo ao ar livre sem acabar com um enorme escaldão no nariz. O único presente que levei de Atlanta foram duas picadas de mosquito que não vou querer reviver.

À porta do estádio dos Atlanta Braves

Ver NBA ao vivo: 30 orçamentos para 30 equipas

Ver um jogo da NBA é sempre uma festa

A fase regular da NBA começa a 16 de outubro. Para vos ajudar a organizar uma escapadela desportiva, reunimos os melhores orçamentos de viagens de avião, combinámo-los com jogos que sejam interessantes, e juntámos tudo para que vejam o que vos pode interessar. Afinal, confessem: quantos de vocês já sonharam em ir ver um jogo da NBA?

 

Philadelphia 76ers: em abril desde 568 euros de Lisboa (direto) e 575 do Porto

Filadélfia

São uma das equipas do futuro. Ben Simmons e Joel Embiid são já certezas e continua a haver a promessa Markelle Fultz, primeira escolha do draft de 2017. Em abril de 2019, o tempo já está mais agradável e há um jogo no dia 4 contra os Milwaukee Bucks. É também uma oportunidade perfeita para ver Giannis Antetokounmpo em ação. Há bilhetes a partir dos 25 dólares.

 

O orçamento de Lisboa é de 3 a 8 de abril com voo direto pela American Airlines. O do Porto é de 2 a 8, também pela American mas com escalas.

 

Toronto Raptors: em fevereiro a 338 euros de Lisboa e 332 do Porto

Vai ser estranho ver um jogo da equipa canadiana com Kawhi Leonard por isso não há melhor opção do que ver a nova estrela dos Raptors a receber a sua antiga equipa. O jogo com os Spurs está marcado para 22 de fevereiro e há bilhetes a partir dos 149 dólares. Dois dias depois há uma opção mais barata, contra os Orlando Magic, a partir dos 46 dólares.

 

Os orçamentos de Lisboa e Porto incluem voos da Delta de 21 a 26 de janeiro.

 

Boston Celtics: no final de janeiro desde 267 euros de Lisboa e 252 do Porto

Boston Celtics

Com LeBron James no Oeste, os Celtics assumem-se como a grande potência da conferência, sobretudo numa época em que já vão contar com Gordon Hayward e Kyrie Irving. A melhor parte? Há uma possível final antecipada no dia 26 contra os Golden State Warriors, com preços a partir dos 222 dólares. Se o esforço financeiro for demasiado grande, há sempre um jogo com os Nets no dia 28 a partir dos 33 dólares.

 

O orçamento de Lisboa é de 25 de janeiro a 1 de fevereiro, com voos da Iberia. Do Porto, as datas sugeridas são 25 a 29 de janeiro, também com voos da Iberia.

 

Brooklyn Nets: em janeiro, a partir de 342 euros de Lisboa e 372 do Porto

São adversários de conferência mas a rivalidade não tem sido grande coisa porque têm andado ambos pelas ruas da amargura. Ainda assim, o jogo com os Knicks não deixa de ser uma espécie de dérbi de Nova Iorque. Há bilhetes a partir dos 73 dólares no dia 25.

 

Os voos (para Nova Iorque) são de 24 a 29 de janeiro - pela American Airlines de Lisboa e pela Lufthansa do Porto.

 

New York Knicks: em fevereiro desde 333 euros de Lisboa e 393 do Porto

Nova Iorque

Todos os jogos do Madison Square Garden são especiais. Mas este promete ainda mais: Enes Kanter volta a estar frente-a-frente com Joel Embiid e os Sixers em véspera do Dia dos Namorados. Há melhor prenda do que esta? Preços a partir dos 80 dólares.

 

O orçamento com partida de Lisboa inclui voos da British Airways, de 12 a 18 de fevereiro, e o do Porto tem voos da Air France, de 12 a 17 de fevereiro.

 

Utah Jazz: em dezembro desde 796 euros de Lisboa e 855 do Porto

Se são adeptos dos Utah Jazz, o nosso respeito. Não só os jogos costumam ser tarde como chegar até lá de avião pode ser uma maratona… cara. Se forem corajosos, há um jogo contra os Miami Heat no dia 12 a partir dos 20 euros. Ah, e não se esqueçam: a beleza natural no Utah é fantástica. Podem e devem aproveitar, se conseguirem.

 

Os voos (para Salt Lake City) incluídos no orçamento para Lisboa são de 11 a 16 de dezembro, com a KLM, e para o Porto de 10 a 16 de dezembro com a British Airways.

 

Denver Nuggets: em janeiro desde 496 euros com partida de Lisboa e 507 com partida do Porto

Denver

Nikola Jokic é um fenómeno mas a equipa tem muito mais por onde pegar. Nesta semana de janeiro, há uma dupla oportunidade que deve ser agarrada: a mais barata no dia 13, contra os Blazers, a partir dos 29 dólares, e outra no dia 15 com os Warriors (oportunidade para ver Curry e Durant) a partir dos 49 dólares. As famosas Rocky Mountains não ficam muito longe e também pode valer a pena programar uma visita.

 

O orçamento inclui voos da United Airlines à partida de Lisboa, de 10 a 16 de janeiro, e da Lufthansa à partida do Porto, de 11 a 17 de janeiro.

 

Minnesota Timberwolves: em novembro desde 627 euros

É das oportunidades que estão mais perto do início da época mas há um jogo mesmo à medida no dia 24: contra os Chicago Bulls com preços a partir dos 38 dólares. De alguma forma, será um jogo semelhante ao meme do Homem-Aranha, em que muita gente dos Timberwolves passou por Chicago, inclusive o treinador Tom Thibodeau.

 

Um grande bónus mas muito caro? Uma das grandes rivalidades da NFL: Minnesota Vikings vs. Green Bay Packers a partir dos… 236 dólares. Vejam as coisas pelo lado positivo: o estádio é coberto e não estará tanto frio.

 

O orçamento para Lisboa inclui orçamentos da KLM, de 21 a 26 de novembro, e para o Porto tem voos da British Airways, de 22 a 27 de novembro.

 

Oklahoma City Thunder: em março, desde 739 euros (Lisboa) ou 773 euros (Porto)

Kevin Durant regressa ao Oklahoma com os Golden State Warriors no dia 16 e há bilhetes a partir dos 128 dólares. Se preferirem uma solução mais económica, dois dias depois é a vez do jogo contra os Miami Heat, a partir dos 46 dólares.

 

Os voos que incluímos para Lisboa são de 15 a 20 de março, pela American Airlines, e para o Porto de 14 a 19 de março, pela British Airways.

 

Portland Trail Blazers: em março desde 827 euros, com partida de Lisboa, ou 839 euros, com partida do Porto

Damian Lillard continua a ser a estrela de uma equipa que tenta fazer o que pode no meio dos tubarões do Oeste. No dia 23 de março há um jogo aparentemente mais fácil contra os Detroit Pistons de Blake Griffin. Bilhetes a partir dos 36 dólares.

 

Os voos para Portland (no Oregon) são de 20 a 26 de março, da American Airlines, desde Lisboa, e de 19 a 25 de março, da British Airways, do Porto.

 

Chicago Bulls: em março desde 433 euros (Lisboa) ou 475 euros (Porto)

LeBron James em Chicago... quando jogava nos Heat

Que tal ver LeBron James pelos Lakers na casa que viu Michael Jordan crescer e dominar o mundo? É possível, no dia 12 de março, a partir dos 108 euros. Mais uma vez, se o esforço for grande, há outra oportunidade, logo no dia 8, contra os Detroit Pistons de Blake Griffin a partir dos 40 dólares.

 

Os voos de Lisboa são da KLM, de 7 a 13 de março, e do Porto são da Iberia, de 8 a 13 de março.

 

Cleveland Cavaliers: em dezembro se voarem de Lisboa (525 euros) e fevereiro a partir do Porto (670)

LeBron James saiu novamente e com ele levou milhões de fãs. Mas há quem resista e veja em Colin Sexton uma nova promessa. Se a opção for viajar de Lisboa, há a possibilidade de ver dois jogos: Kings no dia 7 de dezembro a partir dos 11 dólares e Wizards no dia 8 a partir dos 14 dólares. Viajando do Porto em fevereiro, também há duas opções: o último jogo de Nowitzki em Cleveland pelos Mavericks no dia 2 a partir dos 19 dólares e o jogo dos Celtics no dia 5 a partir dos 23 dólares.

 

Bónus? Poderão ver um jogo de NFL dos Browns se voarem de Lisboa. No dia 9 a equipa que agora até já ganha um jogo de vez em quando recebe os Carolina Panthers. Há bilhetes a partir dos 44 dólares mas é possível que sejam forçados a investir muito mais em luvas, cachecóis, gorros, cobertores e casacos.

O orçamento à partida de Lisboa inclui voos para Pittsburgh, a menos de 3 horas de distância, de 6 a 12 de dezembro, com a Aer Lingus. Do Porto para o aeroporto de Cleveland, as datas sugeridas são de 31 de janeiro a 6 de fevereiro, com a British Airways.

 

Milwaukee Bucks: em fevereiro desde 422 euros, de Lisboa, ou 460, do Porto

Milwaukee

Os motivos para ir ver um jogo dos Bucks? Duas palavras apenas, com muitas sílabas e letras: Giannis Antetokounmpo. Do outro lado, apesar de uma conferência diferente, estarão os vizinhos Minnesota Timberwolves, no dia 23 fevereiro, com preços a partir dos 31 dólares.

 

A nossa sugestão inclui voos para Chicago (uma hora e meia de caminho) para ambas as cidades. De Lisboa, incluímos voos da KLM, de 20 a 25 de fevereiro; do Porto, voos da Iberia, de 21 a 26 de fevereiro.

 

Nota: esta foi uma viagem que já fizemos, na altura para ir ver um jogo de basebol a Milwaukee. A viagem pela Megabus pode ficar a menos de dez dólares se comprada com antecedência.

 

Detroit Pistons: em fevereiro a partir de 524 euros (Lisboa) ou 522 euros (Porto)

O tempo dos bad boys ou da geração de Chauncey Billups já lá vai mas há fãs que permanecem intactos e que agora até têm Blake Griffin como nova esperança. Foi a pensar nisso que pensámos no reencontro da estrela com os LA Clippers, no dia 2 a partir dos 44 dólares.

 

Os voos sugeridos são com a KLM, para as mesmas datas de Lisboa ou Porto: 31 de janeiro a 4 de fevereiro.

 

Indiana Pacers: em março desde 433 euros de Lisboa e 475 do Porto

Kevin Durant nos Thunder e Paul George nos Pacers... os tempos mudam

A troca que envolveu Oladipo e Paul George foi um dos negócios que marcou a temporada passada. Um ano depois, que tal ver o regresso do extremo dos Oklahoma City Thunder a Indianápolis, aproveitando ainda para confirmar o talento de Russell Westbrook? Há bilhetes a partir dos 32 dólares.

 

O orçamento inclui voos para Chicago (a três horas de distância) e para as mesmas datas tanto do Porto como de Lisboa: 13 a 18 de março. À partida de Lisboa são com a KLM, do Porto com a Iberia.

 

Nota: esta foi uma viagem que já fizemos, inclusivamente para ver um jogo entre Pacers e Thunder. A viagem pela Megabus pode ficar a menos de dez dólares se comprada com antecedência e a vista vale muito a pena.

 

Dallas Mavericks: em fevereiro, desde 672 euros de Lisboa e 684 do Porto

É a última época de Dirk Nowitzki e a primeira de Luka Doncic. A passagem de testemunho pode ser histórica e será uma excelente oportunidade para ver os dois em campo. Aliás, três excelentes oportunidades: no dia 6 contra os Hornets a partir dos 12 dólares, no dia 8 contra os Bucks de Antetokounmpo a partir dos 23 dólares e no dia 10 contra os Blazers a partir dos 22 dólares.    

 

Os voos incluídos são com a American Airlines, de Lisboa, de 6 a 11 de fevereiro, e com a United Airlines, do Porto, de 5 a 11 de fevereiro.

 

San Antonio Spurs: em março, desde 712 euros com partida de Lisboa e 646 euros do Porto

Já não há Tim Duncan. Nem Tony Parker nem Manu Ginobili. Até Kawhi Leonard abandonou o barco rumo ao Canadá. Mas enquanto houver Gregg Popovich, os Spurs terão sempre uma identidade forte, agora alicerçada na dupla DeMar DeRozan-LaMarcus Aldridge. Durante este período há três jogos: no dia 15 contra os Knicks a partir dos 22 dólares, no dia 16 contra os Blazers a partir dos 26 dólares e no dia 18 - só disponível para a viagem do Porto neste caso - contra os Warriors a partir dos 59 dólares (uma pechincha para ver Curry, Durant e companhia).

 

Os voos que sugerimos são de 13 a 18 de março com a American Airlines, para partidas de Lisboa, e de 14 a 19 de março com a British Airways, para partidas do Porto.

 

Houston Rockets: em janeiro desde 637 euros de Lisboa e 647 euros do Porto

James Harden é o MVP da fase regular e o estilo de Mike D’Antoni promete muito movimento, com ataques curtos. Há duas oportunidades neste período: no dia 16 contra os Nets a partir dos 36 dólares e no dia 19 contra os Lakers de LeBron James a partir dos 133 dólares.

 

Sugerimos voos de 14 a 21 de janeiro, com a American Airlines, de Lisboa, e de 15 a 21 de janeiro, com a KLM, do Porto.

 

New Orleans Pelicans: em março desde 496 euros (de Lisboa) ou 499 euros (do Porto)

Nova Orleães

Ponto prévio: este orçamento para Nova Orleães é muito bom e pode ser uma excelente oportunidade para conhecer a cidade. Dito isto, os jogos também são baratos e interessantes: no dia 8 contra os Toronto Raptors de Kawhi Leonard a partir dos 13 dólares e no dia 12 contra os Bucks de Antetokounmpo a partir dos 15 dólares. É das melhores ofertas entre as 30 propostas.

 

Outra vantagem? Em princípio não morrem de calor e a chegada dois dias depois do famoso Mardi Gras vai permitir fugir à confusão maior, mas ainda apanhar um grande ambiente de festa na cidade.

 

Os voos são com a American Airlines de ambas as cidades: de 7 a 13 de março de Lisboa e de 7 a 14 de março do Porto.

 

Memphis Grizzlies: em janeiro do Porto (754 euros) e em março de Lisboa (733 euros)

A dupla Mike Conley-Marc Gasol é uma das mais antigas da NBA mas está cada vez menos fiável, sobretudo por causa das lesões. Felizmente, os adeptos têm agora um jovem promissor com muito potencial: Jaren Jackson Jr. Se viajar do Porto, é possível ver o jogo contra os Spurs no dia 9 a partir dos 17 dólares; viajando de Lisboa, em março, há duas oportunidades: no dia 23 contra os Timberwolves a partir dos 17 dólares e no dia 25 contra os Oklahoma City Thunder de Westbrook e George a partir dos 38 dólares.

 

O orçamento inclui voos com partida de Lisboa de 21 a 26 de março, com a American Airlines, e com partida do Porto de 8 a 13 de janeiro, com a KLM.

 

Charlotte Hornets: em fevereiro desde 665 euros para voos de Lisboa e 663 para voos do Porto

Se são adeptos dos Hornets, os nossos parabéns. Não deve ser fácil. Por outro lado, arranjámos um período de dias capaz de vos brindar com quatro jogos bastante interessantes: no dia 22 contra os Wizards a partir dos 13 dólares, no dia 23 contra os Nets a partir dos 13 dólares, no dia 25 contra os Warriors a partir dos 72 dólares e no dia 27 contra os Rockets a partir dos 28 dólares. Seria uma barrigada da NBA por menos de 130 dólares.

Incluímos voos de 21 a 28 de fevereiro para ambas as cidades: de Lisboa, com a American Airlines; do Porto, com a British Airways.

 

Atlanta Hawks: em fevereiro desde 426 euros, de Lisboa, ou 460, do Porto

Atlanta

A equipa já viveu tempos melhores e está num processo de renovação mas Trae Young, Taurean Prince e John Collins formam um núcleo duro muito interessante para o futuro. Para o período em questão há três jogos: no dia 7 contra os Raptors a partir dos 37 dólares, no dia 9 contra os Hornets a partir dos 76 dólares e no dia 10 contra os Magic a partir dos 31 dólares.  

 

O orçamento inclui voos com a KLM ou Air France, de 6 a 11 de fevereiro para partidas de Lisboa e de 7 a 12 de fevereiro para partidas do Porto.

 

Orlando Magic: em janeiro, desde 478 euros de Lisboa ou 482 euros do Porto

Os Magic seriam a melhor defesa do mundo de futebol humano só a contar com os braços abertos de jogadores como Jonathan Isaac, Aaron Gordon e Mo Bamba. Além disso, também têm um talento capaz de fazer acreditar até os adeptos mais pessimistas. Para estas datas, poderão comprová-lo em duas oportunidades: no dia 18 contra os Nets a partir dos 21 dólares e no dia 19 contra os Bucks a partir dos 23 dólares.

 

Os voos que sugerimos são da KLM, de 17 a 23 de janeiro de Lisboa e de 17 a 21 de janeiro do Porto.

 

Washington Wizards: em abril, desde 451 euros de Lisboa ou 447 euros do Porto

Washington Wizards

Escolhemos abril porque, com sorte, vão aproveitar a fase do ano mais bonita da cidade, com as cerejeiras a florir e a tornar tudo mais espetacular. No pavilhão, têm duas opções: no dia 3 contra os Chicago Bulls a partir dos 15 dólares e no dia 5 contra os Spurs a partir dos 18 dólares. Possivelmente, também terão a oportunidade para ver jogos dos Nationals (basebol) e dos Capitals (hóquei no gelo).

 

Incluímos voos de 2 a 8 de abril com a KLM para ambas as cidades.

 

Miami Heat: em janeiro desde 391 euros de Lisboa ou 409 euros do Porto

É a época de despedida de Dwyane Wade. Se nunca o viram ao vivo, dificilmente haverá melhor oportunidade do que esta. No dia 10, há um duelo contra os Celtics a partir dos 59 dólares e no dia 12 contra os Grizzlies a partir dos 41 dólares.

 

O orçamento inclui voos da British Airways, de 9 a 14 de janeiro à partida de Lisboa, ou de 9 a 15 de janeiro à partida do Porto.

 

Phoenix Suns: em fevereiro desde 663 euros de Lisboa e 735 do Porto (neste caso, com um dia para aproveitar Boston)

Charles Barkley, Steve Nash… Devin Booker? Os novos Suns, já com DeAndre Ayton em época de rookie e Josh Jackson na segunda temporada prometem e poderão regressar aos tempos áureos em breve. Viajando do Porto, há a possibilidade de ver os Rockets de James Harden a partir dos 28 dólares no dia 4. De Lisboa, no dia 8, há um conflito de gerações, contra os Golden State Warriors, a partir dos 86 dólares.

 

Os voos incluídos são de 6 a 11 de fevereiro, de Lisboa, com a American Airlines e de 3 a 7 de fevereiro, do Porto, com a TAP.

 

Los Angeles Clippers: em abril desde 529 euros (Lisboa) ou 577 euros (Porto)

Los Angeles

O futuro dos Clippers é um grande ponto de interrogação e o próximo defeso promete ser agitado em Los Angeles. Já no final da fase regular, há duas excelentes oportunidades para ver um jogo: contra os Rockets de James Harden a partir dos 36 dólares e o dérbi contra os Lakers de LeBron James a partir dos 111 dólares. Com sorte, também será possível encontrar jogos de basebol dos Dodgers e de hóquei no gelo dos Kings.

 

O orçamento inclui voos da KLM de 2 a 8 de abril para ambas as cidades.

 

Sacramento Kings: em fevereiro desde 497 euros com partida de Lisboa e 504 do Porto

A equipa é uma enorme confusão e este ano não promete ser necessariamente melhor mas haverá Marvin Bagley III, segunda escolha do draft, para animar. E opções por estes dias não faltam: dia 2 contra os Sixers de Joel Embiid e Ben Simmons a partir dos 30 dólares, dia 4 contra os Spurs de DeRozan e Aldridge a partir dos 24 dólares, e dia 6 contra os Rockets de Paul, Harden e Carmelo a partir dos 42 dólares.

 

Os voos, para São Francisco (a uma hora e meia de distância), são para 31 de janeiro a 7 de fevereiro, com a KLM, de Lisboa, e para 1 a 7 de fevereiro, com a British Airways, do Porto.

 

Golden State Warriors: entre janeiro e fevereiro, a partir de 497 euros de Lisboa e 527 do Porto

Quem é que queremos enganar? São os Warriors, quase não importa quem está do outro lado porque vai ser sempre espetacular. Ainda assim, há duas opções de luxo: 31 de janeiro contra os Sixers a partir dos 144 dólares e 2 de fevereiro contra os Lakers de LeBron James a partir dos 305 dólares.

 

O orçamento inclui voos da KLM para ambas as cidades: de 30 de janeiro a 4 de fevereiro de Lisboa e 29 de janeiro a 4 de fevereiro do Porto.

 

Los Angeles Lakers: no final de janeiro desde 522 euros de Lisboa e 526 do Porto

LA Lakers

É Los Angeles, é o Staples Center, são os Lakers e há LeBron James. São mesmo precisos mais motivos? Pronto, nós damos: para quem viajar do Porto há logo os Suns a 27 de janeiro a partir dos 96 dólares; depois, para todos, há o jogo contra os Sixers a 29 de janeiro a partir dos 109 dólares. No dia 2, apesar de tecnicamente não estarem a jogar em casa, ainda há o dérbi com os Clippers a partir dos 122 dólares.

 

O orçamento inclui voos de Lisboa da KLM, de 28 de janeiro a 4 de fevereiro, e voos da United Airlines do Porto, de 26 de janeiro a 1 de fevereiro.


Nota: como sabem, o preço dos voos (e dos bilhetes dos jogos) pode sofrer várias alterações em curtos períodos de tempo. Estes preços são os que encontrámos à data da publicação deste texto - mas nada garante que daqui a 5 minutos não estejam mais caros ou mais baratos. As datas foram escolhidas para permitirem uma escapadela de 5 dias a uma semana fora do país, e as companhias indicadas são aquelas onde encontrámos o preço que publicamos - o que não quer dizer que o voo seja com essa companhia, podendo ser com uma (ou várias) parceiras.

Top-5 de Nova Orleães

A cidade do Louisiana na foz do Mississippi foi a primeira paragem a sério de uma viagem de dez dias pelo sul dos Estados Unidos que também incluiu Miami e Atlanta. Deixamos agora a lista do que achamos imperdível e que pode vir a servir de inspiração para uma futura viagem que decidam fazer.

 

(Also available in English)

 

1. Uma refeição de rua a ver o Mississippi

Fim de tarde no Mississippi

A gastronomia de Nova Orleães convenceu-nos tanto que quisemos fazer um best-of no último dia. Ao final da tarde, com o tempo mais agradável, fomos comprar um po' boy e uns beignets para nos podermos sentar à vontade num banco do passeio ribeirinho em frente ao Mississippi. Estávamos cansados, precisávamos de repousar as pernas e não podia ter sido melhor. É também uma forma perfeita de reviver os episódios passados em viagem.

 

2. Visita à Oak Alley Plantation

Oak Alley Plantation

A viagem demora cerca de uma hora mas compensa. A beleza natural é arrebatadora e propícia a excelentes fotografias. Mas a visita é muito mais do que isso: tem também uma forte componente cultural que nos ajuda a imaginar como era a vida no século XIX entre proprietários e escravos. Será difícil sair de lá sem gostar.

 

3. National World War II Museum

Gravura no WWII Museum

É um dos museus mais recomendados em todo o país e percebe-se porquê. Composto por vários edifícios, alia na perfeição as tecnologias digitais com o respeito pela história e pelo pormenor. Tem espaços específicos para o conflito do Pacífico e para o conflito europeu e um excelente pormenor de podermos acompanhar a história de um militar - do recrutamento à vida pós-guerra - que nos é atribuído logo no início da visita.

 

4. Passear no French Quarter

Fachada no French Quarter

Toda a gente já viu filmes rodados em Nova Orleães. A arquitetura é muito interessante e o ambiente parece ser sempre de festa. Sejam ou não propícios a grandes aventuras, devem pelo menos dar uma vista de olhos pela Bourbon Street e ruas adjacentes ao final de tarde.

 

5. Fazer toda a linha do elétrico da St. Charles Streetcar Line

Jardim da Universidade de Loyola

O passe diário custa três dólares e pode valer muito bem a pena. A linha do elétrico da St. Charles Streetcar Line é a mais famosa e tem muito mais turistas do que as outras. Além de facilitar a ida a pontos de interesse como o cemitério de Lafayette ou a Universidade de Loyola em Nova Orleães, é também um miradouro em andamento para toda a zona do Garden District.

Acordar para ir ver os New Orleans Saints

Mercedes-Benz Superdome

O despertador toca de manhã. É hora de ir para o jogo, profissional, de futebol americano. As duas frases juntas fazem confusão. O desporto profissional em Portugal, com natural destaque para o futebol, é cada vez mais uma modalidade virada para a noite. Mas ali, em Nova Orleães, a mais de sete mil quilómetros de distância de Lisboa, ainda não tínhamos tomado o pequeno-almoço e já pensávamos que não nos podíamos atrasar para o jogo que tinha início marcado para o meio-dia.

 

(Also available in English)

 

Atrasar nunca seria um problema. Por norma, gostamos de chegar bastante tempo antes e neste caso a vontade era ainda maior depois de todo o stress de quando fomos ver os New England Patriots. As portas da arena, historicamente importante por ter albergado milhares de pessoas durante vários dias durante o Katrina, abriam duas horas antes e nós estávamos preparados para isso.

A peregrinação até ao jogo

O transporte era praticamente direto desde casa. Havia um elétrico que parava a um quarteirão da arena e é impossível perdermo-nos quando há camisolas e adereços dos New Orleans Saints a cada metro. Vista de fora, a Mercedes-Benz Superdome parece uma obra de arquitetura futurista.

Arena vista de fora

O ambiente é de festa. Há bandas a tocar, mas o famoso tailgating deixa muito a desejar quando comparado com o Gillette Stadium. Afinal de contas, as pessoas tendem a ir de transportes para o jogo e os parques de estacionamento não são mais do que um pequeno espaço reservado a quem tem bastantes dólares para dispensar a troco de ficar a 30 metros da porta de entrada.

 

Fomos dos primeiros a mostrar bilhete. Foi simples: a lição estava aprendida e não houve surpresas desagradáveis como o famoso e desesperante episódio da mala de Foxborough. Há dezenas de elementos do staff espalhados pela arena que mostram toda a disponibilidade do mundo para tornar a nossa experiência ainda mais agradável.

 

Vamos diretos às cadeiras. Como procuramos sempre os bilhetes mais baratos, já sabemos que estamos num topo, perto das últimas filas. Quando lá chegamos, há pequenas toalhas – uma oferta muito usual no desporto americano – de incentivo à equipa. Olhamos em volta, absorvemos o espaço, tiramos algumas fotografias e… percebemos que talvez tenhamos chegado demasiado cedo.

 

Está na altura de ir conhecer o que a arena tem para nos oferecer, até porque ainda não comemos e queremos aproveitar a ausência de filas – por agora – para não ter de esperar muito. A oferta é variada e damos mais de uma volta à arena enquanto reunimos referências: há os habituais nachos e cachorros-quentes, mas também os batidos do Smoothie King (altamente recomendáveis) e sanduiches com salsichas de… crocodilo. Sim, às dez e meia da manhã.

 

Por esta altura, o burburinho é cada vez maior. As bancadas vão-se enchendo e vários jogadores vão aquecendo no relvado, ainda sem grande aprumo. Num dos ecrãs eletrónicos vamos assistindo à contagem decrescente até ao pontapé de saída, enquanto evoluímos de um “bolas, o que vamos fazer com tanto tempo?” para um “boa, já está quase!”.

 

O jogo, entre New Orleans Saints e Cleveland Browns, promete. Os Saints têm um tridente ofensivo de meter respeito, com Drew Brees, Alvin Kamara e Michael Thomas, enquanto os Cleveland Browns meteram fim a uma série de 17 derrotas consecutivas (mais de uma temporada na NFL) no fim-de-semana anterior. A equipa é jovem, tem muita gente com potencial mas insiste em vacilar nos momentos decisivos.

Drew Brees a preparar o ataque

A primeira parte foi uma desilusão. Houve poucos pontos, falta de inspiração e ataques descoordenados. O ambiente só ficava claramente escaldante quando os Saints conseguiam avançar dez jardas, soltando “Move dem chains!”como frase de guerra indicativa de nova fase de ataque ou quando se partia para o tradicional cântico associado aos Saints: “Who dat!”. A primeira experiência, logo no início do jogo, é esmagadora. A acústica é boa – não foi por acaso que Beyoncé deu lá um concerto na véspera da nossa chegada – e as vozes ecoavam naquela arena coberta.

 

Os Browns ameaçaram uma surpresa – Tyrod Taylor fez um passe para touchdown praticamente do meio-campo já nos instantes finais - mas os Saints fizeram um último drive decisivo que garantiu o triunfo graças a um field goal. Para a história, fica o desacerto do kicker dos Browns, que falhou quatro pontapés (dois após touchdowns e dois field goals) e impediu o triunfo da equipa de Cleveland. Resultado? Foi dispensado no dia seguinte.

Zane González teve um início de tarde para esquecer

Para nós, o que contou foi a experiência, mas houve quem tenha achado que estávamos pelo… inimigo. Por acaso, a Sarah estava com uns calções de tom alaranjado (eram vermelhos mas… muitas lavagens depois não há milagres) que se podiam confundir com as cores dos Browns. Na casa-de-banho, já depois do final, uma mulher abordou-a exatamente por isso: “Que cor é essa dos calções? Aqui nós somos pretos e dourados!”.

 

Tudo com fair-play, claro está. A vitória estava garantida e a pontinha de maldade que queria fazer mostrar não era mais do que uma brincadeira. A parte estranha? Quando saímos, ainda tínhamos metade do dia para aproveitar. Americanices...

Uma manhã na Oak Alley Plantation

A selfie da praxe

"Vão agora passar a Laura Plantation à vossa esquerda... e vão ver por que é que fizeram a escolha certa."

 

As palavras de Rick, o motorista que nos levava até à Oak Alley Plantation e que tinha acabado de deixar metade do nosso grupo numa plantação diferente, deixaram-nos em suspenso. Que raio haveria de especial em Oak Alley para que aqueles campos de aloé e cana de açúcar, que víamos ali ao lado, ficassem tão obviamente para segundo plano?

 

(Also available in English)

 

A Oak Alley Plantation é uma antiga plantação de cana de açúcar, mandada construir no século XIX por Jacques Roman e que hoje mostra bem o que foi a relação entre as grandes famílias do Louisiana e os seus escravos. Nos tours, de cerca de uma hora, somos levados a conhecer a história da família, mas também um pouco do que era a vida dos escravos naquela casa. Fora da "big house", foram reconstruídas as antigas habitações de madeira onde pernoitavam, e há espaço para mais exibições sobre o assunto.

Habitações onde os escravos dormiam

Mas a verdade é que, por mais interessante que a história da casa seja - e é, além de ser um verdadeiro murro no estômago -, não é isso que faz a diferença. Na mesma zona há outras que podem ser visitadas, cada uma com a sua peculiaridade: a Laura Plantation ou a Houmas House Plantation são apenas algumas das suas opções.

 

O que faz verdadeiramente valer a pena a visita até à Oak Alley, e daí termos "escolhido bem", é a sua... oak alley, ou Avenida dos Carvalhos (mais ou menos, vá). Ao todo, são 28 carvalhos com mais de 200 anos que foram transplantados para a sua localização atual. Do primeiro andar da mansão tem-se uma vista inacreditável sobre esta "avenida", e nem a estrada ao fundo do túnel estraga a oportunidade para a fotografia. Dizia uma das anteriores donas que é a "vista mais bonita do Louisiana" - se não é verdade, queremos ver a concorrência.

Visa da varanda do primeiro andar

Mesmo num dia com várias excursões, conseguimos ter o espaço bastante vazio. E a verdade é que as pessoas que lá estão e visitam o espaço, e a forma como interagem com ele e com os outros, também são parte da experiência. É tão interessante para nós reagirmos ao que estamos a ver como vermos a reação dos outros ao passearem pelos jardins e pelos casebres, ao ouvirem a história de como foi construída aquela casa. 

O sino que comandava toda a rotina da plantação

Não são permitidas fotografias no interior da mansão, o que só nos deixa uma alternativa: recomendar que a visitem, em qualquer viagem a Nova Orleães. O caminho até lá, desde a cidade, demora cerca de uma hora - se não tiverem um carro à disposição, há várias operadoras turísticas que vendem excursões, que já incluem o preço do bilhete.

 

E mais uma dica: aproveitem o jet lag com que certamente vão chegar aos Estados Unidos, se viajarem da Europa, e marquem a excursão para bem cedo. Mal por mal, vão estar acordados de qualquer forma, e ainda evitam multidões.

Quatro dias em Nova Orleães sem engordar (demasiado)

French Quarter

A nossa dinâmica em viagem é muito complementar e, assim que definimos um destino, sabemos perfeitamente o que cada um deve procurar. Eu faço muito menos - normalmente limito-me a descobrir que eventos desportivos estão marcados para aquele período. A Sarah faz muito mais, vê atrações culturais e sítios para comer, transformando o Google Maps numa ferramenta com mais estrelas do que a Via Láctea.

 

(Also available in English)

 

Ela gosta desse trabalho mas nem sempre foi assim. Por termos apetites tão diferentes – e por diferentes entenda-se que eu sou capaz de levar qualquer pessoa ao desespero por raramente ter fome -, teve alguns dissabores no passado, com indefinições sobre o local e o momento para comer. Começar a procurar os sítios como trabalho de casa foi uma manobra de sobrevivência inteligente que melhorou em muito a dinâmica das viagens.

 

E por que é que tudo isto interessa? Porque para Nova Orleães, pela primeira vez, fui assaltado por uma sensação de apetite voraz. De achar que aquilo que mais me estava a atrair na cidade da foz do Mississippi era a comida. O problema? Não fazia ideia do que era a comida tradicional do Louisiana: não tinha memória de alguma vez ter ouvido falar em po’ boys, nos beignets do Café du Monde ou em gumbo e jambalaya. A razão é muito mais parva e está no filme Chef (2014) de Jon Favreau. Em poucas palavras, é a história de um chefe conceituado que perde as estribeiras e decide recomeçar do zero com uma caravana de comida. Começa em Miami e a segunda paragem é Nova Orleães.

 

Cometi a proeza de ver o filme duas vezes (na segunda com a Sarah) e passei a associar Nova Orleães a boa comida – deixem-me, tenho a certeza que há gente mais esquisita do que eu.

 

Quatro dias com a rota gastronómica na cabeça

Beignets do Café du Monde

Nova Orleães é uma cidade magnífica. Ainda assim, o calor intenso e a humidade elevada tornaram os passeios pelas ruas muito difíceis e percebemos isso logo na primeira madrugada, ao aterrar. Aproveitando o jet lag, decidimos reservar uma visita à Oak Alley Plantation (um dos sítios imperdíveis da cidade e arredores) para a manhã do primeiro dia.

 

O ponto de encontro era num hotel não muito longe do Café du Monde e, de forma espontânea, decidimos comprar o pequeno-almoço (os famosos beignets) lá, enquanto esperávamos pelo shuttle que nos ia levar naquela viagem de cerca de uma hora.

 

A vibração da cidade sente-se mesmo quando não há quase ninguém na rua. No caminho desde a casa em que ficámos até ao tal hotel, atravessamos o French Quarter e está tudo ainda em fase de limpezas. Os bares estão abertos, há mangueiras na rua e o cheiro pode não ser o mais agradável, mas não há como fugir ao caráter festivo de uma cidade que se distingue das outras por não ter “last call” para o álcool.

 

Pensámos que a visita à Oak Alley Plantation, uma quinta-museu que pertenceu a uma família francesa e que explica na perfeição como era a relação entre os proprietários e os escravos numa plantação de açúcar, ia ocupar grande parte do dia mas regressámos a tempo de almoçar e preencher a tarde com o que nos apetecesse.

Uma casa de escravos na Oak Alley Plantation

Escolhemos o World War II Museum. É caro mas dificilmente se consegue encontrar um sítio no mundo que mostre, com este nível de detalhe e rigor, daquilo que se passou. Não somos grandes fãs de museus (embora toda esta viagem possa apontar para o oposto) mas fomos surpreendidos por algumas das inovações oferecidas. A arrancar, entramos numa carruagem que simula aquelas que levavam os norte-americanos para o treino após o recrutamento e somos associados a um militar que nos vai acompanhar até à saída.

 

Fiquei com Jimmie Kanaya, um norte-americano com pais japoneses, que sofreu na pele a origem da família depois do ataque a Pearl Harbor. Em cada momento do museu, fui convidado a passar o meu cartão em máquinas designadas para saber como evoluiu Jimmie durante aquele período: do treino ao destacamento, passando pela fase que teve como prisioneiro de guerra, a libertação e a vida depois do fim do conflito.

 

É claro que as figuras foram escolhidas a dedo para serem as mais interessantes mas esta associação logo a abrir faz-nos sentir que cada visita é única e que a minha experiência será sempre diferente da da Sarah ou da dos outros visitantes entre nós.

 

O museu é enorme, composto por vários edifícios, e põe a nu a perspetiva muito europeísta com que nós aprendemos a história na escola. Se a exibição do conflito europeu serve mais para relembrar fases do que para descobrir, a evolução do conflito no Pacífico é muito mais do que aquilo que, numa forma redutora, podemos associar apenas ao bombardeamento de Pearl Harbor por uns japoneses que apareceram armados em maus e os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki.

 

Uma figura do Katrina surge do nada

 

Depois de um primeiro dia mais ocupado, reservámos o segundo para conhecer a cidade e, sem prever, uma das suas figuras. Durante um passeio no French Quarter, reparámos numa enorme fila de pessoas para entrar numa loja.

 

A curiosidade jornalística (vá, talvez aqui o melhor termo seja cusquice) levou-me a ir ver o que se passava e confirmei que a fila tinha uns 40 metros e que quem saía da loja vinha com um sorriso de orelha a orelha por ter acabado de comprar uns… ténis dourados que a Nike tinha desenhado exclusivamente para Nova Orleães. A euforia era tanta que uma rapariga ofereceu-se para abrir a caixa e mostrá-los depois de me ter visto a tirar uma fotografia.

 

É neste momento que sou abordado por um homem cinquentenário que se prepara para subir para a sua bicicleta. «Queres saber uma coisa estranha?», pergunta-me, apesar de eu só ter percebido à segunda. «Há uma bicicleta minha no Newseum», continua, enquanto aponta para a t-shirt que eu tinha vestida, precisamente do museu de Washington, com a inscrição «Will write for food». É nesta altura que me explica que também é jornalista e que na altura do Katrina foi com um colega de bicicleta até ao sítio em que descobriu que um dos diques que protegia a cidade tinha cedido, ajudando a espalhar a informação e a evitar que a tragédia fosse ainda maior.

Parque do outro lado da Universidade de Loyola

O episódio, inesperado, chegou para perceber que em Nova Orleães não é preciso pedir licença para abordar alguém na rua. Entendi rapidamente também que t-shirts com inscrições (aquela não foi a única abordagem do dia) são um chamariz. Mas às vezes nem é preciso isso: mais tarde, quando íamos à procura de um po’ boy que a Sarah tinha nas recomendações, já depois de fazermos toda a linha do elétrico mais turístico (St. Charles Line) e de termos passado uns minutos no parque em frente à Universidade de Loyola de Nova Orleães, fomos a última alternativa de alguém que precisava de toda a ajuda que pudesse arranjar para carregar um órgão estragado, que alguém tinha deitado fora, entre o porta-bagagens do carro e a cave.

 

Tudo ali pareceu estranho. Não fomos capazes de dizer que não – mesmo que o esforço nos tenha deixado ainda mais suados num dia por si só capaz de fazer isso, mesmo que estivéssemos parados – e ficámos ali mais de meia hora a tentar encontrar uma solução, com mais cérebro do que força nos braços. Por fim, o vizinho militar da rapariga apareceu e tornou tudo mais simples, libertando-nos, suados, com arranhões, peles levantadas, nódoas negras e com pedaços de madeira por todo o lado, para o tal po’ boy que ficava já ao fundo da rua daquela zona residencial.

Po' boy de camarão

Acabámos a comer ao mesmo tempo em que LSU, a equipa universitária mais famosa de futebol americano do Louisiana, jogava contra um dos seus maiores rivais (Auburn). Não vimos o jogo todo, mas o triunfo in extremis com um field goal a terminar o encontro foi celebrado por toda a cidade, continuando a ser tema de conversa no dia seguinte, durante o jogo dos New Orleans Saints.

 

Uma aventura de uma ponta à outra (quase) na Canal Street

 

Depois do jogo dos Saints no domingo, a nossa agenda ficou completamente livre para fazermos o que quiséssemos. Normalmente esta é a altura em que percorremos a pé o que ainda não conhecemos, repetimos os locais que mais gostámos.

 

A conversa da véspera ainda ressoava na minha cabeça e estranhei que não houvesse qualquer memorial ou museu relacionado com o Katrina. A Sarah não tinha descoberto nada nas pesquisas que fez e eu decidi armar-me em herói pesquisando no Google Maps. Resultado: há um Katrina National Memorial Museum perto da Canal Street mas já muito afastado da zona mais movimentada.

 

Convenci a Sarah a fazer o caminho (a pé, péssima ideia) e quando lá chegámos percebemos por que razão ela não tinha encontrado nada: era um espaço residencial e parecia não ser mais do que uma pequena associação na casa de uma pessoa. Percebi (uma vez mais!) nesse momento que fazer as coisas por impulso nem sempre corre bem e resignámo-nos a regressar ao centro de elétrico.

Elétricos na Canal Street

A Canal Street é a principal artéria da cidade. Talvez se possa dizer que é como a Avenida da Liberdade, plana, mas com o centro reservado para as linhas do elétrico e para as palmeiras que dão um toque tropical à cidade. Os elétricos são uma excelente opção para ver a rua de uma ponta à outra (os três dólares de passe diário valem bem a pena) e fazer a ligação a pontos de interesse mais distantes.

 

Numa das pontas, há um centro comercial junto ao Mississippi, com vista para uma das pontes mais facilmente reconhecíveis; na outra, dependendo do elétrico que se apanha e já com um pequeno desvio, há o City Park, perfeito para dar um pequeno passeio e aproveitar o jardim das esculturas, gratuito, do New Orleans Museum of Art.

 

Favores em cadeia

 

Uma vez mais, a visita teria sido muito mais simpática se o calor e a humidade não estivessem tão insuportáveis, mas é suficiente para perceber o encanto do parque. Para regressar, na pequena “escala” que fazemos na Canal Street para trocar para o elétrico que nos vai levar a casa, somos alvo de mais uma abordagem popular na paragem.

 

Uma mulher afro-americana, possivelmente já na casa dos 70 anos, sai connosco e carrega consigo um enorme saco de plástico preto que parece transportar toda a sua roupa. O motorista indica-lhe qual é o autocarro que tem de apanhar, do outro lado da rua, e abandona-a à sua sorte. Nós sentamo-nos. Menos de um minuto depois, vem ter connosco e pede-me para a ajudar a levar o saco até à paragem do outro lado. O nosso novo elétrico já estava no cruzamento mas seria impossível dizer que não, mesmo que o seu inglês fosse muito difícil de compreender. Os estrangeiros costumam dizer que nós, portugueses, sabemos receber turistas como ninguém e agora, em Nova Orleães, parecíamos estar a querer cumprir a tradição, tão longe de casa e com os locais.

 

Não consegui perceber se a mulher era sem-abrigo. Pareceu-me mas não senti capacidade para fazer conversa. A falta de dentes (ou mesmo de uma dentadura) tornava as suas indicações sobre o sítio onde queria que deixasse o saco mais impercetíveis. Percebi o agradecimento, comprovei o alívio nos olhos, mas nada mais do que isso. Quando voltei, o elétrico já tinha fugido. Foi então que a Sarah me contou o que outro homem tinha feito por nós. Ao assistir a toda a situação, percebeu que o favor feito ia fazer com que perdêssemos o elétrico. Entrou, falou com o motorista e explicou a situação. A Sarah contou-me que fez o possível. Que o elétrico adiou o mais possível o arranque e, mesmo já depois de andar, fê-lo da forma muito lenta, tentando ver se eu já estava de regresso. Não cheguei a tempo mas fiquei feliz ao saber a história, como se estivesse a fazer parte de uma cena do filme Favores em Cadeia (Pay it Forward) de 2000.

 

Fechar com a chave de ouro

 

O plano inicial tinha reservado a visita ao museu da II Guerra Mundial para o último dia. Como esse capítulo já estava riscado do livro de viagem, tivemos oportunidade para fazer aquilo que mais gostamos: estar na cidade como um local, repetindo os sítios que mais gostando e criando a nossa própria rota gastronómica.

 

Fomos tomar o pequeno-almoço ao Café du Monde – desta vez com direito a estarmos sentados numa cadeira (ao fim-de-semana é praticamente impossível mas num dia da semana, chegando cedo, é fazível) – e depois disso seguimos para o centro comercial que fica na margem esquerda do Mississippi. Não para comprar alguma coisa, mas sim para estarmos na esplanada que tem com uma vista privilegiada sobre o rio.

Jambalaya e dois tipos de gumbo

Quando chegou a hora do almoço, fomos finalmente experimentar jambalaya e dois tipos diferentes de gumbo. Passava pouco do meio-dia e a empregada enganou-se no nosso perfil. Ali, tão perto da Bourbon Street, meio-dia é quase de madrugada e quem está acordado tem uma grande probabilidade de estar a recuperar do que bebeu durante a noite. Depois de uma pequena brincadeira – inocente – de dizer que a Sarah estava com uns grandes reflexos mesmo de ressaca (pela forma como conseguiu segurar a máquina fotográfica, impedindo-a de se escancarar no chão), disse-nos que o que tínhamos pedido era mais do que suficiente para aquela “hora da manhã”.

 

A dinâmica deste dia foi diferente. Em vez de continuarmos na rua até ficarmos cansados, decidimos explorar um pouco mais a zona do French Quarter, espreitar as montras de lojas e vudu, antes de irmos para casa dormir um pouco. Só voltámos a sair ao final da tarde, quando o sol já não nos batia de cima e o tempo estava ligeiramente mais agradável. O plano estava definido: passar por uma mercearia recomendada para comprar um po’ boy de camarão, ir até ao Café du Monde buscar beignets (sim, outra vez!) e seguir para o passeio junto ao Mississippi enquanto comíamos.

Foto de despedida no Mississippi

Fechámos o dia e a estadia em Nova Orleães de forma perfeita. Pela primeira vez o calor tinha deixado de ser insuportável, corria uma brisa agradável, as cores pareciam perfeitas e estávamos a comer o que mais tínhamos gostado. Deixou saudades exatamente por isso. De fora destes dias ficou uma exploração mais intensiva ao "Cajun country", a zona tradicionalmente francesa do Louisiana, e aos seus pântanos - as temperaturas (e o medo de jacarés) falaram mais alto.

 

Ah, e sim, é possível passar quatro dias em Nova Orleães sem engordar. Parece que andar uma média de nove, dez quilómetros por dia com aquele tempo consegue anular quaisquer excessos que cometamos a comer. Impossível ser melhor.