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Ver um jogo dos Celtics com direito a um brinde especial

Celtics bateram o recorde de triplos contra os Bucks

Comprámos os voos para a última viagem que fizemos a Boston na noite de 28 de agosto depois de menos de dez minutos de debate. A partir do momento em que vimos os preços dos bilhetes para o fim-de-semana alargado de 1 a 4 de novembro, não hesitámos e seguimos em frente.

 

Não houve hesitações. Sabíamos ao que íamos e não tínhamos dúvidas mas houve um impulso que nos fez ter ainda mais a certeza que queríamos mesmo ir naquelas datas: logo no dia 1, poucas horas depois de chegarmos, havia um jogo entre os Celtics e os Milwaukee Bucks, do fenómeno Giannis Antetokounmpo. Não precisávamos de desculpa mas ter um cartaz destes à nossa espera só nos fez avançar com mais confiança – mesmo que a Sarah continue a não achar grande piada ao basquetebol.

 

O jogo estava marcado para as oito da noite e o nosso voo, salvo grande atraso, aterrava no Logan entre as duas e as três. Numa outra cidade, a proximidade das horas poderia vir a ser um problema, mas Boston é mais amigável neste aspeto. Sim, demoramos sempre algum tempo a passar no controlo, mas chegar a casa demorou apenas alguns minutos.

 

Olhámos para o relógio, fizemos contas ao tempo que precisávamos e iniciámos a nossa romaria na direção do TD Garden. Parafraseando Rui Veloso, tínhamos praticamente todo o tempo do mundo. Ao sair de casa, em vez de apanharmos diretamente o metro, preferimos ir a um parque junto à baía para ver Boston de uma perspetiva que ainda não conhecíamos, e só depois fomos em direção ao pavilhão.

Uma vista exterior do TD Garden

O TD Garden é um dos pavilhões da NBA que abre as portas mais em cima da hora do jogo: apenas 60 minutos antes. Deu tempo para tirar algumas fotos no exterior e ir para a estação de comboios – que fica no andar de baixo do pavilhão – comer alguma coisa enquanto víamos o tempo a passar. Pelo meio, aproveitámos também para ir à loja da equipa, onde estava Jackie MacMullan. Para quem não sabe, é uma jornalista muito conceituada que trabalha no meio há décadas e já recebeu uma distinção da Hall of Fame do basquetebol. Estava lá a autografar o seu último livro, que eu até tinha comprado… em Miami, umas semanas antes, e deixado em Portugal. Má sorte.

 

Experiência especial… de todas as vezes

Chegar primeiro não deu direito a brinde...

Fomos dos primeiros a entrar no pavilhão. Havia apenas algumas dezenas de pessoas e, em vez de irmos logo para os nossos lugares (praticamente no topo, como sempre, porque são os mais baratos e porque não faz assim taaaaanta diferença no momento de ver o jogo), decidimos optar pela «estratégia-Saints». Em Nova Orleães, antes do jogo da NFL, ainda não tínhamos comido naquele dia e decidimos ver todas as ofertas disponíveis.

 

Foi o que fizemos no TD Garden. Não necessariamente para comer, mas para saber que hipóteses teríamos quando o apetite chegasse. A oferta não foge muito ao habitual num evento desportivo nos Estados Unidos: há cachorros, hambúrgueres, cerveja, muitas bebidas com gás, pipocas. Além disso, há sempre espaço para as pequenas salas com artigos desportivos da equipa.

 

Quando entrámos no nosso setor, ficámos uma vez mais boquiabertos com a história que aquele pavilhão representa. Inaugurado na década de 90, só viu ainda um título dos Celtics (2008) e um dos Bruins (2011) mas o teto transporta-nos para uma história ainda maior. É lá que estão os cartazes comemorativos de cada um dos 17 títulos da equipa de basquetebol, dos seis da equipa de hóquei no gelo, e dos inúmeros números que cada equipa já retirou em homenagem aos seus melhores jogadores. Olhando para ali, fica difícil achar que ainda há espaço para o próximo.

Banners dos títulos dos Celtics ocupam muito espaço

Os minutos que se antecedem à bola ao ar são sempre interessantes. As bancadas começam a encher-se de gente: familiares, amigos ou praticamente desconhecidos que têm nos Celtics um denominador comum. Foi o que aconteceu na fila imediatamente à frente da nossa com um grupo de sete ou oito homens com aspeto universitário. Da conversa inicial de ocasião, passaram a falar como se fossem amigos de longa data e, curiosamente, havia dois que condiziam com camisolas de Larry Bird, o histórico jogador de basquetebol. Havia uma diferença: um tinha-a com as cores dos Celtics, o outro tinha trazido a camisola dos tempos da universidade (Indiana State).

 

O espanto com um fenómeno grego

 

Boston é uma cidade com uma grande comunidade grega mas, ao contrário do esperado, nem se viram muitos a acompanhar a exibição de Giannis Antetokounmpo, o grego de origem nigeriana dos Bucks que está a tomar a NBA de assalto.

 

Por outro lado, não é preciso ser grego para admirar o que consegue fazer em campo e como parece diminuir qualquer rival que lhe faça frente. Ver Giannis jogar ao vivo consegue ser uma experiência tão sublime como apreciar Kobe Bryant, Tom Brady ou LeBron James. A sensação de sabermos que estamos a ver alguma coisa especial é única e fazemos o possível para guardar aquele momento… mesmo que estejamos claramente a torcer pelos Celtics.

 

O jogo foi histórico. Os Celtics venceram – apesar da reação de Milwaukee na parte final, depois de terem entrado para o último período a vencer por 15 – e fixaram um novo recorde de equipa: 24 triplos conseguidos. Do lado dos Bucks, Giannis Antetokoumpo, que até era para não jogar depois de ter sofrido uma pancada na cabeça no início da semana, marcou 33 pontos e mostrou tudo o que é capaz de fazer.

 

O entretenimento fora do jogo

Red Sox foram convidados especiais

Uma partida pode ter descontos de tempo e intervalos mas o espetáculo não. Não há liga no mundo tão profissionalizada na altura de ocupar os tempos mortos e os Celtics são fiéis a um conjunto de ações que repetem religiosamente. É claro que há os mais óbvios, como as danças das cheerleaders e os afundanços de um grupo que envolve a mascote da equipa (Lucky), mas depois, a cada jogo, é também homenageado um “herói” entre a população.

 

A iniciativa chama-se “Heroes among us” e pretende distinguir ações de pessoas desconhecidas que tenham feito a diferença na comunidade. Naquela noite, destacou-se uma criança que tinha estado internada na ala oncológica de um hospital pediátrico e que se tinha apercebido da falta de brinquedos. Depois de ter alta, decidiu doar uma boa parte dos seus para que as outras crianças tivessem com que brincar.

 

O ponto forte daquele dia foi, ainda assim, quando o treinador e alguns jogadores dos Boston Red Sox apareceram surpreendentemente para mostrar o título de campeões de basebol que tinham conquistado quatro noites antes. Para nós, não podia ter sido melhor. Depois de termos comprado a viagem, começámos a fazer contas à possibilidade de a festa de um eventual título poder ser celebrado connosco na cidade, mas os Red Sox trocaram-nos as contas e conquistaram a World Series cedo demais.

 

A verdadeira festa, com milhares de pessoas nas ruas, foi na terça-feira e nós só chegámos na quinta. Mas vê-los ali, juntamente com mais 20 mil pessoas nas bancadas, a festejar cada momento em que um jogador diferente erguia o troféu foi uma excelente consolação, sobretudo quando ainda não tínhamos recuperado a 100% do drama que tinha sido passar uma madrugada inteira a ver um jogo que demorou sete horas e vinte minutos e só acabou às oito e vinte da manhã… com uma derrota!

 

No final, tudo correu de forma perfeita. Os Red Sox foram campeões, foram ao pavilhão mostrar o troféu connosco lá dentro e os Celtics ganharam. Não havia melhor maneira de começar esta viagem a Boston.

Fenway Park é uma experiência para qualquer altura do ano

 

Não há absolutamente razão nenhuma para ir a Boston e não visitar o Fenway Park. Se gostarem de basebol, nem preciso de vos dizer nada. Se gostarem de desporto mas não de basebol, reconhecem a importância de estar numa das mecas de uma modalidade, seja ela qual for. Se gostam de conhecer por dentro as cidades que visitam, percebem que o Fenway Park é um símbolo de Boston. Se só viajam para fazer compras… há uma loja maior do que alguns hipermercados com todo o tipo de adereços dos Red Sox.

 

É incontornável. Não vos vou dizer que a história de Boston e dos Red Sox se confunde – isso seria uma enorme hipérbole – mas não há dúvida que a história da equipa de basebol nos últimos 100 anos é também – e muito – uma parte da história de Boston.

Fenway Park

O estádio foi inaugurado em 1912 e é o mais antigo da Major League Baseball. Ao contrário das construções mais recentes, mais preocupadas com o conforto e com grande lotação, o Fenway Park é famoso pelas suas peculiaridades. Boston sabe-o bem e é por isso que há sempre uma boa desculpa para estar lá dentro e conhecê-lo o melhor possível.

 

Há três opções: fazer o tour, como nós fizemos em abril de 2017 depois de termos percebido que o nosso jogo tinha sido adiado por causa da chuva e não teríamos uma segunda oportunidade, ver um jogo (fase regular vai do final de março ao final de setembro) ou… fazer as duas coisas.

 

É mais caro, claro, mas acho que compensa. No tour, visitamos zonas que seriam impossíveis de outra forma e aprendemos muito sobre o passado; no jogo, absorvemos o ambiente de um estádio praticamente sempre cheio – por ser dos mais antigos é também dos que tem menor lotação.

 

As peculiaridades do estádio

 

A visita começa na enorme loja do outro lado da Yawkey Way. Depois de uma breve apresentação – dizer que somos de Portugal, onde quer que seja, gera sempre um grande entusiasmo e curiosidade – entramos no estádio e vamos direitos ao balneário da equipa visitante.

 

É uma volta rápida e, subitamente, começamos a mergulhar na história dos Red Sox, muito baseada no sofrimento sentido durante o jejum de 86 anos sem títulos (entre 1918 e 2004). Cada paragem nas instalações é um motivo para falar de um tema diferente.

Cadeiras originais do estádio

Sentamo-nos num dos setores da bancada para recordar quão velho o estádio é, com aquelas cadeiras de madeiras originais, tão pouco confortáveis, mas que merecem destaque por estarem ali, sem serem substituídas, há mais de 100 anos. Visitamos a zona de imprensa para perceber melhor a dinâmica com os jornalistas e o apertado código de vestuário, passamos pelo Green Monster (a enorme muralha do lado esquerdo do campo que é possivelmente a parte de um estádio mais famosa de todo o basebol nos EUA), falamos sobre a isolada cadeira vermelha que representa o home run mais longo alguma vez batido naquele estádio e ficamos a saber que há uma horta biológica e painéis solares num pequeno terraço do estádio.

 

Aquela hora e meia é um conjunto de lição histórica com lição desportiva, associando sempre os grandes momentos dos Red Sox aos problemas de gestão do clube e a forma como foi evoluindo até se tornar um exemplo de sucesso. Os bilhetes para a visita custam vinte dólares.

Quando chove não há jogos, mas há tours

 

Ver um jogo dos Red Sox ao vivo

 

A zona do Fenway Park em dias de jogo ganha uma vida radicalmente diferente. Os bares nas imediações começam a encher muitas horas antes, a loja tem mais movimento e o aparato policial assinala que aquele não é um dia qualquer. Cá fora, há vendedores ambulantes de todo o tipo, barraquinhas com mais opções e homens que nos abordam na rua a perguntar se queremos comprar ou vender bilhetes para o jogo.

As ruas em redor do Fenway Park enchem-se nos dias de jogo

Há não muito tempo, os jogos no Fenway Park estavam sempre esgotados e comprar bilhete era uma missão mais complicada – embora nunca impossível. Sites como o StubHub ou o SeatGeek ajudam a garantir a presença na bancada meses antes de fazermos a viagem, tornando tudo mais tranquilo.

 

Quando entramos no estádio em modo de jogo, é impossível não reparar nas diferenças em relação à visita. Há mais vida, mais calor, mais ruído. A azáfama é enorme e ninguém pára. Há filas para passar o bilhete, para a casa-de-banho, para a loja e para comer. Só não há filas para sentar porque não calha… e porque nós vamos sempre com as galinhas.

 

Há bilhetes a preços simpáticos, perto dos vinte dólares, mas é possível gastar muito mais se quisermos ser importantes e ir para perto da ação. O mais complicado é mesmo garantir lugares no Green Monster. Podem não ser tão caros como os que estão junto dos bancos, mas a procura é muito maior do que a oferta e a antecipação é peça-chave para a compra.

O Green Monster de Fenway Park

No nosso caso, quando fomos em setembro ver o jogo com os Blue Jays de Toronto, quisemos ficar num sítio com boa visibilidade para a ação e não muito longe do Green Monster. Calhou-nos uma bancada familiar, chamada assim por ser proibido o consumo de álcool – peculiaridade que muitos ignoram, passando depois pela vergonha de serem repreendidos por elementos da segurança.

 

Ter um bom lugar no Fenway Park é uma ciência complicada. Os pilares que obstroem a visão multiplicam-se e há mesmos lugares que estão a poucos centímetros de um pilar. Nunca nos aconteceu, mas é possível comprar um bilhete para estar a olhar para um pilar durante três horas. Apesar de tudo, nos sites de compra de bilhetes, costuma surgir um aviso sobre se os lugares tem a vista total ou parcialmente obstruída. Dito de outra forma, desconfiem sempre se acharem um preço muito mais barato do que os outros.

 

A experiência do jogo em si não foi, na sua maior parte, muito diferente da de outros jogos a que já tínhamos ido. Ficámos atrás de uma família adepta dos Blue Jays, embora passassem mais tempo com os olhos no telemóvel do que no jogo, e… vimo-los festejar enquanto os Red Sox perdiam.

O ambiente de apoio aos Red Sox é inigualável

O momento mais diferente – que já sabíamos e esperávamos – foi quando a instalação sonora passou, como manda a tradição, o Sweet Caroline do Neil Diamond. O hábito tem mais de dez anos mas, depois de uma fase em que era muito bem visto pelos adeptos, tem-se tornado cada vez mais um motivo de debate: está ou não na altura de acabar com a música? Seja qual for a opinião popular, o certo é que milhares de pessoas se levantaram, puxaram dos telemóveis e gravaram o momento enquanto cantavam em plenos pulmões. Nós não fugimos à regra, claro está.

 

Se temos de ser romanos em Roma, por que não haveríamos de ser bostonianos em Boston? Vá, só não bebemos álcool, mas de resto houve espaço para os amendoins, os hambúergueres e as bebidas de litro com refill gratuito. É a experiência que faz a diferença.

Guia (completo) de Boston

 

Como se faz um guia sobre uma cidade que já se visitou mais do que uma vez e onde se anda constantemente a fazer coisas diferentes? Estruturar este texto foi um grande desafio e não há uma lógica definitiva, mas acreditamos que esta talvez seja a forma mais simples de mostrar quão bom Boston pode ser e convidar-vos a conhecer uma cidade que raramente aparece no topo das listas de viagens (ouçam também os dois episódios do podcast atlas de bolso sobre Boston).

As cores de Boston

Acreditem em nós: é imperdível e consegue ser linda independentemente da estação do ano ou se estamos a vê-la de East Boston, South Boston, Cambridge ou do topo do Prudential.

 

Freedom Trail, o guia que não nos deixa perder

Esqueçam os mapas, o pânico de ficarem perdidos (se forem dessas pessoas e ainda não conhecerem os encantos de andar à deriva numa cidade) e a constante procura por edifícios de referência que vos ajudem a perceber onde estão.

O Freedom Trail é um convite a conhecer a história de Boston e basta seguir uma linha vermelha de tijolo no chão. Uma das pontas fica no Boston Common, um parque no coração da cidade, passa pela Massachusetts State House, e segue na direção da zona mais histórica, com destaque para a Old State House, o Faneuil Hall e a Paul Revere House - já no North End - antes de atravessar a ponte e seguir em direção ao USS Constitution e ao Bunker Hill Monument, em Charlestown.

Seguindo o percurso do Freedom Trail

No total, são quatro quilómetros, 16 pontos de paragem com história para contar e uma primeira adaptação ao ritmo de uma cidade encantadora. Não se deixem enganar: os quatro quilómetros parecem pouco (e são, Boston é uma cidade muito amigável para se fazer a pé) mas o tempo passa a correr e vão ter vontade de fazer imensos desvios ao longo do percurso.

Dica: para os mais fracos de pernas, é mais que possível - e nós fizemos isso até porque ficámos alojados “a meio” - dividir o Freedom Trail em dois: North End e Charlestown num dia, Downtown e Boston Common no outro.

 

Downtown e o roteiro gastronómico

Os prédios de Boston não são tão altos como os de Nova Iorque ou Chicago mas conseguem fazer-nos perder a orientação. O formato da cidade é enganador e as ruas, especialmente nesta zona, fogem à tendência paralela/perpendicular de todo o país.

Dito isto, o Quincy Market é um excelente ponto de referência para «atacar» a zona da Downtown. A área é rica em soluções para comer mas há três que se destacam: os lobster rolls (recomendamos!), o New England Clam Chowder (recomendamos vivamente!) e a… Ghirardelli (não recomendamos porque quanto menos vocês comerem, mais sobra para nós quando lá voltarmos). Esta última é uma gelataria/chocolataria magnífica, que conhecemos pela primeira vez em São Francisco (onde está a original, com vista para Alcatraz e para a baía), e não resistimos a dividir um Land’s End sempre que passamos por uma. Acreditem: a mistura do brownie de chocolate, bola de gelado e caramelo salgado é perfeita e não se vão arrepender.

Não vale mesmo a pena parar na Ghirardelli

Mas este espaço não é só de restauração. Há lojas de todos os feitios - desde uma enorme para enfeites de Natal até uma de banda desenhada e respetivos adereços -, há a estátua de Red Auerbach, lendário treinador dos Celtics - e, de frente para a entrada principal do Quincy Market, há o Faneuil Hall.

Na primeira vez que lá estivemos não conseguimos visitá-lo porque ia haver uma cerimónia de naturalização e, à porta, estava já pelo menos uma dezena de pessoas - quase todas de aparência latina - vestidas a rigor e com o orgulho a jorrar pelos olhos. O Faneuil Hall é visto como o berço da nação, o local onde foram proferidos muitos discursos que favoreciam a independência e que serviram de dínamo para 1776.

Downton de Boston

Seguindo em direção ao centro mais moderno - rumo ao parque - passamos pela Old State House, um dos edifícios mais antigos da cidade - e não estamos muito longe do coração cosmopolita de Boston, onde estão os teatros, os grandes centros comerciais e mais opções de restauração: nós somos grandes fãs do Five Guys. A ideia de comer amendoins enquanto esperamos pelo pedido deixa-nos de água na boca. Vá, deixa-me a mim, Rui, porque a Sarah não os pode comer.

 

North End e Beacon Hill, a herança italiana e um bairro encantador

São os dois bairros em que ficámos alojados nas duas visitas de 2017. Em abril, optámos pela proximidade ao TD Garden (pavilhão dos Celtics e dos Bruins) e ao Freedom Trail e ficámos no North End; em setembro virámos a agulha e fomos para o mais famoso bairro de Boston, com vista para o rio Charles e a norte do Boston Common.

Comecemos pelo primeiro. É onde está grande parte do legado italiano - basta percorrer as suas ruelas para ficarmos apaixonados pelo cheiro a massa - mas também algumas das casas mais antigas da cidade. Uma delas, um ponto obrigatório do Freedom Trail, é a de Paul Revere. No século XVIII, ficou conhecido por organizar um sistema de comunicação através de lanternas que foi decisivo para a guerra com os ingleses.

North End

Outro ponto imperdível do North End, sobretudo se estiverem com a barriga a dar horas, é a Pizzeria Regina. Quase mais famosa do que Larry Bird ou David Ortíz, tem sempre fila e a recompensa chega ao paladar. É uma instituição não apenas do North End, mas de toda a cidade.

Beacon Hill é muito diferente do North End. É um bairro mais trendy, famoso pelas suas ruas inclinadas, árvores e lojas «simpáticas». Vista da Longfellow Bridge, ponte que atravessa o Charles e que proporciona vistas fabulosas, Beacon Hill até nem tem grande aspeto. Parecem casas amontoadas, sem qualquer critério nem rigor, quase como se fosse uma favela. Mas não é, está longe disso.

São das casas mais caras da cidade e um passeio por entre ruas e rampas ajuda a perceber porquê. A proximidade com o passeio ribeirinho é uma grande vantagem. Em poucos minutos, conseguimos estar sentados num cais que é perfeito para ver o pôr-do-sol… ou simplesmente a contemplar o passar das nuvens. Duas paragens imperdíveis são a estátua de Arthur Fiedler e a Hatch Memorial Shell, palco de inúmeros concertos durante os últimos anos.

Pôr do sol em Beacon Hill

Para terminar, uma sugestão de museu que não fica muito longe. Junto da estação de Charles/MGH, uma região conhecida pelos seus hospitais e centros clínicos, está o Museum of Medical History and Innovation do Massachusetts General Hospital. A entrada é gratuita e, como o nome indica, é um sítio perfeito para perceber como a ciência evoluiu no campo médico.

Boston Common, Back Bay e Boylston

O Boston Common e o Boston Public Garden são dois parques contíguos - atravessados apenas por uma estrada - que ficam no coração da cidade. Servem como ligação privilegiada para algumas das principais artérias de Boston e têm vistas magníficas.

Boston Public Garden no outono

É nesta zona que podem atravessar simplesmente a estrada para estar nas escadarias da Massachusetts State House ou no famoso Cheers. No Public Garden, conhecido pelas suas estátuas de patos, lagos e pontes, há uma visão privilegiada para três dos edifícios mais icónicos da cidade: o Prudential, a John Hancock Tower e o Old John Hancock Building.

Este último é muito famoso por ser um constante boletim meteorológico, com base nas luzes que têm no topo. Para saber a previsão do tempo, basta decorar a seguinte frase: «Steady blue, clear view. Flashing blue, clouds due. Steady red, rain ahead. Flashing red, snow instead».

Mais uma, porque nunca são demais

Deste parque, há duas ruas que podem, e devem, ser percorridas a pé. Mais perto da baía, na região de Back Bay, está a Newbury Street, uma rua com construções a fazer lembrar Beacon Hill, mas repleta de pontos comerciais. No fundo, já perto do Fenway Park, há o famoso sinal da Citgo, considerado recentemente como National Landmark.

A outra é a Boylston Street. É talvez a rua mais famosa de Boston e é onde termina a maratona, junto à Copley Square. Até chegarem ao Prudential (onde recomendamos a subida até ao Skywalk Observatory para terem uma maravilhosa vista sobre a cidade), vão poder passar pela Boston Public Library (com um jardim recomendado no interior) ou pela Trinity Church.

Estejam também atentos ao chão para verem exatamente onde termina a maratona. Ah, e na base do Prudential recomendamos também a Cheesecake Factory, mesmo que não sejam fãs de Big Bang Theory. Além dos óbvios cheesecakes (os de Snickers e Limão estão entre os favoritos, mas a oferta é enorme), recomendamos também os deliciosos cogumelos gratinados que surgem como entradas.

 

South Boston

Sabem aquela Boston que aparece sempre nos filmes do Casey Affleck? Normalmente escura, meio suja e muito mais pobre do que era expectável para a zona? Pois, bem-vindos a South Boston… até há alguns anos. Hoje, a área para lá do Fort Point Channel (ou, para turistas, do Boston Tea Party Museum) é uma das zonas mais apetecíveis da cidade.

Vista para a Downtown do Harbourwalk

South Boston já não é reduto da comunidade católica irlandesa que se instalou ali até ao final do século XX. Os museus, os restaurantes de marisco e um paredão que nos dá mais uma perspetiva do centro de Boston são os novos protagonistas.

O Institute of Contemporary Art (ICA), que atualmente ocupa um enorme – e giríssimo – edifício no Seaport District tem muita piada para quem gosta de arte e performance contemporâneas. O preço dos bilhetes não é proibitivo (15 dólares), mas se mesmo assim quiserem poupar uns trocos, podem fazer como nós e aproveitar as noites gratuitas à quinta-feira (entre as 17h00 e as 21h00).

O único problema é que as novas construções bloquearam aquela que era uma das melhores vistas para a Downtown. Para isso, a melhor alternativa é dar corda às pernas para um passeio pelo Harborwalk, que começa mesmo ali e faz toda zona de costa, do lado sul do canal, até ao Rolling Bridge Park.

Para quem não tem medo de se aventurar para um bocadinho mais longe (são só três estações de metro de distância), uma das nossas mais recentes descobertas em South Boston foi a JFK Library. Trata-se de uma biblioteca/museu dedicada à vida e obra do antigo presidente norte-americano, e a verdade é que merece o desvio necessário para chegar até lá: ali conjugamos um crash-course de história do séc. XX com um espaço belíssimo, perfeitamente integrado na sua zona envolvente, e uma nova vista de Boston.

JFK Library and Museum

 

Cambridge

Cambridge é, na verdade, uma cidade distinta de Boston. Passa-se para lá do rio e pronto, já mudámos de mayor. Mas claro que é impossível deixar de fora quando falamos em áreas a visitar por aquelas bandas. É em Cambdrige que ficam os campi do MIT e da Universidade de Harvard, que valem uma visita por si só.

Para nós, Harvard é sinónimo de “campus universitário nos Estados Unidos”. Os edifícios antigos, de tijolo, com imensos espaços verdes onde os alunos estudam e conversam e jogam e sei lá mais o quê… é uma imagem de filme. Por outro lado, o MIT é uma mistura eclética de estilos que não faz muito pela unidade da universidade, mas é um prazer observar. Da cúpula mais que conhecida dos Edifícios MacLaurin ao Centro Stata há toda uma história arquitetural por contar.

Centro Stata no MIT

Entre as duas universidades há um café que nos satisfaz os desejos de doce e que achámos por bem referir aqui (porque para falar dos hambúrgueres do Flatt Patties ou dos doces italianos da Mike’s Pastry - que, já agora, também têm uma loja no North End - têm toda uma internet à vossa disposição): o Zinneken's Belgian Waffles. Escusam de dizer que vão da nossa parte, mas se estiverem por ali, façam uma pausa para café.

É também de Cambridge que, na nossa opinião, se têm as melhores e mais emblemáticas vistas de Boston. É certo que Beacon Hill se assemelha ligeiramente a um bairro de lata quando o vemos ao longe, mas a vista da Memorial Drive é inimitável. Com bom tempo, mau tempo e tudo o que houver pelo meio.

Vista do Memorial Drive

Se forem pessoas como nós, sem respeito pelos vossos pés e sempre em busca da próxima grande vista, podem seguir ao longo do rio Charles, fazer uma paragem para descansar no Kendall Sq. Roof Garden (um jardim “secreto” no topo de um silo de estacionamento) e atravessar a Longfellow Bridge para o lado de Boston - vão desembocar no sopé de Beacon Hill.

 

Um paraíso para adeptos de desporto

Boston é uma das cidades do Estados Unidos que tem equipas nas quatro principais modalidades profissionais. Bom, os Patriots não são propriamente da cidade (estão instalados em Foxborough e não é muito fácil chegar lá), mas Boston continua a ser um local perfeito para ver jogos de NBA, NFL, NHL e MLB.

Mesmo quem não gosta muito (ou de todo) de desporto deve ser capaz de incluir o Fenway Park no seu roteiro. Não vos vamos dizer para verem um jogo de três horas e meia (temporada vai de abril a setembro) no estádio dos Red Sox, inaugurado em 1912, dias antes do naufrágio do Titanic, mas recomendamos vivamente que façam o tour. Está menos gente e vão ter a oportunidade de conhecer pormenores deliciosos sobre a história e o presente da equipa.

Por outro lado, e se ver um jogo dos Patriots tem tudo para ser uma grande aventura, visitar a casa dos Celtics e dos Bruins é das coisas mais fáceis. Dá para andar praticamente de todo o lado: Fenway Park, por exemplo, fica na “outra ponta” da cidade, mas só está a 4,3 quilómetros de distância. O TD Garden fica no topo da estação de comboios que alimenta todo o norte do estado e basta entrar para ficar boquiaberto com a quantidade de história e títulos de cada uma das equipas que já passou por ali.

Fenway Park

À semelhança do Fenway Park, também há uma visita guiada disponível. No último andar do pavilhão, bem lá em cima, está situado o The Sports Museum, que faz uma viagem ao passado para recordar todos os momentos gloriosos de desporto que já passaram por aquela cidade, passando pelo basebol e pelas modalidades de pavilhão (inclusive boxe) e terminando na maratona. Os corredores com fotos de alguns desses momentos e adereços originais são um mimo. A entrada custa 15 dólares.

 

Categoria bónus

Nós avisámos que dividir Boston em categorias não ia ser fácil e, no meio de tanta distribuição, houve duas coisas que foram ficando para trás por acharmos que não se enquadravam obviamente em nenhuma das anteriores: as vistas de East Boston, junto ao aeroporto, e os cruzeiros que se podem fazer com saída da downtown.

Na última vez que visitámos Boston decidimos ficar numa casa perto do aeroporto, sabendo que nos ia permitir ter uma vista sobre a cidade que ainda não conhecíamos. Não nos arrependemos… nada. Se estiverem com a energia no máximo, poderão sempre ir até ao Piers Park mas, se quiserem uma coisa mais próxima com uma vista semelhante, há uma opção ainda mais próxima da saída da estação de Maverick.

East Boston

No LoPresti Park, a pouco mais de 200 metros da saída da estação, pode ver-se tudo a que têm direito, com destaque para a Downtown mas também para o North End e a famosa ponte que liga Boston a Charlestown. Acreditem: não se vão arrepender.

Outra hipótese que também permite ter uma excelente vista diferente sobre Boston é fazer um cruzeiro. As opções são mais que muitas - sobretudo se quiserem ir ver baleias - mas nós optámos por um barco mais pequeno - também por isso mais barato - que dá só a volta à baía mas que compensa… muito. Todas as tardes, minutos antes do pôr-do-sol, sai da downtown em direção ao USS Constitution. Ali, em posição privilegiada - e com quase uma dezena de barcos maiores atrás, poderão assistir ao disparar do canhão que é feito, sem falta, todos os dias à hora em que o sol se põe. Conselho: estejam preparados para o disparo e não se assustem.

A nossa volta acabou por ser vítima de um atalho porque um cenário de nevoeiro nunca antes visto - dito pelo capitão - abateu-se sobre a cidade e reduziu a visibilidade a quase zero. Por outro lado, enquanto ainda dava para ver alguma coisa, os cenários pareceram ainda mais bonitos. Deve ser impossível recriar mas ficou-nos na memória.

Nevoeiro (a sério) em Boston

 

Na órbita de Boston

Boston é também um ponto de saída perfeito para conhecer a Nova Inglaterra. Seja de autocarro ou comboio, com maiores ou menores viagens, há um lote infindável de opções para conhecer as cidades e estados na órbita de Boston. A parte boa: dar para ir e vir no próprio dia.

Nós recomendamos duas: ir a Portland (Maine) e a Salem. Na primeira, com uma viagem pouco superior a uma hora de autocarro, aproveitámos para conhecer um pouco melhor daquela cidade piscatória com uma grande tradição de receber embarcações da Europa. E, como não podia deixar de ser, comer um lobster roll junto ao mar.

Portland, Maine

Salem fala por si mesma. Conhecer a fundo a história da caça às bruxas do século XVII é quase uma obrigação para quem visita a cidade e serve também como uma forma de abrir os olhos para os perigos que corremos atualmente. A viagem de comboio, que parte da North Station (onde é o TD Garden) demora cerca de 30 minutos e, apesar dos atrasos ao fim-de-semana, também se consegue enquadrar muito bem no resto dos planos.

Salem

Todos os motivos são bons para ir a Boston

 

Boston é uma cidade especial e já o era para mim antes de a ter visitado pela primeira vez em 2011. Só lá voltei, já com a Sarah em abril de 2017 e, desde então, repetimos o destino mais duas vezes. As desculpas para visitar são sempre diferentes, os motivos são sempre os mesmos.

Boston em pano de fundo

Pode não ser a cidade mais cosmopolita, pode não ter a aura que Nova Iorque ou Los Angeles parecem ter como destinos turísticos, pode não ter (durante grande parte do ano) o tempo mais agradável, mas é única. É, talvez, a cidade mais europeia dos Estados Unidos. Relativamente pequena, é fácil percorrer as ruas entre atrações a pé e com um espírito que, apesar da fama, mostra que sabe receber bem.

 

Por ser tão pequena, os hotéis raramente são a melhor opção mas é possível encontrar AirBnB’s em sítios bastante centrais que valem muito a pena. Depois do North End e de Beacon Hill, tentámos explorar uma terceira parte da cidade, praticamente ao lado do aeroporto, e também não nos arrependemos.

 

Os transportes públicos não são essenciais mas, quando precisos, são acessíveis e fáceis de navegar pela cidade e arredores, sobretudo Cambridge. E, sobretudo, Boston é também um ponto de partida privilegiado para a maior parte dos destinos turísticos de Nova Inglaterra. Mas bom, vamos por partes.

 

A nossa primeira ida a Boston juntos foi em abril de 2017 mas aqueles quatro dias não foram mais do que um anexo a uma viagem que tínhamos pensada. O objetivo principal era fazer a viagem de comboio entre Chicago e San Francisco no California Zephyr (ainda não a escrevemos mas é capaz de ter sido a melhor experiência que já tivemos numa viagem) e decidimos passar quatro dias em Chicago antes da partida, já que lá íamos estar. Foi também nessa altura que, num misto de loucura e desejo, soltei a pergunta: «Então e se voássemos para Boston, ficássemos lá quatro dias, e só depois fôssemos para Chicago?». Desafio lançado, aceite e ponto de partida dado para a melhor viagem possível.

 

Uma grande parte dos planos para Boston incluíam desporto. Vimos hóquei no gelo e basquetebol. Queríamos ver basebol mas o tempo não ajudou e o jogo foi cancelado, tirando-nos qualquer oportunidade de vermos uma partida noutro dia. E aqui começou a surgir a desculpa para a segunda viagem, em setembro desse ano.

Os Celtics fazem sempre que possível parte do menu

A voltarmos de São Francisco, a Air France tinha um avião avariado e fomos dois dos infelizes contemplados que ficaram de fora da alternativa – mais pequena. Fomos obrigados a mudar de aeroporto e voar mais tarde, com a TAP, mas recebemos 250 euros de compensação cada um. Se já estávamos com a ideia de voltar a Boston, este dinheiro só ajudou. «Pronto, está decidido. Voltamos em setembro, quando ainda houver basebol, e até podemos aproveitar para ver um jogo de futebol americano», dissemos, fazendo referência à única modalidade claramente americana que ainda não tínhamos visto nos Estados Unidos (só em Londres mas a experiência não é igual).

 

Por esta altura, já prevíamos as perguntas: «Mas Boston outra vez?». Sim, outra vez. Como precisávamos de bons argumentos para não respondermos torto, começámos a explicar que também queríamos aproveitar melhor esta segunda viagem para conhecer o que está à volta da cidade. Por isso, fizemos uma escapadela de um dia até Portland, no Maine, e… foi incrível. Esta segunda viagem trouxe também uma outra vantagem: conhecer Boston com bom tempo, longe do frio, chuva e restos de neve de abril.

 

E com isto chegamos à terceira visita, em novembro deste ano. Temos o hábito de nos oferecermos mutuamente viagens nos aniversários mas a Sarah tinha ficado a arder este ano porque tinha sido operada à anca uma semana antes. Com o tempo de recuperação, reabilitação e falta de dias disponíveis, fomos atrasando os planos até lançar a pergunta: «E que tal Boston no fim-de-semana alargado de 1 de novembro?».

 

Aqui, nem tínhamos grandes planos mas assim que comprámos a viagem, apercebemo-nos de que os Celtics jogavam logo nessa noite. Mais uma vez, as perguntas do género surgiram mas estávamos preparados para tudo. A verdade? Também fomos a Salem, pós-Halloween, não vimos a festa do título dos Red Sox por um azar de dois dias, apanhámos bom tempo suficiente (muito melhor do que estávamos à espera, tendo em conta que era novembro) e ficámos boquiabertos com a beleza das marcas do outono um pouco por toda a cidade.

Vista de Cambridge para Boston

E sim, uma vez mais conseguimos acrescentar sítios novos às nossas visitas, mesmo em Boston. As horas passadas na JFK Library and Museum foram uma experiência espetacular que aconselhamos a toda a gente, mais não seja porque o local também oferece uma vista pouco comum sobre a cidade.

 

Ah, e as horas de voo? Sim, voámos no dia 1 de manhã e regressámos no dia 4 à noite mas não foi cansativo. Pela primeira vez optámos por voos diretos com a TAP e compensou, especialmente a parte de regressar num voo de apenas cinco horas e vinte minutos. A conclusão que ficou até foi a oposta: se isto não custa quase nada, por que é não vamos mais vezes?

Top-5 de Malta

Antes de mais, um disclaimer: como já vos contámos, não conseguimos encaixar a ilha de Gozo na nossa viagem até Malta, devido à tempestade que nos "fechou" em casa durante praticamente um dia. Não temos dúvidas que Gozo será espetacular, mas como não conhecemos, fizemos um top-5 da *ilha* de Malta.

1. As vistas das Três Cidades

Parte má? Não dá para estender a toalha

As "Três Cidades" de Malta (Birgu, Senglea e Cospicua) foram uma das zonas menos turísticas que visitámos, mas foram claramente um dos melhores momentos da viagem. A vista para Valletta é uma das melhores que vão conseguir ter - pontos extra se forem até lá ao pôr ou nascer do sol - e nós somos uns suckers por vistas bonitas.

 

2.  As ruas de Mdina

Espelho meu, espelho meu...

Mdina, a Cidade Silenciosa, é outro dos locais imperdíveis em Malta. Antiga capital do país, encaixa dentro das suas muralhas um ambiente muito particular naquele país de contrastes, e encanta com os tons calcários. Dos pontos mais altos, consegue ver-se praticamente toda a ilha.

 

3. O bulício de Marsaxlokk (não ao domingo)

Cor é vida

Esqueçam a visita ao "mercado de peixe" de Marsaxlokk ao domingo. Não vale a pena arriscarem a vossa vida para encontrar um monte de turistas ingleses maravilhados com as cores da baía. Marsaxlokk vale a pena, sim, nos outros dias - o mercado funciona (sem o ênfase no peixe) da mesma forma, a baía com os barcos coloridos está lá e vão ter provavelmente uma experiência muito melhor - quiçá mais autêntica.

 

4. As varandas da ilha

Cor é vida (bolas, já tínhamos dito isto noutro lado)

As varandas de Malta são um daqueles pormenores de que nem toda a gente fala, mas em que toda a gente repara. É preciso vê-las ao vivo para perceber como se encaixam naquela arquitetura meio italiana, meio árabe, meio norte-africana. As cores garridas fazem das fachadas das casas, banais, um ponto de interesse.

 

5. As ruas de Valletta

Não há justificação para estas caras, desculpem

As ruas e ruelas da capital não podiam faltar num top de Malta. Bons sapatos e o mínimo de preparação física são fundamentais, mas fora isso, não é preciso mais nada. É esquecer os mapas e deambular por aquela amálgama de sobes e desces, que eventualmente acaba junto ao mar, e aproveitar tudo o que tem para oferecer. E disso faz parte a maravilhosa comida: para quem conta os tostões, os quiosques que se encontram em muitas esquinas são boas opções.

Top-5 de Toulouse

 

A cidade do sul de França tem uma oferta muito diversificada, sobretudo se alinharem na rota dos museus, com destaque para o do Airbus e o do espaço, e não há forma de escapar à beleza de um sítio que ainda não entrou na lista dos locais mais turísticos do país mas que não fica muito atrás de outros nomes mais famosos. Aqui fica o nosso top-5.

 

1. As ruas “rosa” de Toulouse

Vista junto ao rio

É conhecida por cidade rosa por alguma razão. A cor do tijolo dá-lhe uma aura especial, sobretudo quando os raios de sol parecem incidir no ângulo perfeito. Como o centro da cidade não é muito grande, não há melhor sugestão do que recarregar bem as baterias durante a noite e passar o dia a calcorrear as ruas, absorvendo a cultura, a arquitetura e os traços singulares de cada espaço. O passeio junto ao rio, sobretudo na altura do pôr-do-sol, é imperdível.

 

2. Uma caminhada pelos Canais du Midi e de Brienne

Canal de Brienne

Visitar Toulouse no Outono foi um bónus especial que tornou este passeio – longo – ainda mais bonito. É também uma forma de escapar a espaços mais movimentados e aproveitar para explorar a simbiose com a natureza. As árvores, com folhas outonais, os canais e as pontes compõem uma harmonia perfeita impossível de não apreciar.

 

3. Um passeio pelo Jardim Botânico japonês

Lago do Jardim Botânico Japonês

É um paraíso escondido no meio de um parque. A influência japonesa é óbvia – mal seria se não fosse – e tem algumas atrações que tornam aquele pequeno local ainda mais especial. Da ponte vermelha à cascata, passando pelo lago com peixes do tamanho de uma panela de cozido à portuguesa, também há espaço para descansar num banco e aproveitar a vista.

 

4. Fazer people watching na Praça do Capitólio

Rui a fazer people watching

É o coração da cidade. A praça é enorme e está virada para o edifício do Capitólio. Na fachada principal, há pequenos bancos de pedra onde nos podemos sentar e tomar o pulso à azáfama da praça, entre os turistas perdidos e os determinados, e os locais sempre apressados.

 

5. Um jogo de râguebi do Stade Toulousain

Uma noite de frio e chuva

É uma das melhores equipas de França e um dos motivos de orgulho da cidade. Há shuttles gratuitos que fazem a ligação entre a estação de metro de Barrière de Paris e os arredores do estádio e a experiência vale a pena. O estádio está feito à medida para o número de adeptos que costuma levar e o ambiente é especial.

Guia para um fim-de-semana alargado em Toulouse

 

Entre Lisboa e Toulouse há voos diretos e é possível estar despachado do aeroporto em poucos minutos; nós, depois das duas da tarde, estávamos a caminho do centro e pudemos aproveitar o fim-de-semana como se estivéssemos em Portugal e tivéssemos dormido até mais tarde.


O transporte até ao centro da cidade é fácil – e barato – através de transportes públicos e depois de despachar o check-in no hotel (a cidade não é muito grande por isso o difícil é reservar um sítio que não esteja bem localizado) ainda há tempo para dar uma primeira volta pela cidade até chegar o pôr-do-sol.

Toulouse e o Garone

Esta era a nossa maior prioridade. Tínhamos vindo a acompanhar a evolução meteorológica para estes dias (fim-de-semana alargado do 5 de outubro) e sabíamos que até ao final da tarde de sábado o tempo ia estar muito bom. Aproveitar o pôr-do-sol junto ao rio logo na sexta-feira tornou-se o nosso maior objetivo.

 

Dia 1, em busca do pôr-do-sol


Andar em Toulouse é muito fácil. Os transportes são fáceis de entender mas quem preferir andar a pé também não vai morrer por isso. Ainda assim, a melhor alternativa (mais barata, mais cómoda e menos cansativa) é capaz de ser a rede de bicicletas que está disponível um pouco por toda a cidade. Nós não a utilizámos – porque há quem não consiga fazer curvas para a esquerda sem cair – mas percebemos o potencial fantástico de ter esta alternativa numa cidade como Toulouse.

 

O caminho do hotel até ao rio Garone foi quase sempre em linha reta mas aproveitámos para tomar o pulso à cidade. Pelas pequenas e velhas ruas do centro, fomos parar à Basílica de Saint-Sernin. Estava em obras – o que tornou a passagem um pouco menos bonita – mas ainda assim é interessante o suficiente para contemplar de vários ângulos. A forma como os vários componentes da construção se sobrepõem parece promover uma constante metamorfose da paisagem, como se diante de nós estivesse uma basílica em sucessiva mudança.

Basílica Saint-Sernin

Dali, seguimos para o centro da parte histórica: a Praça do Capitólio. O edifício é imponente, ajudado pela dimensão da praça que tem à frente, e assume-se como um lugar perfeito para people watching. Há várias esplanadas para nos sentarmos a ver a azáfama da cidade, bem como restaurantes de vários tipos, desde cadeias de fast-food como a McDonald’s a soluções mais locais.

 

Com o tempo a passar e o sol cada vez mais baixo, o caminho fez-se em direção ao Garone. A ideia era simples: chegar às margens do rio junto ao parque La Daurade, um local onde os jovens se juntam para conviver, atravessar a Pont Neuf e desfrutar da vista do outro lado com os raios de sol a embater no famoso tijolo rosa pelo qual Toulouse é famosa.

Pôr do sol em Toulouse

Fizemo-lo de outro parque, o Prairie des Filtres, no meio de crianças, jovens e adultos que quiseram aproveitar o final de sexta-feira para descontrair. Cada vez mais longe do hotel e com o objetivo alcançado, regressámos pela Pont Saint-Michel, a sul da Pont Neuf, e tivemos, uma vez mais, uma vista fantástica sobre uma inesquecível Toulouse outonal.

 

Dia 2, da arte urbana ao desporto passando pela natureza


A Sarah costuma ser a líder dos planeamentos em viagens. Em Toulouse, foi diferente. Houve pouco tempo de descanso desde a viagem aos Estados Unidos e o trabalho em Lisboa não deu margem para grandes tempos livres. Por isso, coube-me a mim decidir o que fazer naquele sábado. Ao contrário dela, não sou tão exaustivo na pesquisa e acabei por decidir o que fazer na noite de sexta-feira, mesmo antes de adormecer.

 

Depois de encontrar um mapa com os principais destaques de grafitis em Toulouse, escolhi o exemplo que me parecia mais agradável nas proximidades do hotel. Foi assim que começámos o dia: numa zona mais residencial, sem um turista à espreita, e com a Sarah sem saber minimamente o que a esperava.

Grafitti em Toulouse

A natureza seria o destino seguinte. Reencontrámos o caminho para o Canal do Midi, que separa a zona nuclear de Toulouse do resto da cidade, e seguimos por entre as árvores com folhas de cores outonais até ao Jardim Botânico Japonês. Sabemos que é uma tendência bastante comum nas cidades francesas, mas não nos deixou de surpreender aquele espaço com influência tão asiática no meio de Toulouse.

 

Já com bastantes quilómetros nas pernas, descansámos um pouco, antes de regressar ao Canal du Midi e seguir na direção do Garone até encontrarmos um outro canal: o de Brienne. As vistas, uma vez mais, foram fantásticas. Sim, é preciso andar muito, mas fazer este caminho em outubro, com bom tempo e com as folhas em flagrante metamorfose cromática é uma experiência perfeita. Mesmo com a Sarah a morrer de fome.

Canal du Midi

A prioridade passou a ser o almoço – já tardio – antes de voltarmos a atravessar o rio para o outro lado, para explorar a espetacular vista da Passerelle de la Viguerie e do Parque Jardim Raymond VI, junto a Les Abbatoirs.

 

Por esta altura, havia apenas mais um item na lista para sábado: ver um jogo de râguebi do State Toulousain. Não chovia e o tempo ainda estava agradável, mas já se começava a perceber que a mudança no céu estava em andamento. O cansaço e a necessidade de reequipar no hotel para o frio e chuva motivou o regresso. Descansámos um pouco – afinal, tínhamos andado vários quilómetros e não foi assim há tanto tempo que a Sarah foi operada à anca – e ganhámos coragem para o novo desafio.

 

Dia 3, uma Toulouse com outras cores


A agenda para o último dia foi a mais difícil de escolher. As previsões davam chuva torrencial para grande parte do dia e só tínhamos o voo de regresso já de noite.

Capitólio de Toulouse

As opções são muitas: a sul há a Cité de L’Espace, um parque temático dedicado à conquista espacial. Junto ao aeroporto, há o Museu da Aeroscopia, sede da Airbus e dedicado aos aviões.Noutras ocasiões, esta segunda seria a nossa escolha mas acabámos por preferir ficar no centro da cidade, aproveitando para a conhecer com outras cores.

 

Sim, esteve mau tempo. Sim, esteve a chover, mas ficamos sempre com a sensação de que conhecemos melhor uma cidade quando a conseguimos ver e absorver não só em dias de sol mas também no meio da chuva. Explorámos melhor as pequenas ruas junto à Praça do Capitólio, entrámos no edifício, passeámos junto ao rio e comemos: crepes salgados, crepes doces, gaufres.

 

E quando choveu mais do que o que era suposto e suportável para andar na rua? Bom, aí decidimos inovar e escolhemos ir ao cinema (optando cautelosamente por um filme norte-americano não dobrado). O timing pareceu perfeito: entrámos no edifício a chover torrencialmente e, quando saímos, não voltámos a ver uma pinga a cair. A sorte esteve do nosso lado.

Ruas de Toulouse

Um jogo de râguebi do Top-14 em França

Formação ordenada durante o jogo

Já vos contámos como acabámos por arranjar uma viagem para Toulouse. Claro que, pouco depois, a dúvida era o que podíamos encaixar: sendo o Stade Toulousain uma das maiores potências históricas do râguebi francês, era uma escolha natural.

 

As datas para o Top-14, o campeonato francês, só foram divulgadas mais tarde, por isso o plano inicial não contemplou a ida ao estádio. Quando finalmente soubemos que o dia 6 teria um Stade-Agen, a ideia começou a impregnar-se na nossa mente, mas ainda sem certezas. Afinal, já seria outubro, o jogo era quase às nove da noite (e o estádio um bocado fora de mão) e ainda tínhamos a incógnita do preço dos bilhetes.

 

Só uma semana antes da partida é que decidimos avançar – para variar, comprámos bilhete para os lugares mais baratos do estádio (15 euros cada um). O plano para sábado à noite estava traçado.

Estádio estava bem composto

Nesta coisa dos jogos ao ar livre, uma coisa que tem muita influência na experiência é o tempo. O tempo que demora, claro, mas sobretudo o tempo que está. E a previsão para Toulouse era de sol radioso e calor para sexta-feira e sábado… até à hora do jogo. Tendo já tido uma experiência desagradável com esses dias em que a temperatura desce a pique (que ninguém saiba que saímos de um jogo dos Cubs antes do final por causa do frio!), decidimos precaver-nos.

 

Depois de uma tarde passada de t-shirt, passámos pelo hotel para nos apetrechar com pulloveres, cachecóis e gorros. A temperatura descia e as nuvens estavam carregadas. Chegámos ao estádio e, como já esperávamos, parecíamos aliens no meio de uma multidão de calções e camisolas finas. Como habitual, demos o nosso passeio pelas imediações do estádio, e demos com um pormenor curioso: um monumento de homenagem aos jogadores do clube que morreram a combater por França.

Monumento de homenagem

Ainda não chovia, mas não esperámos mais do que 20 minutos: o que começou com uma chuva fraquinha não demorou a transformar-se numa chuvada de bátegas grossas, que obrigou todos os que, como nós, estavam nos lugares dos pouco ricos (fora do alcance da cobertura) a fugir para se abrigar.

 

O Rui, porque sabe destas coisas, teve logo a genial ideia de ver que lugares ainda estavam à venda por debaixo da cobertura, nos lugares acima de nós: a hora inicial do jogo aproximava-se e era pouco provável que fossem ocupados. Não foi o único: ao nosso lado, outro casal fazia exatamente o mesmo. Assim que vimos uma fila de lugares supostamente vazia num dos topos do estádio, soubemos o nosso destino.

 

Abrigados da chuva, não morremos de frio. E ainda bem, porque o jogo não seria capaz de aquecer ninguém. Como ouvimos no final “este foi daqueles jogos com resultado à antiga”: 10-0 para o Stade Toulousain. Mais do que o resultado, foi uma exibição que pecou pela falta de entusiasmo – nem o ensaio de Sebastien Bezy conseguiu trazer grande ânimo às bancadas, que recorriam à cerveja, vendida a jarro, para animar. As tentativas (dezenas?) de fazer a hola mexicana não pareciam pegar nem por nada, e um dos maiores divertimentos daquela hora e meia de jogo foi vaiar os setores do estádio onde a onda acabava. Quando finalmente a primeira deu a volta ao estádio, a multidão irrompeu em palmas - se fosse jogador, ter-me-ia perguntado que raio de passava ali, já que em campo não havia nada a acontecer.

Alinhamento durante o jogo

Sem pontos na segunda parte, o jogo ficou cada vez mais luta na lama e menos râguebi. O Stade teve uma última boa oportunidade aos 72 minutos, mas a bola parecia não colar nas mãos de ninguém. Fim do jogo, é partir para a próxima. Pelo menos já podemos dizer que vimos um jogo do Top-14.

 

(Mal sabíamos nós que podíamos ter feito jornada dupla: o Castres recebeu o Stade Français no domingo, a hora e meia de Toulouse. Tivemos a consolação de ver os gigantes a passar por nós no aeroporto, quando esperávamos o nosso voo.)

Toulouse como solução para o aborrecimento

Vista sobre Toulouse

Planear viagens tem tanto de preparação como de improviso. Quando começámos, em 2013, tínhamos uma lista de cidades europeias que queríamos mesmo visitar mas não demorou muito até começarmos a ceder ao improviso do preço imbatível que não podemos não aproveitar.

 

De meses a meses, sentamo-nos à mesa, cada um com uma caneta e uma folha de papel para estabelecer os nossos top-15 individuais. Depois de escrever, atribuímos um ranking acumulado às nossas escolhas: se uma cidade estiver no primeiro lugar dos dois, tem dois pontos e será, à partida, o nosso maior desejo de viagem. E por aí fora.

 

Pode ser um exercício bonito na teoria mas raramente passa para a prática. Cada vez mais as viagens que fazemos, sobretudo as escapadelas europeias, são fruto do preço imbatível que encontramos. A última delas foi Toulouse (em outubro de 2018) e nasceu de uma tarde de aborrecimento em pleno Mundial-2018.

 

Portugal podia estar a jogar – ia ser eliminado pelo Uruguai – mas a Sarah não estava muito ligada à televisão. Estava entediada e decidiu procurar bons preços de viagem. Algures a meio do jogo, virou-se para mim e perguntou: «Queres ir a Toulouse aproveitar o feriado do 5 de outubro?». Disse-lhe que sim. Nunca digo que não a uma viagem. A ideia matutou durante alguns minutos e recebemos o e-mail de confirmação da compra nove minutos depois de Portugal ter perdido o jogo.

 

Não tinha – nem ela – qualquer expetativa sobre Toulouse. Curiosamente, França tem sido um chamariz de viagens, entre obrigatórias como Paris (seja sozinhos ou para visitar família e amigos), para visitar família em Lille ou para pequenas escapadelas improvisadas em Estrasburgo e Lyon.

 

Pensámos que Toulouse seria semelhante. Pessoalmente, achei mesmo que estaria aquém das restantes. Estava enganado, muito enganado. O tempo durante aqueles três dias – apesar de uns períodos chuvosos no domingo – ajudou a descobrir uma cidade pequena o suficiente para se fazer a pé e mais do que bonita para guardar uma recordação especial.

Passeios por Toulouse

E sim, também houve desporto envolvido. Vi desde muito cedo que a equipa de futebol jogava em casa logo no 5 de outubro mas nunca estive entusiasmadíssimo para ir ao estádio. Por outro lado, só mais em cima da viagem é que decidimos confirmar se a equipa de râguebi, presente no conceituado Top-14 (primeira divisão do campeonato francês), também jogava nesse dia.

 

Foi a cereja no topo de um bolo cozinhado à custa do aborrecimento da Sarah. E compensou. Porque nunca há razões más para decidir fazer uma viagem (bom, até pode haver, mas essa frase não ficaria tão bem a terminar o texto).

 

 

Voo (ida e volta, por pessoa): 48,65 euros, Ryanair
Alojamento (por noite, para duas pessoas): 43,56 euros

Ir ver um jogo de basebol em Miami... porque sim

O regresso a Miami, para o último fim-de-semana antes de voltar a casa, estava marcado para as quatro da tarde, mas o voo sofreu um ligeiro atraso. Depois disso, ainda aproveitámos a passagem pelo aeroporto para procurar um óculos escuros perdidos (ou roubados) mais de uma semana antes.

 

Resultado? Só já perto das seis da tarde nos instalámos no nosso hotel, na zona de Miami Beach. Por que é que isso é relevante? O jogo dos Marlins começava às sete e dez, e o estádio era do outro lado da cidade, a 15 quilómetros de onde estávamos.

 

Desde a manhã que ouvia o Rui a dizer "podíamos ir ver os Marlins... juntávamos mais um jogo à viagem..." mas não estava convencida. Ver que a ida até lá demorava uma hora de autocarro deixava-me ainda mais de pé atrás. Mas a verdade é que o sol começava a pôr-se, era sexta-feira à noite e não tínhamos planos. Acedi.

Marlins Park

Foi de Lyft que fizemos a viagem até ao Marlins Park. Falámos de futebol americano (apesar de parecermos mais conhecedores da coisa que o nosso interlocutor), de estádios desportivos, de Trump, de Cuba e de basebol (afinal, umas semanas antes o condutor tinha levado um jogador dos Marlins ao estádio sem se aperceber) durante a viagem e, em menos de nada, estávamos à porta.

 

Pela primeira vez, passei pela experiência de chegar a um jogo para o qual não tinha bilhetes. Ir até uma bilheteira nos Estados Unidos, onde é que já se viu?! E escolher os lugares ali com um mapa de papel, em vez de ver no ecrã do computador, ou do telemóvel, onde é que nos queríamos sentar.

 

O jogo era contra os Cincinnati Reds, uma equipa que também não estava - à semelhança dos Marlins - com um registo genial. Por isso o estádio estava pouco composto, os bilhetes eram baratos e os lugares a que tivemos direito bastante bons. Entrámos, direitos à banca que vendia hambúrgueres e cachorros e ainda estávamos em pé a servir-nos quando se ouviu o hino americano. Para nós, pessoas de chegar ao estádio quando as portas abrem, foi preciso poder de encaixe para sobreviver.

 

Comparado com o jogo a que tínhamos assistido no dia anterior, em Atlanta, pareceu que estávamos a ver tudo em câmara rápida. Strike atrás de strike, eliminação seguida de eliminação, tudo parecia avançar a um passo muito mais rápido do que é habitual no basebol. Os pontos, esses, é que nem vê-los. Aliás, tenho para mim que este jogo só não bateu um recorde de velocidade porque o nulo se manteve até ao nono inning, e foi preciso ir a prolongamento.

 

Foi no 10.º inning que os Marlins decidiram fazer o gosto aos espectadores e, apesar de não conseguirem o home run, fizeram o run que permitiu encerrar a partida logo ali. Nessa altura, até nos esquecemos do rapaz que passou o jogo inteiro a pontapear-nos as costas e gritar-nos ao ouvido, numa mistura de inglês e espanhol.

Vitória da equipa da casa

O regresso, de Uber partilhado, trouxe a maior surpresa da noite. Tivemos de esperar um pouco pelo nosso companheiro de viagem e, quando a conversa começou, seguiu os mesmos caminhos da viagem de ida. Explicámos a dimensão do nosso fanatismo por desporto, falámos da ida ao jogo de despedida de Kobe Bryant e, de repente, um desafio: «Bom, se foram ver esse jogo de despedida, também têm de vir ver o do Dwyane Wade». Rimo-nos, ainda antes de nos apercebermos o que vinha aí. «Tomem o meu cartão, trabalho para os Miami Heat e sou responsável pelos bilhetes de época. Se vieram, trato muito bem de vocês.» 

 

O dia seguinte foi de descanso, e passado na praia - apesar de esperarmos um mar azul turquesa e límpido (se calhar andámos a ver fotos das Bahamas, enganados), demos com um mar que parecia o da Costa da Caparica, mas a 29ºC. Não me estou a queixar. Acho que todas as férias deviam acabar assim: a ver peixes-espada em miniatura a passar ao pé das nossas pernas depois de vermos um jogo com peixes-espada de peluche pendurados em cada esquina.