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Top-5 de Los Angeles

Los Angeles é uma daquelas cidades de onde me parece impossível sair sem ficar com a impressão que ficou muito por ver. Ao contrário do que muitos vaticinavam, eu adorei a cidade, mas não me livrei dessa sensação - parece que vou ter de lá voltar. Entretanto, vou recordando o que de melhor encontrei por lá.

 

1. Pôr-do-sol no Griffith Observatory

Uma das vistas privilegiadas do Griffith Observatory

Não há experiência melhor em Los Angeles do que ver um pôr-do-sol no Griffith Observatory. Ponto final. A atmosfera é mágica, a vista sobre a cidade é inigualável e as exposições que se podem encontrar nos vários edifícios só compõem ainda mais o ramalhete. Devia ser o número 1 de "musts" em todos os guias de viagem sobre a cidade: enquanto não é, aproveitem.

 

2. Um passeio entre praias

Santa Monica Pier

Imperdível em Los Angeles é fazer um passeio de Venice Beach a Santa Monica. Esse, sim, costuma fazer parte de todos os guias, e com razão - são quase 5 quilómetros e, ao longo deles, conseguimos passar por todos os tipos de praia do mundo. Há a dos musculados, a dos basquetebolistas, a do bronze, a das "good vibes"... cada novo trecho de areia traz uma novidade. E passear numa praia devia ser requisito para chamar férias a uns dias fora de casa.

 

3. Passar uma noite a torcer contra ou a favor dos Lakers

Staples Center em noite de festa

Mesmo para quem não gosta de basquetebol, há algumas experiências que se devem ter uma vez na vida. Quando em Boston, torcer pelos Celtics. Quando em Los Angeles, ir ver um jogo dos Lakers - e torcer contra ou a favor, isso é convosco. Nem toda a gente pode apanhar o último jogo da carreira do Kobe Bryant, mas não há como negar que os Lakers são parte da cultura de Los Angeles, e uma visita ao Staples Center em dia de jogo faz parte do roteiro. Se não for do vosso agrado olhar para o jogo, podem sempre tentar desencantar famosos nas bancadas.

 

4. Saber mais da história de Los Angeles na Downtown

Union Station

"El Pueblo de Los Angeles", a zona histórica, fica no centro da cidade, a passinhos da Union Station, e não deve ficar de fora dos planos numa visita a LA. Um passeio pela zona mostra-nos a outra face de uma cidade que agora vemos como a antítese do tradicional. Ali ao lado, a Union Station transporta-nos para o cenário de inúmeros filmes e é, como qualquer centro de mobilidade, um sítio ideal para people-watching.

 

5. Uma visita ao Estádio Olímpico

Tentámos... mas Carlos Lopes será sempre o mais famoso

Nós sabemos que nem todos vocês estão numa missão para ver todos os Estádios Olímpicos que ainda existem (não, claro que nós também não estamos, que ideia!), mas o que fica em Los Angeles vale a pena a visita. A arquitetura grita Jogos Olímpicos e, convenhamos, não é assim tão fácil estar no sítio da conquista da primeira medalha de ouro olímpica portuguesa. Além disso, o estádio recebe também jogos universitários e é a casa dos Rams (pelo menos por mais um ano). Se conseguirem passear-se no meio da agitação de um jogo, tanto melhor!

A grandeza enganadora num jogo dos LA Dodgers

Dodgers têm o maior estádio de basebol nos Estados Unidos

É difícil crescer em Portugal sem nunca ter sido sujeito a pelo menos uma referência dos Dodgers. São uma das mais famosas equipas de basebol, tiveram o primeiro afro-americano na história do desporto (Jackie Robinson) e são uma referência comum em filmes norte-americanos.

 

A ligação mais forte com Portugal é, ainda assim, outra. Desde a década de 90 que somos suscetíveis ao merchandising dos Dodgers, um pouco sem saber. Os famosos chapéus com o LA por cima da pala são da equipa de Los Angeles, tal como os NY são dos Yankees.

 

Quando era pequeno, sempre fui mais a favor dos chapéus LA do que NY mas quando chegou a hora de ir a Los Angeles já era muito mais fã de basebol do que de proteger a cabeça do sol, depois de advertências constantes dos avós. O Dodger Stadium, não muito longe da downtown, foi uma paragem obrigatória.

 

Em 2016, quando viajei com a Sarah, já tinha tido duas experiências peculiares em 2010. No primeiro jogo, como espetador comum, fui de carro e a saída foi um pesadelo, demorando mais de uma hora para percorrer poucos metros no próprio parque de estacionamento. Dias depois, já como jornalista e lugar reservado para estacionar… tive a surpresa negativa de ficar sem bateria no automóvel.

 

Fazendo o flash-forward, seis anos depois, a ideia era arranjar outra forma de ir. Como o pesadelo do trânsito é comum, há autocarros gratuitos que fazem a ligação entre a Union Station e o estádio. Assim, fácil, sem stress e sem preocupação sobre arranjar lugar para estacionar ou, ainda mais importante, temer o regresso.

 

O jogo foi a 14 de abril, contra os Arizona Diamondbacks. Não havia nada que justificasse uma grande enchente. Não era o primeiro jogo da temporada, o adversário não era um grande rival e não passava do terceiro jogo de uma série de três encontros. Por isso, não estranhámos quando vimos demasiadas lugares vazios no estádio.

 

É aqui que a experiência se torna enganadora. Comprámos um lugar relativamente central, apesar de ser num anel mais superior e, como na grande maior parte dos estádios, não tínhamos necessariamente uma grande bancada à nossa frente: apenas o verde das árvores do Elysian Park. Infelizmente, deixou de existir uma construção de letras ao estilo de Hollywood mas que diziam “Think Blue”, graças ao azul dos Dodgers. Foram danificadas uns anos antes e nunca mais voltaram ao seu lugar.

Um lugar com vista privilegiada

Parecia ser uma experiência bucólica e tranquila, mas os dados mostram outra realidade. Cadeiras vazias? Talvez, mas ainda assim a lotação superou os 40 mil espetadores. É o que acontece quando se visita o maior estádio de basebol dos Estados Unidos: a grandeza é tal que se torna enganadora. Pensamos ser poucos, mas na realidade seríamos suficientes para esgotar alguns dos mais emblemáticos estádios do país – com destaque para o Fenway Park em Boston.

 

O desenrolar do jogo é uma experiência que tem tanto de idílica como de desportiva. O ambiente de natureza rodeia-nos – os arranha-céus da downtown estão atrás de nós (a visão é igualmente incrível) – e o pôr-do-sol é progressivo enquanto no relvado jogadores das duas equipas batalham pelo triunfo.

 

O ambiente é igual a muitos outros. Há festa, um órgão que estabelece o ritmo das palmas e cânticos ocasionais, e muita comida por onde escolher. Hambúrgueres, nachos, cachorros-quentes e bebidas de meio litro para garantir que nada falta na real experiência americana.

 

O jogo disputou-se a uma velocidade alta – sobretudo para um encontro de basebol – e demorou apenas 2h36. Quando acabou, sentimo-nos felizes por termos fugido ao trânsito. Aproveitámos para fotografar Los Angeles à noite e regressámos a pé, enquanto milhares caíam na armadilha do trânsito. Felizmente, tínhamos casa à espera em Chinatown, a pouco mais de dez minutos.

 

À terceira foi de vez, pensei.

Quatro dias em Los Angeles

 

É fácil cair no erro de acreditar que não se consegue aproveitar verdadeiramente Los Angeles sem alugar um carro. Compreendendo as vantagens, é possível poupar muitos dólares e horas passadas no infame trânsito angelino e, mesmo assim, visitar o essencial da cidade com recurso ao metro (sim, ele existe e está cada vez melhor) e aos autocarros. Da downtown a Hollywood, dos eventos desportivos à tarde em Santa Monica, passando por um pôr-do-sol no Griffith Observatory, o leque de soluções é vasto e promete seduzir-vos.

No meio dos canais de Venice

Vamos começar pelo… início. Um ponto de partida essencial é o sítio que escolhemos para ficar a dormir. Neste capítulo, mesmo que seja ligeiramente mais caro, ficar na downtown poderá vir a render muitos frutos nas movimentações durante os dias seguintes. É um lugar central, com acessos de autocarro e metro para praticamente todos os sítios de interesse. Se for esse o objetivo, vai valer muito a pena. Ali ao lado, Chinatown é outra opção bem servida de transportes e acessos.

 

Um dia pela downtown

 

A downtown é também um excelente local para começar a viagem e chega para ocupar um dia inteiro. É aqui que vão encontrar as raízes da cidade, no monumento de El Pueblo de Los Angeles, e a famosa Olvera Street. Não muito longe, praticamente do outro lado da estrada, fica a Union Station. Diferente de muitas das estações de comboio principais do país, cheira a «quente» e a antigo. Palco de inúmeros filmes ao longo das últimas décadas – ou não estivesse em Los Angeles – vale a pena a visita, mais não seja para beber alguma coisa e saciar a fome.

 

A paragem seguinte deve ser o Los Angeles City Hall. É um edifício bonito e histórico, mas o mais interessante é mesmo subirem no elevador até ao último andar. Aí, vão não só poder tirar fotos num palanque como se fossem políticos de elevado prestígio como – e isto é o mais importante – apreciar uma vista magnífica. Se o tempo ajudar – raramente chove mas pode não haver muita visibilidade – é de ficar boquiaberto.

#Sarah2020?

Los Angeles pode ser vista como uma cidade plana mas a downtown tem as suas pequenas subidas que tornam as caminhadas mais difíceis. Mas vale a pena. Da City Hall até ao Walt Disney Concert Hall é uma subida significativa, mas compensa ver a arquitetura do edifício e, quem sabe, dar uma vista de olhos lá dentro.

 

A partir daqui o resto será mais simples. Continuando para sudoeste, passarão pelo Grand Central Market, perfeito para almoçar e retemperar energias para o resto do dia, antes de seguir para o Staples Center, a cerca de dois quilómetros. Se houver jogos dos Lakers, Clippers ou Kings, perfeito. Caso contrário, não deixa de ser uma boa oportunidade para ver a casa onde Kobe Bryant brilhou ao mais alto nível. À entrada, as estátuas não deixam esquecer as glórias do passado. Ah, ali perto podem também fazer uma visita ao Original Pantry Cafe, famoso por nunca ter fechado nem ter estado sequer sem pelo menos um cliente desde a abertura em 1924. Nós ficámo-nos pelas panquecas e waffles mas há mais opções.

 

Outra alternativa, mas aqui mais a norte, perto do sítio onde começaram o dia, é ver um jogo de basebol no estádio dos Dodgers, o maior dos Estados Unidos desta modalidade. Em dias de partida, há autocarros gratuitos que saem com regularidade da Union Station.

Estádio Olímpico de Los Angeles

Se não forem fãs do desporto presente mas quiserem ter uma vista de olhos sobre o do passado, apanhem um autocarro ou o metro até ao Estádio Olímpico onde, em 1984, Carlos Lopes conquistou a primeira medalha de ouro de Portugal. Há referências às edições acolhidas (1932 e 1984) e está perfeitamente integrado no campus universitário de USC. É também, atualmente, a casa dos LA Rams, do futebol americano.

 

De Hollywood ao Griffith Observatory

A imagem diz tudo

Muitos acreditam que é impossível dissociar Los Angeles de Hollywood. É lá que os sonhos são feitos e milhões de aspirantes tentaram a sua sorte durante décadas e décadas de cinema. Naturalmente, o local está apinhado de espetáculo a cada passo que dão, e é possível encontrar inúmeras referências de filmes – como a da igreja do Do Cabaré para o Convento, ao prédio em que Richard Gere subiu pelas escadas de incêndio para reconquistar Julia Roberts em Um Sonho de Mulher.

 

Se preferirem ficar mais no coração de Hollywood, podem sempre visitar o Dolby Theatre, a passadeira da fama e o pequeno espaço repleto de marcas de mãos das maiores figuras do cinema mundial. Entre museus, visitas guiadas e outras opções, só precisam de escolher o que pretendem fazer para potenciar ao máximo a visita. Se quiserem comer alguma coisa, recomendamos os gelados da Ghirardelli, claro.

 

Para terminar o dia, talvez seja uma boa opção encontrarem uma forma de chegar ao Griffith Observatory. Com um planetário e exposições científicas interessantes, é a vista sobre todas as «pequenas» cidades da área metropolitana, a downtown e o sinal de Hollywood que vos vai conquistar. Para saberem mais, basta lerem o que já escrevemos sobre uma tarde perfeita aqui.

Griffith Observatory

 

Dia de praia… e para descansar

 

Venice e Santa Monica são dois sítios obrigatórios de Los Angeles (apesar de, tecnicamente, já se situarem fora da cidade). Se até há uns anos – nós ainda sofremos com isso – não era tão fácil lá chegar de transportes (até era, mas só de autocarro), hoje a linha de metro já se expandiu e há uma estação em Santa Monica.

 

Aproveitem. Os norte-americanos não parecem gostar muito de usar o metro e o serviço é bastante agradável, especialmente para quem não viaja de tempo contado. À saída, o Santa Monica Pier é um fiel retrato de tudo o que imaginamos. Simbolizando o fim da famosa Route 66, podemos encontrar uma montanha-russa, lojas e mais lojas e opções para comer. Isto tudo enquanto nos perdemos por um horizonte infindável de areia e torres de vigia que nos fazem lembrar David Hasselhoff, Pamela Anderson, Yasmine Bleeth, David Charvet e companhia (sim, fãs de Baywatch, isto é para vocês!).

Santa Monica Pier

O passeio marítimo até Venice pode ser longo, mas recomendamos. Podem passar pela Muscle Beach, pelos courts de basquetebol, pelos skaters e pelas lojas que vendem todo o tipo de t-shirts, tatuagens e, às vezes, até consultas médicas de marijuana. Cada novo trecho de praia tem um ambiente distinto que vão querer absorver.

 

Não percam a oportunidade de sentir os pés envolvidos pela areia e, claro está, molharem o corpo no Pacífico. Afinal, não é uma das imagens que temos sempre da Califórnia?

 

Explorar os limites do metro

 

Quatro dias não são suficientes para ver e fazer tudo o que Los Angeles tem para oferecer. Poderão tentar fazer compras na Rodeo Drive, andar pela Mulholland Drive ou ir até Malibu, ou mesmo apostar num programa cultural e visitar o divertido (nas redes sociais, sobretudo) e recomendado LACMA (Los Angeles County Museum of Art).

 

Ou, em sentido contrário, podem deixar Los Angeles para trás e seguir numa das linhas de metro que só termina em Laguna Beach. Tem muito do que tem Los Angeles mas em formato mais pequeno. Famosa pela corrida de IndyCar, tem praia, zonas ribeirinhas para passar a tarde e uma estrada repleta de palmeiras que torna impossível qualquer ideia de trabalho a sério. Se estiverem quase a regressar de férias, pode ser um excelente sítio para esgotarem os últimos cartuchos e ficarem com a sensação que me invadiu das duas vezes que estive em Los Angeles.

 

«Não sei se gostei, mas acho que quero voltar. Sinto que ficou muita coisa para ver.»

Top-5 de São Francisco

 

Tarefa ingrata, esta de resumir São Francisco a uma mão-cheia de coisas melhores que outras. A cidade californiana é um tesourinho de 7 milhas quadradas onde há espaço para tudo e mais um par de botas, mas aqui fica o nosso top-5:

 

1. Uma visita a Alcatraz

A entrada para Alcatraz

A ilha que é sinónimo de prisão, mesmo se encerrada há mais de 50 anos, não podia faltar no nosso top. Paragem imperdível para quem quer passear num parque natural (é mesmo verdade), saber mais sobre a história de alguns dos mais famosos mafiosos da história ou pôr os pés num cenário de filme, Alcatraz cumpre e supera as expectativas. Não se esqueçam de comprar bilhete com o máximo de antecedência possível.

 

2. Um jogo dos San Francisco Giants

Estádio dos Giants (seja lá com que nome está)

É um dos estádios de basebol mais bonitos dos Estados Unidos (e, portanto, do mundo) e, só por si, vale uma visita. Mas a possibilidade de ver as bancadas vestidas de cor-de-laranja e um home-run a ir parar à baía dão força à ideia de que ver um jogo dos Giants é uma experiência a não perder.

 

3. Um lanche (e depois mais dois ou três) na Ghirardelli

Não há como enganar ao ver aqueles olhos

Não só empresta o seu nome a uma das praças mais bonitas para sentar e ver as vistas (ou as pessoas) em São Francisco como é um dos nomes que não passam despercebidos na cidade. A Ghirardelli Chocolate Company tem mais de 150 anos de história e, com base nos seus maravilhosos chocolates, faz sobremesas de comer e chorar por mais. Nós somos irredutivelmente atraídos pelo Land's End - uma junção de brownie, gelado de baunilha e caramelo salgado que não pode ser descrita, só experimentada.
(Dica: há pelo duas lojas na Ghirardelli Square - se virem uma enorme fila numa delas, o mais provável é que a outra esteja bastante apresentável)

 

4. Ir dar uns passinhos à (ou ao pé da) Golden Gate Bridge

Gold Gate Bridge

Ir a São Francisco sem chegar perto da Golden Gate Bridge não fica nada atrás de um verdadeiro sacrilégio - mesmo que sejam de Lisboa e considerem aquela ponte uma miniatura da 25 de Abril. O melhor conselho que temos para vos dar é que se preparem para uma caminhada e comecem a subida em Baker Beach - o caminho até à ponte vai presentear-vos com belas imagens (e o exercício físico nunca fez mal a ninguém - sobretudo se já tiverem passado pela Ghirardelli). Quando chegarem à ponte, é escolha vossa se querem atravessá-la ou, como bons medricas, ficar a olhar de terra firme.

 

5. Musée Mécanique

Não percam o Musée Mécanique

O menos óbvio dos nossos imperdíveis é o Musée Mécanique, que teve direito a post só para si: um espaço de diversões cheio de jogos de arcada antigos, que funcionam com moedas de 25 cêntimos (os quarters) e podem proporcionar horas de diversão. Evitem só ser daqueles que ocupam o mesmo jogo durante 25 minutos - vai ser difícil, nós sabemos, mas o mundo às vezes merece boas pessoas.

Nada pagaria tanto IMI no basebol como o estádio dos Giants

 

Começou por chamar-se Pacific Bell Park em 2000. Desde então já foi rebatizado três vezes: para SBC Park em 2004, para AT&T Park em 2006 e, no ano passado, para Oracle Park. Independentemente do nome, o estádio dos San Francisco Giants é um regalo para a vista e merece a visita. Mesmo que os bilhetes não sejam dos mais baratos na liga.

A vista é esplendorosa apesar do mau tempo

A modernidade trouxe um sabor insonso às infraestruturas desportivas. Já não me lembro bem onde li pela primeira vez que os novos estádios das fases finais de Europeus e Mundiais parecem sair todos do mesmo molde e deixou de ser possível identificar imediatamente em que ano foi um determinado jogo só pelo estilo da construção do estádio onde foi disputado.

 

Estádios ingleses, italianos, sul-americanos, de países de leste, norte-americanos pareciam ter sempre uma pegada inconfundível. Hoje, parece tudo mais do mesmo. São cobertos, aumentaram o conforto e são planeados rigorosamente para nos agradar, disso não há dúvida, mas perdeu-se a diferenciação.

 

Nos Estados Unidos está a viver-se isso no basebol também, mas persistem estádios que nos transportam para o antigamente e que trazem elementos diferenciadores. Se Fenway Park (Boston) e Wrigley Field (Chicago) se destacam naturalmente por serem construções da segunda década do século passado, o estádio dos San Francisco Giants, apesar de ser mais recente, é um mimo de se ver. E foi construído na baía de São Francisco, paredes-meias com a água e, dependendo da bancada, é possível ver a Bay Bridge, que liga a cidade a Oakland.

Um nome que já faz parte do passado

O estádio pode ser do século XXI mas tem um instinto antigo. E nós, habituados a ver as imagens pela televisão, não quisemos perder a oportunidade. Destacando-se pelos seus tijolos alaranjados, o estádio diferencia-se pela vista, pela bancada baixa do lado direito (em cima da baía) e… pela enorme luva que está ao lado de uma igualmente enorme garrafa de Coca-Cola do lado esquerdo.

 

Os bilhetes não foram baratos, a mais de 50 dólares por pessoa. O jogo com os Los Angeles Dodgers – eterno rival – logo no início da temporada não ajudou. Mas, apesar do mau tempo (choveu ligeiramente), compensou. E, verdade seja dita, era um dia especial.

 

O encontro pode ter começado às 19h18 de São Francisco mas em Portugal já passava da meia-noite. Foi o jogo do aniversário da Sarah. Desde que começámos a visitar regularmente os Estados Unidos, escolhemos quase sempre a semana em que faz anos. Já viajámos no próprio dia para Washington, já visitámos um famosíssimo bar de blues em Chicago e… vimos um jogo dos San Francisco Giants.

A vista do nosso lugar era esta

Na primeira viagem, em Washington, vimos um jogo no dia seguinte, e a Sarah teimou que queria uma bola batida por um dos jogadores. Estivemos mesmo perto, mas alguém se antecipou. «Nem te mexeste! Podias ter-te esforçado», acusou, realçando que fazia anos (mesmo sendo no dia seguinte) e que merecia uma prenda.

 

Ter boa memória tem destas coisas. Dois anos depois, no regresso aos Estados Unidos, não perdi a oportunidade em São Francisco e antecipei-me. Depois de chegarmos aos nossos lugares, disse-lhe que já voltava e fui direto à loja comprar uma bola. Foi assim que começou a tradição de comprar bolas de basebol em todos os estádios que visitamos durante as viagens.

 

Pode ter sido batota mas ficou contente. Mais ainda do que com o jogo em si. Não foi espetacular durante grande parte das duas horas e 58 minutos que demorou e, como é habitual, as atenções perdem-se entre conversas, como a que é mantida com o bebé que faz as delícias das últimas filas.

 

A tradição é assim mesmo. Levar uma criança de meses para um jogo de basebol tem sido uma constante por todos os sítios em que passamos. Mais ainda do que na NBA e no futebol americano, o basebol resiste como evento de experiência familiar, dos mais novos aos mais velhos.

Parede recorda grandes nomes de outros tempos

Dentro de campo, só o final foi espetacular. Até lá, contudo, tivemos inúmeras oportunidades para contemplar aquela vista fenomenal, que em Portugal seria mais do que motivo para elevar o valor a pagar do IMI. Nós não precisámos de abrir os cordões à bolsa. Não conseguíamos ver a ponte mas acompanhámos a baía durante o pôr-do-sol e foi impressionante, mesmo no meio da neblina e chuva que apareciam ocasionalmente.

 

Quando o jogo foi para extra innings (chamemos-lhe prolongamento), pensámos que a experiência pudesse vir a ser desconfortável. E se nunca mais saíssemos dali? Em outubro de 2018, houve um jogo da World Series que só terminou sete horas depois. Será que corríamos esse risco em 2016? Não… e foi impressionante.

 

Pela primeira vez, pudemos assistir a um walk-off home run. E o que quer isso dizer? Foi o que aconteceu quando um jogador dos San Francisco Giants atirou a bola diretamente para fora do campo, ali à nossa frente, e garantiu instantaneamente a vitória à equipa.

 

O basebol pode ser dramático e muda tudo numa questão de… um segundo. Num instante o pitcher dos Dodgers está a lançar a bola, no seguinte há mais de 40 mil pessoas a festejar exuberantemente a vitória contra o grande rival. E nós estávamos lá.

Musée Mécanique - o tesouro escondido de São Francisco

 

"O que fazer na cidade X?" ou "Guia para a cidade X" são pesquisas recorrentes para mim. Assim que marco uma viagem, ou ainda antes de a marcar, já costumo ter uma ideia do que há para ver e quais são as grandes atrações turísticas.

 

Mas é quando finalmente começo a delinear planos e a preencher folhas de excel com itinerários que a diversão começa. E, muitas vezes, o que faz a diferença numa viagem não está nas primeiras páginas do Google quando se pesquisa "O que fazer em X" (a não ser, claro, que a pesquisa mostre o atlas de bolso nos primeiros resultados).

Posso garantir-vos que ganhei

O Musée Mécanique, em São Francisco, é um desses casos; encontrei uma referência a este museu - que não o é bem, mas já lá vamos - numa lista qualquer de coisas a fazer à 25.ª ida à cidade, e assim que percebi o que era, sabia que tinha de lá ir experimentar. Trata-se de um espaço (não tão grande assim) cheio de... jogos de arcada.

 

Uma visita ao Musée Mécanique, para mim, nascida nos anos 90, não é uma "trip down memory lane"; é um encontro com os jogos dos filmes, que mostram horas e horas de diversão em salas com pistas de skee ball, os clássicos "termómetros" de força - ou de amor - ou sortes contadas e desejos realizados por videntes mecânicas (como Tom Hanks no filme Big).

 

Não nos chegamos a sentir como Tom Hanks. Na verdade, somos o seu exato oposto. Ao pedir um desejo naquela noite na feira, a personagem do filme queria ser grande, queria poder entrar na montanha-russa. Em sentido contrário, nós, ao entrarmos neste espaço, sentimo-nos novamente pequenos.

Atrevem-se a testar o vosso amor?

O Musée Mécanique não defrauda em nada as expectativas. Quando o encontrámos, bem refastelados depois de um lanche na Ghirardelli, íamos preparados, com os bolsos cheios de "quarters" que andávamos a guardar desde que chegámos. A verdade é que, depois de duas horas a matar palhaços, marcar um montão de pontos no skee ball e ser trucidada a encestar, os bolsos saíram vazios, mas o sorriso que tínhamos de orelha a orelha mostrava que a escolha tinha sido acertada. (Ou não tivéssemos voltado, "só para um joguinho", assim que pudemos.)

Alcatraz foi uma experiência perfeita em São Francisco

 

A prisão de Alcatraz encerrou em 1963 mas manteve-se no imaginário dos Estados Unidos e no do resto do mundo sem grande problema. Para quem crescia em Portugal, na década de 90, era difícil fugir às referências da prisão mais famosa do mundo, à conta de filmes baseados no famoso rochedo que se decidiu sentar na baía de São Francisco.

Ilha de Alactraz durante a aproximação de barco

O nome é suficiente para impor respeito: Alcatraz. A ideia de uma prisão numa ilha nem sequer era nova – basta ver o que o Reino Unido chegou a fazer com a Austrália, uma ilha "ligeiramente" maior -, mas nenhuma conseguiu impor tanto respeito e tornar-se tão famosa como esta. Mesmo sem cangurus.

 

Por isso, quando decidimos marcar a viagem para São Francisco, a visita à antiga prisão, agora tornada parque natural (o segundo mais visitado nos Estados Unidos, apenas atrás de Yosemite), foi um ponto de passagem obrigatório.

 

A reserva foi feita, como é aconselhado, com meses de antecedência. A Sarah estava em cima da urgência do assunto e, como sempre, não vacilou. Eu deixei-me levar na onda, como também é habitual.

 

Se o primeiro dia em São Francisco foi passado a ver desporto em… Oakland, o segundo tinha início marcado para Alcatraz. A caminho do cais 33, de onde saem os barcos para a ilha, chegámos a stressar com a lentidão do elétrico, mas tudo correu bem. Tudo, salvo seja. Estávamos sem máquina fotográfica e limitados às imagens capturadas pelos telemóveis.

 

Visitar Alcatraz é sobretudo uma imaginação mental. Nem é preciso ouvir os guias para saltarmos para um mundo em que os criminosos que davam problemas aos estabelecimentos prisionais espalhados pelos Estados Unidos eram recambiados para a Califórnia. Al Capone e Machine Gun Kelly estão entre os mais famosos.

 

Quando o barco atraca na ilha, recebemos as primeiras instruções. Falam-nos de tudo um pouco e não esquecem o tema mais tabu que algo tão famoso pode ter: as fugas. O mito dos tubarões que até usavam uniforme policial, as correntes fortes, a temperatura da água e muitas outras lendas foram, com o passar dos anos, crescendo de tom e serviam de desmotivação para quem tentasse fugir. Houve, ainda assim, tentativas. Uns morreram, outros desapareceram nas águas da baía, sem que o corpo alguma vez tivesse sido encontrado. Oficialmente, porém, o registo é claro: nunca ninguém conseguiu sobreviver após uma tentativa de fuga.

As marcas da ocupação índia no famoso reservatório de água

Está tudo organizado ao pormenor, até porque o fluxo diário é intenso e nada pode falhar. As marcas famosas de Alcatraz estão todas ao nosso alcance: os sinais da ocupação índia durante uma manifestação no final da década de 60, o reservatório de água, o edifício central onde ficavam as celas e… a esplendorosa vista para São Francisco, de um lado, e para a Golden Gate, do outro.

Vista para São Francisco

O edifício central promove, como nenhum outro, uma viagem ao passado. Vemos os chuveiros e deparamo-nos com a informação de que a água era sempre quente, para que os prisioneiros não se conseguissem adaptar a temperaturas frias antes de possíveis fugas pelas difíceis águas da baía. Passamos também pela cantina – única forma de comer em Alcatraz durante o dia -, onde a placa mantém a informação do último pequeno-almoço servido em 1963.

O pequeno-almoço servido no último dia da prisão

O ponto de maior destaque é, naturalmente, o bloco de celas. Somos introduzidos por um guia ao ruído implacável das portas das celas a abrir e fechar graças a uma alavanca manual. O barulho pode não ser ensurdecedor mas faz-nos engolir em seco.

As pequenas celas individuais de Alcatraz

Grande parte do castigo em Alcatraz era sonoro. Não apenas das celas a abrir e fechar diariamente mas também pelo que se ouvia através das janelas. O som constante das gaivotas, dizem-nos, chegou a enlouquecer alguns. Mas o mais difícil era mesmo quando o vento estava favorável e se ouviam, ao longe, as vozes dos homens e mulheres que se divertiam em São Francisco em dias de festa. Parafraseando Ornatos Violeta, estavam ali tão perto. Conseguiam ver (e ouvir), mas não agarravam.

 

A visita tem outros pontos de interesse. Sabemos que Alcatraz era uma verdadeira comunidade e havia famílias inteiras – dos guardas prisionais – a viver na ilha. Houve mesmo quem lá tenha nascido. Depois, passamos pela biblioteca, pela zona de recreação, pela sala das visitas e, já noutros edifícios, por uma exposição sobre presos nos Estados Unidos, num local onde os prisioneiros trabalhavam diariamente, fosse a coser calçado ou outra coisa qualquer.

Uma das muitas divisões de Alcatraz

Antes da despedida, visitamos a loja da prisão e somos – achamos nós – presenciados como uma coincidência incrível. William G. Baker, um dos dois antigos prisioneiros de Alcatraz ainda vivos, está a promover o seu livro – sobre a vida na ilha – distribuindo autógrafos e respondendo a perguntas dos curiosos.

 

Estava a caminho dos 90 anos e parecia apenas um velho simpático. Para trás, (descobrimos depois de ler o livro, não autografado, porque a fila era grande) estava uma vida de falsificação de cheques, motins na prisão, uma fuga e outros episódios menores que fizeram com que passasse a vida na prisão, com breves saídas, entre os 18 e os 80 anos.

 

Regressamos ao barco com a sensação de que Alcatraz é verdadeiramente especial. Senti-me mais rico com a experiência, feliz por fazer algo que nunca tinha imaginado para a minha vida. Nos dias seguintes, sempre que possível (e foram muitas as vezes), olhava novamente para a ilha e, já com a máquina fotográfica na mão, tentava encontrar o melhor ângulo para eternizar aquele momento.

 

Mesmo que não tenham crescido com a ideia de Alcatraz na cabeça, seja através de filmes com Sean Connery ou não, não percam a oportunidade de reservar a visita com antecedência. É estranho dizer isto sobre uma prisão, mas é imperdível.

Uma tarde de desporto com sessão dupla em Oakland

 

Não é novidade para ninguém – ou por esta altura já não devia ser – que não perdemos uma oportunidade para ver desporto sempre que vamos aos Estados Unidos. Mais do que acessório, é uma coisa com que nos preocupamos na altura de marcar a viagem e até costumamos preferir ir em abril, por saber que é o mês perfeito para conjugar basquetebol, basebol e hóquei no gelo.

 

As cidades não são todas iguais e oferecem alternativas diferentes. Há umas que nem sequer têm as três modalidades e outras em que para ir de um recinto para outro é preciso contemplar pelo menos uma hora de transporte. Outras, como Filadélfia, são o oásis. Nunca vimos nenhum jogo mas passámos numa autoestrada lá ao lado que nos permitiu perceber: ali, num espaço reduzido e partilhando parques de estacionamento, estão o pavilhão dos 76ers (NBA) e Flyers (NHL), o estádio dos Phillies (MLB) e o dos Eagles (NFL). É perfeito, mesmo que raramente joguem no mesmo dia.

Golden State Warriors-San Antonio Spurs foi o prato forte do dia

Em Oakland, durante a viagem a São Francisco em 2016, aproveitámos para explorar algo semelhante. Sim, foi preciso atravessar a baía, numa viagem de cerca de meia hora, mas o programa daquele 7 de abril, o primeiro dia completo que tivemos na Califórnia, compensava. O Oakland Coliseum, casa dos Athletics (MLB) e Raiders (NFL) fica literalmente ao lado da Oracle Arena, pavilhão dos Golden State Warriors (NBA).

 

Quando programámos a viagem, não podíamos ficar mais satisfeitos: os Athletics jogavam com os Chicago White Sox às 12h37 (sim, os horários do basebol são muito sui generis) e os Warriors recebiam os San Antonio Spurs às 19h30. A sessão dupla estava combinada. Nada podia correr mal.

 

Escaldão da praxe

 

Nós devemos ser as únicas alminhas do mundo que apanham mais escaldões durante eventos desportivos do que na praia ao sol. A explicação até é natural. Afinal, quem é que se lembra de levar protetor solar para uma viagem em abril em que a praia não é um destino equacionado? Em casa dos Athletics, cedo percebemos que íamos cumprir o destino dos nossos narizes.

As marcas do crime uns dias depois

A hora de começo do jogo não enganou e os nossos lugares, nos famosos bleachers, ainda longe do centro da ação, eram mais um indício da nossa provação. Protegemo-nos da forma que pudemos, quando nos apercebemos para onde caminhávamos, mas não houve solução possível.

 

O ambiente do jogo foi estranho. Nunca tínhamos estado numa partida com tão pouca gente… especialmente tendo em conta que o coliseu é gigantesco. Com o anel superior fechado, a fazer lembrar os jogos da Taça da Liga dos grandes em Portugal, o mais próximo do relvado também tinha muitas clareiras. Athletics e White Sox não tinham grandes pergaminhos naquela temporada e a ausência de público – 12577 espectadores de acordo com os números oficiais – foram uma consequência natural.

Um estádio muito grande... com pouca gente

O ambiente era morno, e não apenas por causa do sol. Havia famílias inteiras, com crianças pequenas, perto de nós (e essas sim, tinham protetor para toda a gente, para dar e vender) e uma espécie de claque de apoio de jovens adolescentes com batuques, tambores e cânticos adequados a cada jogador.

 

Estarmos longe da ação - uma decisão ponderada prevendo a possibilidade de apanhar a bola de um home run - tornou o jogo mais… aborrecido. A experiência valeu por conhecermos mais um estádio e vermos duas novas equipas, mas o espetáculo oferecido (White Sox venceram 6-1) ficou abaixo do desejado. Afinal, em Oakland, em Portugal e todo o mundo, é sempre importante ter um bom ambiente para elevar a fasquia do jogo. Sem pessoas não há milagres.

 

O período de transição

 

Quando saímos de casa naquela manhã, tínhamos o tempo contado. Sabíamos que o trajeto da nossa casa no Mission District até à estação perto do estádio seria longo, por isso planeámos de acordo. Quando o jogo dos Athletics acabou, porém, não havia grande coisa que pudéssemos fazer enquanto esperávamos pela hora do encontro seguinte.

 

Um jogo de basebol demora – se tudo correr bem – aproximadamente três horas. O Athletics-White Sox terminou três horas e seis minutos depois do lançamento inicial. Ou seja, às 15h43 fomos «empurrados» para fora do estádio, sabendo que faltavam praticamente quatro horas para o segundo jogo.

Uma das entradas para a Oracle Arena

O problema? Os dois recintos são tão próximos, e «abandonados» num parque de estacionamento, que não há nada para fazer. Sim, a loja dos Warriors estava aberta mas, mesmo com muito boa vontade, não se consegue matar mais do que uma hora com isso. Na verdade, nós nem dez minutos estivemos lá dentro.

 

Conformámo-nos com a espera e ficámos numa praça localizada exatamente nos trinta metros – se calhar nem tanto – que separava o estádio do pavilhão, a fazer people watching. À sombra, os efeitos do escaldão começaram a ser notórios, não só pelos narizes de Rodolfo (a rena), ao mesmo tempo que começávamos a sentir frio.

 

Quando a movimentação começou a aumentar, decidimos aproximar-nos de uma das portas de entrada da Oracle Arena e percebemos que os nossos telemóveis apanhavam wi-fi gratuito. Menos mal, pensámos nós.

 

Um jogo que podia ser memorável

 

O jogo foi a 7 de abril mas tínhamos os bilhetes desde outubro, por isso estávamos longe de pensar o que ia acontecer. A época foi histórica para os Golden State Warriors. Campeões em título, eram a equipa mais espetacular da NBA e o jogo contra os San Antonio Spurs seria sempre importante. Mas ali, em 2015/16, a equipa de Curry, Thompson e companhia ia a caminho do recorde de mais vitórias de sempre na fase regular.

Pavilhão a abarrotar

As semanas que antecederam a nossa viagem trouxeram muito sofrimento. Estávamos a torcer para que o jogo com os Spurs pudesse ser a noite em que o recorde fosse batido. Ou pelo menos igualado. Não tivemos essa sorte: na semana da nossa viagem, os Warriors sofreram duas derrotas inesperadas em casa e o nosso jogo não seria mais do que o encontro da 70.ª vitória.

 

Atenção, continuou a ser importante. Era preciso ganhar para garantir a possibilidade de chegar ao recorde e nunca uma equipa, a não ser os Bulls de 1996, tinham alcançado essa marca. Mas não seria a última bolacha do pacote. O ambiente foi, mesmo assim, impressionante.

 

As pessoas faziam fila para entrar mais cedo porque ninguém queria perder a oportunidade de ver os famosos aquecimentos de Stephen Curry, prevendo o possível e até o impossível durante um jogo. Respirava-se confiança – no recorde e num novo título (que não chegou a acontecer) – e o pavilhão estava a abarrotar. As 19596 pessoas nem eram necessariamente muito mais do que no jogo de basebol, mas ali representavam um pavilhão cheio, sem cadeiras vazias e… num recinto fechado.

 

A vitória de Golden State foi fácil (112-101) e o que nos ficou mais na memória foi a mulher que, sentada perto de nós, insistia em explicar às pessoas a razão para gritar “nana” em vez de “defense”, cada vez que o pavilhão se juntava em uníssono para promover a defesa dos Warriors.

 

Os Spurs estavam no ataque e, subitamente, ouvíamos um “nana”, com o timbre e melodia mais enervantes que podem imaginar, sobretudo devido à repetição constante. "Nana" era a avó da dita mulher, já falecida. Estava convencida que a evocação da avó seria ainda melhor do que gritar o que todos os outros gritavam, por isso mantinha-se fiel ao seu espírito… literalmente.

Quatro dias em São Francisco

 

Qual é a primeira coisa que vos vem à cabeça quando pensam em São Francisco? Somos todos diferentes mas acredito que a esmagadora maioria possa pensar na famosa Golden Gate Bridge. Sim, é impossível ir a São Francisco sem ver a ponte, nem que seja à distância, e nem é preciso ser muito aventureiro para ir mesmo até ao tabuleiro – exceto se sofrerem de vertigens como a Sarah.

Não lhe peçam para se aproximar mais

Ver a ponte e perceber São Francisco estão diretamente ligados. Já ouviram falar no Karl? O Karl é o nome carinhoso que os habitantes dão ao nevoeiro que é uma presença constante na baía. Por isso, estejam sempre à espera que os vossos planos saiam furados. Mantenham-se atentos à meteorologia, deem flexibilidade ao vosso guia e (se conseguirem) apostem na visita num dia de céu limpo.

 

Atenção: a paisagem com o nevoeiro – especialmente se não estiver muito denso – consegue ser espetacular, vista da baía junto a todos os cais, sobretudo no Fisherman’s Wharf, mas se quiserem ir de facto até à ponte é melhor terem um cuidado redobrado. Por outro lado, o cartão de visita às vezes pode ser apreciado logo à chegada, se forem de avião e dependendo da rota. Nós tivemos sorte: chegámos a São Francisco vindos de norte e sobrevoámos a ponte, com uma vista fabulosa sobre uma cidade que ainda não conhecíamos. Foi o aperitivo perfeito.

 

Explorar os transportes públicos e jogar na antecipação

 

São Francisco é uma cidade cara e encontrar um alojamento bom numa zona central é uma tarefa complicada. No nosso caso, escolhemos um AirBnB perfeito no Mission District, uma zona residencial tranquila e com transportes públicos regulares para a zona mais movimentada.

 

A cidade não é propriamente amigável para estar constantemente a caminhar (vocês vão perceber porquê) – há momentos certos para isso mas convém ter sempre uma alternativa válida – por isso a nossa sugestão é apostar num passe de sete dias. Basta fazer o download no telemóvel e mostrar a aplicação ativa sempre que entramos num transporte público, seja autocarro ou elétrico.

Alcatraz é uma experiência única

O trabalho de casa também é uma parte muito importante da visita a São Francisco. Para quem, como eu, cresceu com filmes e sucessivas referências a Alcatraz, a visita à antiga prisão é uma obrigação moral. O problema é que os interessados são tantos que a reserva antecipada não só é recomendada como é obrigatória. A nossa sugestão? Assim que garantirem que vão a São Francisco, pesquisem logo sobre a reserva. Vale bem a pena e entrou para o meu top de coisas a fazer nos Estados Unidos.

 

O barco que faz a viagem entre São Francisco e Alcatraz sai do Pier 33, mais ou menos a meio da zona plana que vai da Bay Bridge (ponte que liga São Francisco a Oakland) até à Ghirardelli Square. Se, por exemplo, começarem o dia em Alcatraz, é muito recomendável que se mantenham por esta zona durante o dia.

 

Podem começar na ponta junto ao Ferry Building, que tem um mercado para vos abrir o apetite, e ir percorrendo todo o caminho, cais a cais, até à Ghirardelli Square, onde estão os famosos chocolates (então quando se juntam a gelado, e já agora a caramelo, são uma perdição!) junto a uma praça com uma vista privilegiada sobre a baía, Alcatraz e a Golden Gate. Há vários elétricos que fazem a ligação: podem não ser muito rápidos, nem regulares, mas pelo menos ajudam a poupar os pés.

A atração animal de São Francisco

Coisas que não podem mesmo perder neste trajeto? O Cais 39, famoso pelos restaurantes, lojas e… pelas dezenas de focas e leões marinhos que descansam nos suportes de madeira, e o Musée Mechanique, uma espécie de parque de diversões à antiga, com tudo a 25 cêntimos. Conselho: reservem uns quarters e divirtam-se durante bastante tempo.

 

Explorar as colinas e as vistas impressionantes

 

Se as pernas apresentarem – naturalmente – a fatura de um dia com tanta caminhada, podem e devem explorar as vantagens dos transportes públicos para conhecerem as atrações que ficam entre colinas. Sim, os elétricos podem não ser uma enorme novidade para portugueses, mas a experiência de subir uma das ruas mais inclinadas de São Francisco com grande parte do corpo de fora é imperdível.

 

Se quiserem fazer da zona dos cais o ponto de partida, um primeiro destino natural é a Coit Tower, uma torre com uma vista privilegiada sobre toda a cidade. Por si só, pode não ter muito para oferecer, mas a paisagem compensa e vale muito a pena.

Uma das muitas vistas da Coit Tower

Daí, poderão ver também a famosa Lombard Street, a rua de poucos metros mas muito inclinada e com constantes curvas apertadas. É um mimo para os olhos mas um desastre para quem a deseja fazer de carro. Tanto assim é que, no dia em que a descemos a pé, tinha o trânsito cortado por causa de um acidente. Entre destinos, podem também aproveitar para dar um pulo na Chinatown e aproveitar para visitar o vizinho bairro italiano, sem esquecer a passagem pela famosa livraria City Lights Booksellers.

 

Depois, se se quiserem afastar da zona mais central, têm dois destinos imperdíveis: as Painted Ladies, com um parque ótimo para descansar e tirar fotografias, e Twin Peaks, onde podemos realmente apreciar esta cidade cheia de colinas, inclinações e ruas muito íngremes.

 

Com a Golden State sempre no horizonte

 

É impossível esconder a excitação no dia em que finalmente se decide ir à Golden Gate e, ao sair de casa, o tempo parece perfeito. Sim, é claro que o tempo em São Francisco é sempre muito volátil, mas apanhar uma manhã de sol e com céu limpo é tão promissor que nos faz esquecer do resto.

 

Em vez de irmos diretos à Golden Gate, optámos por uma linha de «guilty pleasure», em que estaríamos sempre perto da ponte mas com outros passos a tomar pelo caminho, e é esse o traçado que sugerimos. Começámos por uma visita discreta e rápida ao Golden Gate Park e depois apanhámos um autocarro que nos deixou perto de uma zona residencial – muito rica – perto da Baker Beach.

Baker Beach é um paraíso fotográfico

Ora bem, a Baker Beach é “a” praia. Assim que começam a ver a areia, com a ponte em plano de fundo, o vosso cérebro dá pulos de êxtase. É um momento mágico quando finalmente percebem que a realidade acompanhou os desejos e estão finalmente num local que tantas vezes imaginaram no passado e que durante grande parte da vossa vida nunca pensaram que iriam realmente estar lá.

 

O problema? Finda a excitação e as inevitáveis sessões de fotografias, o caminho (a pé) até à ponte ainda é longo. Os quilómetros vão pesar nas pernas mas a cada curva, a paisagem parece reforçar-se, com árvores, flores e pássaros a invadirem o cenário da ponte, promovendo vistas inesquecíveis umas atrás das outras.

 

Chegados à ponte, contudo, a magia perde-se um pouco (desde logo porque a Sarah tem vertigens e não pondera sequer a hipótese de pisar o tabuleiro). O local está naturalmente apinhado e há ofertas de vários tipos, desde comida, lojas de recordações e umas placas ilustrativas de como foi a construção da infraestrutura.

Palace of Fine Arts também é um bom sítio para descansar

Quando esgotamos as alternativas, apanhamos um novo autocarro – os transportes públicos nunca nos falham – e vamos à procura de mais um destino que há muito está na nossa lista: o Palace of Fine Arts. Se cronometrarem o vosso dia ao pormenor, poderão também dar um pulo ao The Wave Organ e ouvir a «música» que as marés oferecem.

 

Outras coisas no menu

 

São Francisco tem um montão de coisas que agradam a gregos e troianos. Fora desta nossa "rota", mais simples, há muito para ver: a Market Street é uma das artérias principais da cidade e, por isso mesmo, onde estão concentradas a maioria das lojas de grandes cadeias. O Museu de Arte Moderna de São Francisco (fechado para obras quando lá estivemos) fica a dois passos, e qualquer museu que tenha exposições dedicadas à pop art, com Lichtenstein no cardápio, tem o voto da Sarah. Também na zona fica a Union Square, uma praça que podia ser muito banal se não tivesse uma exposição muito fora do comum: os corações de São Francisco.

 

No Mission District têm uma série de parques ótimos para relaxar; no vizinho Castro podem perder-se um dia inteiro à procura dos locais mais emblemáticos de várias lutas por direitos civis (e de passadeiras pintadas com as cores do arco-íris). Em Bernal Heights podem encontrar outras *daquelas* vistas sobre São Francisco.

 

O inevitável menu desportivo

 

O desporto faz sempre parte dos nossos planos e a zona de São Francisco-Oakland tem imenso para oferecer. Nós tivemos a sorte de, fazendo a viagem em abril, conseguir uma dose dupla em Oakland logo no primeiro dia completo da viagem.

 

O BART levou-nos de São Francisco até lá e tínhamos dois jogos à espera: ao início da tarde o jogo de basebol dos Athletics; ao início da noite a partida entre os Golden State Warriors (a caminho do recorde de vitórias na fase regular) e os San Antonio Spurs.

 

A distância entre o estádio e o pavilhão não chega, sem exagero, aos 50 metros. É perfeito para doses duplas como a nossa e para ter uma dose extra de desporto numa viagem. Por outro lado, também não quisemos perder a oportunidade de, um dia mais tarde, visitar o estádio dos San Francisco Giants (também de basebol).

Jogo dos San Francisco Giants em dia de chuva

Tem a fama de ser um dos estádios mais bonitos nos Estados Unidos e… é justo. A vista sobre a baía é impressionante, com a água a começar a dez metros de uma das bancadas exteriores, e as próprias cores tornam a experiência mais agradável.