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Guia para um fim-de-semana em Paris

Paris é uma cidade para todas as temperaturas

Um fim-de-semana em Paris está, obviamente, condicionado pelo tempo: o das 48 horas (mais coisa, menos coisa) que tem, mas também o que nos obriga a fugir da chuva e da neve ou a despir os casacos porque está demasiado calor.

 

Nós tivemos a sorte de já visitar Paris com um dos piores nevões dos últimos anos, com tempo primaveril e com um calor abrasador: este guia tenta jogar com as possibilidades. E não esquece que a Catedral de Notre Dame é para ver, mesmo que ardida e por fora.

 

Uma boa opção para quem chega a Paris, vindo de RER, é começar por explorar a zona do Marais. Claro que o Centre Pompidou chama a atenção, mas por vezes as filas são incomportáveis: vale a pena passar por lá e decidir se é de ficar ou não. Caso contrário, sigam o nosso conselho e ponham-se a caminho do Memorial de la Shoah, um pequeno museu e centro de documentação que aborda o tema do Holocausto em França. Uma boa forma de iniciar as lides parisienses antes de seguir para a Place des Vosges.

Place des Vosges

Esta praça é presença assídua em filmes e, só por si, isso valeria a visita, mas - por ser um oásis no meio da agitação de Paris - é também um excelente sítio para se ser introduzido ao charme da cidade. Depois de uma viagem de avião e umas boas centenas de metros de mochila às costas, é também uma boa escolha para se sentar a observar as fachadas e a petiscar qualquer coisa, se o tempo ajudar.

 

A paragem seguinte deve ser a Catedral de Notre Dame, ponto final. Nos próximos anos a visita ao interior deve ser impossível, mas não há forma de escapar a este marco da cidade. E o Sena está mesmo aí ao lado, num convite à reflexão, antes da rápida visita à Sainte-Chapelle, uma pérola da arquitetura gótica.

 

Depois de uma paragem para almoço - e que melhor sítio para o fazer do que as margens do Sena? -, pode ser boa ideia seguir para um museu. O Louvre é a opção óbvia, e foi a nossa escolha na primeira visita. Talvez não o fosse agora, mas a verdade é que tem coleções para agradar a gregos e troianos. O Musée d'Orsay, do outro lado do rio, é uma opção para quem gosta de arte do século XIX e início do século XX. Um bocadinho mais afastados estão o Grand e o Petit Palais, que acolhem exposições temporárias que podem cair no goto.

Louvre é uma opção óbvia

E, para aproveitar todas as horas disponíveis, que tal ver Paris de uma nova perspetiva com um cruzeiro noturno pelo Sena?

 

No segundo dia de viagem, sobretudo se calhar um domingo, é importante ter em atenção que a maioria do comércio fecha na cidade. Claro que isso não tem grande influência na rota turística, a não ser que estejam a planear comprar muitos souvenirs. Posto isto, a nossa recomendação é para que dividam o vosso tempo entre Montmartre, os Campos Elísios e a Torre Eiffel.

 

A subida até à Basílica do Sacré Coeur deve ser feita logo de manhã, quando ainda há pernas para tal: é um esticão, mas vale a pena, sobretudo se aproveitarmos para ver as vistas. Nada de funicular se queremos poupar dinheiro! A Basílica, em si, é lindíssima e a vista de Paris uma das mais "fotografáveis" que podemos conseguir. Outra opção é visitar ao pôr-do-sol, mas é possível que não sejam os únicos a ter essa ideia.

Uma vista de cortar a respiração

O próximo passo na agenda é entrarmos no mundo de Amélie Poulain e perdermo-nos pelas ruelas de Montmartre, que continuam recheadas de encanto. Uma paragem engraçada por aquelas bandas é a Place des Abesses. Ainda por aquela zona, a minha sugestão é apreciar um bom crepe (ou vários, que os há de muitas formas e feitios) para o almoço. Se estiver bom tempo, melhor: people watching numa esplanada é dos melhores passatempos que pode haver numa cidade que vemos pela primeira vez.

 

Depois de almoço, é voltar ao metro para chegar até à Torre Eiffel. Com sorte - e sem vertigens - a torre estará aberta, e farão uso dos bilhetes pré-comprados para evitar as filas monumentais que por ali se encontram. Para as melhores fotografias da torre em si, o melhor spot fica do outro lado do rio, na Place du Trocadéro.

Torre Eiffel

Daí, é um tirinho até ao Arco do Triunfo, e depois podem armar-se em chiques e descer os Campos Elísios até as pernas se queixarem. Claro que, se for domingo, a maioria das lojas que ocupam a rua vai estar fechada...

 

Se chegarem até lá, o Jardin des Tuileries é fantástico para passar umas horas ao final da tarde. Caso contrário, o Jardin du Luxembourg fica a uma curta viagem de metro de distância, e leva-vos a uma nova zona da cidade. O Panteão também está ali ao pé, e merece a visita.

Paris: o início da história do atlas de bolso

 

Paris foi a nossa primeira viagem, em janeiro de 2013 - não foi necessariamente pelo cliché, mas porque o Rui não conhecia e eu não me lembrava de nada, encontrámos um voo que achámos barato (como as coisas mudam!) e aconteceu. Muitas das nossas viagens "acontecem", agora que penso nisso - foi assim que fui parar à China, por exemplo.

 

(Available in English)

 

paris_1.jpg

Nenhum de nós tinha um fascínio enorme pela capital francesa, mas ambos tínhamos curiosidade. Viagem marcada, chegou o primeiro grande desafio: marcar um hotel. Na altura (snif) desconhecíamos o Airbnb e ainda nenhum de nós tinha prática suficiente para encontrar hotéis como agora. Acabámos por encontrar o Hotel Royal Aboukir, numa rua pouco recomendável, mas perto do centro e com um preço razoável. Done (a neve acabou por afugentar as prostitutas que, dizem, normalmente ocupam a rua - nós não vimos nenhuma).

 

Só faltava agora começar a dar largas ao meu OCD e planear tudo até à exaustão. Sim, há aquelas pessoas que gostam de não planear nada, as que gostam de ter assim uma ideia geral para não estarem completamente perdidas e eu, que tenho folhas e folhas de Excel com tudo o que há para saber sobre as atrações, os preços e os horários das coisas, mapas com milhares de restaurantes "guardados" e uma tabela com os sítios que quero visitar, e como é que tudo encaixa com tudo. Se à última hora quiser mudar, mudo. Mas tenho a opção de não pensar. Don't judge.

 

Obviamente que os musts não iam faltar na minha viagem: a catedral de Notre Dame, o Louvre, a Torre Eiffel, o Sacré Coeur, estavam todos no meu plano - e recomendo-os a todos, menos à Torre Eiffel porque... #vertigens. Mas o que vale mesmo a pena é fazer um roteiro onde se podem descobrir outras coisas, como o Memorial de La Shoah, que nos deixa o coração apertadinho.

 

Hoje, claro, faria uma viagem diferente, sem Louvre e com menos "grandes"... mas valeu pela primeira experiência (ah, agora também saberia que ao domingo tudo está fechado e não vale a pena planear passeatas ao frio, sem cafés ou lojas onde aquecer). Aprendemos muito do que gostamos e não gostamos, e foi a primeira grande prova que não há "one size fits all" no que diz respeito a viagens: não me peçam para visitar museu de arte atrás de museu de arte, por exemplo; mas ponham-me a caminhar durante uma ou duas horas ao longo do Sena.

 

Voo (ida e volta, por pessoa): 157 euros (Air France)

Alojamento (por noite, para duas pessoas): 77.5 euros

Transportes: Caderno de 10 bilhetes, 14.9 euros

Top-5 da combinação Riga-Tallinn

 

Arquitetura de inspiração soviética, vistas privilegiadas, gastronomia pouco local de nos deixar com água na boca e museus que nos ajudam a perceber um pouco melhor o terrível século XX que os dois países tiveram. A viagem a Riga e Tallin, num fim-de-semana grande, pode ter sido relâmpago, mas chegou para trazermos excelentes sugestões connosco.

 

1. Passeio pela zona velha de Riga

Vista no topo da igreja

Faz lembrar as pequenas cidades da Europa Central. A zona mais antiga, no coração de Riga, é suficientemente pequena para se fazer a pé, aproveitando todas as pequenas maravilhas que a cidade letã tem para oferecer. Não percam a oportunidade de aproveitar a vista do topo da Igreja de São Pedro.

 

2. Introdução à espionagem soviética em Tallinn

Museu oferece uma paisagem privilegiada

Chama-se Museu do KGB mas o termo pode ser um pouco enganador. No topo do Hotel Viru, em Tallinn, junta-se a excelente vista sobre a cidade banhada pelo Báltico e a memória da ocupação soviética, sobretudo o período em que o KGB operava missões de espionagem direcionadas aos hóspedes do hotel de luxo. Parece coisa de filme.

 

3. Museu da Ocupação da Letónia

Letões não esquecem influência de Boris Ieltsin

É demasiado fácil convencerem-nos a visitar um museu… desde que este demonstre uma faceta da história recente do país. Em Riga, o Museu da Ocupação da Letónia chega a parecer uma piada de mau gosto de um povo que foi sendo sucessivamente ocupado por soviéticos e nazis.

 

4. Uma refeição de chorar por mais no Kompressor

De ficar com água na boca

Bom, aqui talvez seja publicidade enganosa. Quando se comem os famosos crepes do Kompressor, na zona histórica de Tallinn, não se fica a chorar por mais porque as doses são grandes e é difícil juntar um crepe doce a um salgado. Seja qual for a escolha (talvez partilhar seja a melhor), não se vão arrepender.

 

5. Um passeio pela zona alta de Tallinn

São fãs de ironia?

Se por acaso não quiserem pagar os 12 euros pela possibilidade de saber mais sobre a espionagem do KGB no Hotel Viru, têm outra possibilidade de ver a cidade de uma posição privilegiada e sem pagar por ela. A zona de Toompea merece o passeio, não apenas pelas vistas que oferece, com um parque e muita beleza natural, mas também pela arquitetura de inspiração soviética, como a Catedral Aleksander Nevski.

Introdução à espionagem soviética do KGB no Hotel Viru

Uma das salas do centro de espionagem soviético

O melhor conselho para aproveitarem verdadeiramente esta experiência tem origem numa questão semântica: não partam do princípio que vão visitar o Museu do KGB, apesar de ser esse o nome que aparece em muitos sítios. Se fosse esse o nosso objetivo, muito facilmente íamos acabar por nos sentir defraudados e achar que tudo não passava de publicidade enganosa. Mas se, por outro lado, quiserem visitar a extensão da rede de espionagem que os soviéticos tinham num hotel luxuoso em Tallinn, as horas (não mais do que duas) passadas no topo do Hotel Viru valem muito bem a pena.

 

A contextualização é pouco mais do que um bem desnecessário neste tema da Guerra Fria associado a espiões. Desde pequenos – independentemente da idade ou geração – que somos expostos a filmes e referências de aparelhos de escuta, microcâmaras escondidas e controlo absoluto sobre determinados alvos. Na Estónia, na periferia do império soviético, o Hotel Viru em Tallinn era uma extensão natural da política de controlo aplicada pelo Kremlin e pelo KGB.

 

Só se consegue visitar com reserva (através do site do hotel), num dos tours com hora marcada, e é uma experiência que não terão em mais lado nenhum. Ao entrar no hotel, começam desde logo a imaginar o que seria noutros tempos. É um espaço igual a tantos outros alojamentos de luxo - mas datado - e é fácil passar por lá sem se saber que há mais para saber. Mas, à porta de um dos elevadores, à hora marcada, percebe-se que há um grupo a formar-se para saber mais sobre os métodos de espionagem aplicados no passado.

 

Nada era deixado ao acaso. Mesmo antes de visitarmos alguns dos espaços – nos andares superiores – somos introduzidos ao tema. Os turistas estrangeiros eram quase sempre controlados, bem como dignitários de visita à Estónia. Os quartos eram escolhidos a dedo para garantir um relatório extenso sobre tudo o que se dizia e fazia e até algumas mesas do restaurante do hotel estavam preparadas para garantir que nada se perdia.

 

A Estónia pode não ter sido o epicentro da Guerra Fria, e estava a milhares de quilómetros da zona «mais densa» da Cortina de Ferro, mas o que fica desta experiência é o exemplo. Perceber como se fazia, o que tinham à disposição e como comunicavam com o Kremlin – sim, havia um dos míticos telefones vermelhos que davam acesso direto a Moscovo quando se levantava o auscultador.

Estónios deixaram as salas como as encontraram

Em duas salas, somos expostos ao gabinete do responsável do centro de espionagem e a uma outra sala com vários artefactos necessários. Está tudo velho, e podia estar mais bem conservado, mas garante o efeito de nos transportar a um período emblemático da segunda metade do século XX. Além disso, vendem-nos a ideia de que algumas coisas foram deixadas exatamente como foram encontradas, para demonstrar a forma rápida e desordenada como Tallinn foi abandonada com o desmembramento da União Soviética.

 

Há ainda um extra que não pode ser ignorado: o Hotel Viru é o edifício mais alto da Estónia e as salas visitadas estão nos andares superiores. Isto significa, portanto, que a vista sobre a cidade é magnífica. Só a possibilidade de ver o resto da cidade e o Báltico valeria os doze euros da reserva. Assim é mais uma cereja no topo do bolo do que qualquer outra coisa. História e paisagem: uma combinação perfeita.

A cereja no topo do bolo

Uma viagem ao futebol dos pequeninos… em Tallinn

 

Começámos a fazer viagens em 2013 e já apanhámos grandes eventos desportivos. Já fomos atrás do último jogo do Kobe Bryant, vimos dérbis de Madrid, jogos do Mundial de râguebi, encontros de futebol americano, basebol, hóquei no gelo e muito mais. Qualquer um deles tem uma legião de fãs que pode soltar um comentário de inveja. Em sentido contrário, quase ninguém nos diz: «Quem me dera ter ido ver esse Estónia-Gibraltar!».

 

Ponto prévio: apesar de termos a fama não somos malucos. Legalmente, pelo menos, apesar de nunca termos sido testados. Fomos a Tallinn em finais de 2016 mas o motivo da viagem não foi ir ver o tal Estónia-Gibraltar de apuramento para o Mundial-2018. Por outro lado, não posso desmentir que assim que soube que ia estar na capital estónia nesse dia, não pensei noutra coisa que não estar nesse encontro.

 

Houve quem lhe tenha chamado doença. Houve quem tenha aproveitado para dizer que é estranho que alguém tenha coragem para ir ver um Estónia-Gibraltar às 21h45 de uma sexta-feira. Depois, as bocas: as perguntas sobre se tinha perdido alguma aposta ou quantos anos tinha apanhado (de castigo).

As fotografias possível do Estónia-Gibraltar

Antes, ao chegar ao estádio, com uma hora e meia de antecedência e depois de cerca de três quilómetros a pé, a movimentação era muito pouca. A bilheteira tinha quatro pessoas, todas do lado de lá. A comprar, apenas eu. Já sabia que a entrada custava 14 euros mas ainda assim não deixou de ser surpreendente o momento em que uma mulher me mostrou a planta do estádio para escolher exatamente onde queria ficar, tal e qual como se faz no cinema. Central coberta, topo coberto, topo descoberto, primeiro ou segundo “anel” era indiferente. O preço era o mesmo.

 

A entrada só se fez depois de uma pequena volta. O suficiente para entrar na loja – com as camisolas de todas as equipas da primeira divisão estónia expostas – e perceber que, após desconto, a camisola da seleção podia ser comprada por 42 euros. Continuando a volta, dei de frente com a zona mista, uma tenda improvisada com cinco ou seis grades, cujo acesso parecia estar à mão de semear para qualquer adepto.

 

Faltava uma hora para o apito inicial, por isso não foi surpresa que as bancadas estivessem praticamente desertas quando entrei. Ainda assim, persistia a dúvida: com aquele tempo, contra aquele adversário, que tipo de assistência teria o jogo? E haveria adeptos de Gibraltar? A brincar, passou-me pela cabeça garantir uma entrada direta para o Watts, ficando sozinho numa bancada a gritar pela seleção do rochedo.

 

Mas não, fiquei perto da bancada mais próxima da saída, junto de muitos estónios. Ser um português a ver um jogo de futebol no estrangeiro no segundo semestre de 2016 era um convite à conversa. E foi precisamente isso que aconteceu quando, sentado no meu lugar, mereci a curiosidade do homem ao meu lado, possivelmente detetando – com razão – que aquele não era o meu habitat natural.

 

Diz-me qualquer coisa impercetível. Peço para repetir. Fá-lo em inglês. Aponta-me para um grupo que passa à nossa frente no relvado e diz que é o primeiro-ministro, não escondendo o orgulho. A partir daí, a conversa desenrola-se e pergunta-me de onde sou.

 

- Portugal.

- Estiveram muito bem no Europeu. Parabéns pelo título.

- Obrigado.

- Então e Portugal não joga hoje?

- Joga, joga com Andorra.

- Ah, vai ser uma grande vitória.

- Nunca se sabe, nunca se sabe [digo, sabendo que não valerá a pena explicar-lhe o fado português e a tendência de Fernando Santos].

- Vai, vai. Não é preciso ser tão humilde.

 

Ele tinha razão. Portugal goleou Andorra por 6-0 mas a Estónia também não ficou muito atrás, derrotando Gibraltar por 4-0, numa noite de grande festa e um dos melhores resultados na história do futebol daquele pequeno país do Báltico.

 

O jogo – em si – não foi animador. Mas esse também não era o objetivo. Ali, praticamente no extremo europeu oposto a Portugal, vivia-se um futebol diferente. Um futebol dos pequeninos, um futebol em estado puro, sem os vícios que conhecemos e com motivos de alegria que hoje praticamente já nem conseguimos compreender.

 

É por isso que ver um Estónia-Gibraltar à noite, em outubro, numa sexta-feira em Tallinn não é necessariamente um castigo. Aliás, não é mesmo castigo nenhum. É uma experiência especial que nos faz sentir integrados no meio dos locais. Sim, podia não ter chovido. Sim, podia não ter estado um frio de rachar – sobretudo no regresso ao hotel – mas hoje, tanto tempo depois, é impossível não sorrir e pensar: «Ah, pois foi. Já vi um Estónia-Gibraltar!». Mal sabia eu que um ano e meio depois iríamos ver dois jogos do campeonato de Gibraltar consecutivos.

Três dias entre Riga e Tallinn

 

Três dias raramente são suficientes para ver a sério duas cidades, ainda mais quando se trata de duas capitais - mesmo que pequenas, mereciam mais que isso. Mas às vezes é só isso que temos, e um fim-de-semana grande passado por lá vale a pena de qualquer maneira.

Riga e Tallinn - o que andámos a fazer?

Se algum dia vos calhar a mesma sorte, ou se tiverem mais tempo mas quiserem saber por onde começar, aqui ficam as nossas dicas para passar um dia e meio em cada uma das pérolas bálticas que visitámos.

 

Um dia para explorar o centro de Riga

 

O Parque Bastejkalna é uma boa opção para arrancar, se quiserem virar as costas ao normal - que seria começar pelo centro histórico da cidade. Mas essa é exatamente a razão para sugerirmos isso: a maior parte dos turistas vai fazer o percurso inverso, e podem ganhar alguns minutos mais calmos ao inverter a ordem.

 

O parque ocupa as margens do canal que separa o centro da cidade das suas "avenidas novas" e merece a visita. Há um monte de recantos por explorar, cada um com o seu encanto especial, e, quer dizer, nunca ninguém deu o seu tempo como perdido num passeio por um parque bonito, certo?

Um passeio no parque é a melhor forma de começar a manhã

Ali ao lado encontram o Monumento da Liberdade de Riga, um obelisco que homenageia os soldados mortos durante a Guerra de Independência da Letónia. Se não lhe derem mais crédito, fica pelo menos a "photo op" e um piscar de olho àquela que deve ser a vossa paragem seguinte: o Museu de Ocupação da Letónia.

 

Nós somos uns fáceis em tudo o que diga respeito a história do século XX, por isso não podíamos passar ao lado deste museu que nos leva a perceber um bocadinho mais da história de um país que foi ocupado sucessivamente por soviéticos, nazis e soviéticos outra vez - com mais umas porradas pelo meio. Uma introdução fascinante à história política recente da região. (A morada da exposição permanente é Raiņa bulvāris 7, e não a que o Google Maps mostra se procurarem pelo museu)

 

Quando saírem, se não tiverem já dado por ela, vão ver claramente a Catedral Ortodoxa de Riga, com as suas espetaculares cúpulas douradas. Se for o primeiro exemplo desta arquitetura que veem - como foi para mim - não há como impedir o fascínio.

Catedral Ortodoxa de Riga

Atravessar o rio de volta vai levar-vos ao centro da cidade. Se o passeio começou de manhã, esta será uma boa altura para parar e almoçar, antes de seguir caminho até aos Três Irmãos, um conjunto de edifícios que representam os primeiros projetos de habitação na cidade, com datas de construção e estilos distintos.

 

Estão agora em pleno centro histórico de Riga, e é fácil de perceber. A cidade é bonitinha, mas o seu verdadeiro encanto está nos pormenores: veja-se a Casa dos Gatos, por exemplo. O nome é explicativo. Aproveitem para passear, enveredar por ruas e ruelas e acharem que se perdem - a verdade é que o centro é tão circunscrito que isso dificilmente vai acontecer.

 

A caminho da Igreja de São Pedro vão passar pelos edifícios da Grande Guilda e da "House of Blackheads", antigo ponto de encontro para a união dos mercadores, armadores e estrangeiros não casados, entre muitos outros. E depois verão a Igreja que, não tendo nada de absolutamente excecional em si, vos dará uma nova perspetiva da cidade: podem subir parte da torre e, do alto dos 72 metros da plataforma de observação, ver para além dos limites da capital.

Vista de Riga

Por termos visitado no Outono, o frio (e a noite precoce) matou-nos nesta altura, mas se por acaso forem até lá numa altura mais convidativa para andar na rua, a nossa sugestão seria rumarem às margens do Rio Duína Ocidental e verem o pôr do sol das suas margens.

 

O mercado e uma introdução a Tallinn

 

Tendo em conta que a viagem entre Riga e Tallinn dura cerca de quatro horas, de autocarro, o dia dois deste fim-de-semana alargado fica consideravelmente reduzido, mas ainda dá para aproveitar.

 

Para nós - e porque a estação central fica mesmo ali ao lado - isso significou fazer o checkout do nosso hotel e seguir para o Mercado Central de Riga, o maior mercado da Europa e incluído nas listas de Património Mundial da UNESCO em 1998. Além de (para quem gosta, que no nosso caso é só um de nós) ser sempre giro passear no meio de mercados de outros países, que nos permite fazer uma espécie de curso intensivo inicial na cultura local, tem comida maravilhosa, e muito barata.

 

Uns metros mais à frente fica a Academia de Ciências da Letónia, um edifício que grita "ocupação soviética", construído à semelhança das Sete Irmãs que Estaline erigiu em Moscovo. Um contraste incrível com os edifícios bonitos, de estilo muitas vezes gótico, que salpicam o centro de Riga.

 

Academia das Ciências de Riga

É tempo então de nos metermos no autocarro e atravessar a fronteira para a Estónia. Infelizmente em Tallinn a estação não é a meros passinhos do centro, mas a verdade é que há sítios piores para isso acontecer: os transportes são fantásticos e, em menos de nada, damos connosco a fazer check-in e largar as malas no hotel.

 

Se já leram uma coisa ou duas sobre as nossas viagens, estão a estranhar a falta de desporto até aqui. Nada temam! Conseguimos arranjar uma viagem que apanhava em cheio o fantástico Estónia-Gibraltar, em futebol, de qualificação para o Mundial da Rússia. Desta vez eu fiquei de fora - metade pelo frio, metade por uns problemas de saúde que me chateavam na altura - mas o Rui ocupou a sua tarde/noite a ver o grande clássico do futebol europeu. E eu, como boa pessoa, acompanhei-o até ao estádio e vim acompanhada de volta com uma camisola da seleção.

 

Um dia para explorar Tallinn

 

Se não fizerem mais nada em Tallinn, tratem de não deixar de lado estas duas coisas: uma visita ao Museu do KGB e um almoço no Kompressor.

Num dos (ventosos) miradouros de Tallinn

Caso tenham mais tempo - e, convenhamos, é provável que tenham mais algumas horas - sugerimos que comecem por explorar a zona de Toompea, a mais alta da cidade. Um aviso: pode ser ventosa. Por ser uma zona alta, tem uma série de plataformas de observação com vista privilegiada sobre a cidade - a de Piiskopi é uma das melhores.

 

Ainda no alto fica a Catedral de Alexandre Nevsky, mais um espetacular exemplo da arquitetura religiosa ortodoxa, construída no final do século XIX. Todo o bairro, com alguns dos edifícios mais antigos encontrados na cidade, merece um passeio demorado e pausas para absorver o ambiente da cidade. Tenham em conta, no entanto, que ao fim-de-semana em Tallinn fica a abarrotar de turistas/bêbedos/jovens vindos da Finlândia, de barco, para um par de dias "a viver barato".

 

Catedral Ortodoxa de Tallinn

Quando a fome apertar, a paragem obrigatória deve ser o Kompressor: um restaurantezinho que afinal não é tão pequeno assim, do qual mal se dá conta quando se passa por ele, e que serve uma versão de crepes/panquecas XXL maravilhosas, e ao preço da chuva. Nós cometemos o erro de pensar que podíamos comer um crepe salgado e uma sobremesa cada um. A não ser que sejam o Hulk, amigos, acho pouco provável que isso vá acontecer. Entrem, ponham-se na fila para pedir ao balcão e depois tentem arranjar um lugar para sentar enquanto esperam. No nosso caso, a espera foi curta - mas acho que mesmo que fosse longa, valeria a pena.

 

Estão a dois passinhos das portas da cidade, nomeadamente a Porta Viru, que fazia parte do sistema de muralhas que protegia Tallinn - algumas secções ainda são visitáveis. Muitas vezes, nessa zona, está montado um pequeno mercado com produtos agrícolas, souvenirs e muitas flores. É também aqui que se concentram a maior parte dos turistas - é que a subida a Toompea não é para todos ,- por isso não ficámos muito tempo.

 

O nosso destino final estava mais à frente, dentro do Hotel Viru - o hotel abriu nos anos 70 e era propriedade da Intourist, a agência de turismo russa. Com um bocadinho de imaginação - ou não tanta assim - percebem por que alberga, hoje, o Museu do KGB. Só se consegue visitar com reserva (através do site do hotel), num dos tours com hora marcada, e é uma experiência que não terão em mais lado nenhum. Vale todos os 11 euros do bilhete (esse escândalo de preço!).

Vista de Riga do Museu do KGB

Se ainda conseguirem espremer mais do dia, o Báltico está mesmo ali à mão de semear: e quem não fica feliz por ir conhecer outro mar?

 

Um pulinho ao Báltico para ver Riga e Tallinn

Uma vista sobre Tallinn

O problema de ter começado a escrever sobre viagens com cinco anos de atraso é que algumas memórias ficam pelo caminho. Nada de relevante, claro - as marcantes ficam, como o almoço que fizemos no Kompressor (mas isso é para outras conversas). Neste caso, o que se foi é a razão por que fomos parar a Riga e Tallinn num fim-de-semana grande de outubro de 2016.


A hipótese mais provável é que tenha olhado para os voos que saíam de Londres Stansted - para onde podemos voar de forma bem baratucha a partir de Lisboa - e encontrado preços interessantes para estas duas capitais bálticas, em datas porreirinhas. Sempre quis visitar a zona e, um par de anos antes de ir de Estocolmo a Helsínquia, Estónia e Letónia foram as minhas introduções ao Báltico.


Com viagem decidida - íamos voar para Riga no dia 5 e voltar de Tallinn quatro dias depois - foi tempo de nos dedicarmos à melhor parte da viagem. Ai, desculpem, essa é viajar. Adiante.


Decidimos dividir o tempo o mais irmãmente possível: íamos aproveitar um dia e meio em cada uma das cidades, com uma viagem de autocarro de quatro horas pelo meio. Claro que é difícil conhecer uma cidade num dia e meio. Não temos essa intenção. Gostamos de ver as coisas por nós - se só temos um dia, aproveitamos o que temos.

Um traço arquitetónico de Riga

Com o tempo contado, tornou-se fundamental ficar num local central - graças aos santinhos todos, ambas as cidades são muito baratas, e não é preciso rebentar a carteira para o conseguir. Isso também ajuda, claro, a gastar menos dinheiro em transportes - em Riga, por exemplo, só andámos de autocarro para chegar ao hotel, vindos do aeroporto.


Uma coisa a que não prestámos a devida atenção foi ao tempo que faz em Outubro naquelas latitudes. Não pensem que sou totó: vi as temperaturas, e rondavam os 10ºC. Achei que era mais ou menos como um inverno em Lisboa - spoiler alert, não é. Os 10ºC em Tallinn foram dos mais frios que apanhei na vida.


Depois de três dias no Báltico, a vontade de voltar - no verão - nunca mais me largou. Talvez tenha sido isso que me levou a Estocolmo e Helsínquia, e a marcar viagem até São Petersburgo. Mas hei-de voltar ali, à minha estreia.


Voo (ida para Riga, regresso de Tallinn, por pessoa, com escala independente em Londres Stansted): 150 euros (Ryanair)
Alojamento (por noite, para duas pessoas): Riga, 46 euros / Tallinn, 50 euros