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Top-5 de Berlim

A capital da Alemanha é a metrópole europeia com mais história para contar. Marcada pela guerra e pela divisão, já foi o centro das atenções desportivas por mais do que uma vez e tem um cunho social e cultural incapaz de ser ignorado. No meio de tanta coisa imperdível, ficamo-nos pelas primeiras cinco.

 

1. O Memorial na Bernauer Strasse

Muro de Berlim

O Muro de Berlim começou por ser apenas uma vedação mas evoluiu para uma das fronteiras mais inexplicáveis da Europa no século XX. Além de um panorama geral privilegiado sobre um setor, da varanda do Centro de Visitantes, vão encontrar documentários e informações sobre motivos, fugas, finais felizes e… infelizes.

 

2. Topografia dos Terrores

Um corredor de atrocidades

A história novamente em voga. Durante vários metros, não muito longe do Checkpoint Charlie, poderão acompanhar uma cronologia sobre todos os terrores que arrasaram Berlim ao longo do século XX.

 

3. Pôr-do-sol na cúpula do Reichstag

Se é bonito cá de baixo, imaginem lá de cima

Mediante reserva prévia, vão poder ver a cidade de um lugar privilegiado, sobretudo se tiverem em atenção a melhor hora para o fazer. Pode não ser tão alto como a mítica Torre da Televisão, mas é mais adequado a quem tem vertigens.

 

4. Visitar o Estádio Olímpico

Um estádio modernizado que transpira história

É um microcosmo da história alemã. Construído para os Jogos Olímpicos de 1936, foi sendo conservado e renovado e é hoje um símbolo de inúmeros momentos históricos, desportivos e não só. É uma excelente forma de combinarem história com desporto.

 

5. O museu da RDA

Ser alemão de leste por um dia

É um espaço pequeno mas movimentado. Perto da Catedral de Berlim e com vista privilegiada sobre o rio, poderão fazer uma viagem ao que era viver na República Democrática da Alemanha, percebendo que tipo de artefactos estavam disponíveis, como era o quotidiano e muito mais.

Berlim: um estádio como minicosmos da história

 

Não há cidade no mundo onde nos consigamos sentir mais próximos de uma personagem do The Truman Show do que Berlim. A capital alemã transpira momentos históricos do século XX e a cada esquina somos invadidos por marcas da II Guerra Mundial ou da divisão das Alemanhas.

 

(Also available in English)

A imponente entrada

Mais arrebatador do que isso é sentirmo-nos pequenos sempre que paramos para pensar e percebemos que a pessoa que temos à nossa frente terá uma história muito pessoal para contar. Dependendo da idade, pode até ter vivido com o Muro de Berlim e no epicentro da Alemanha Nazi. Ou simplesmente ouvido a história dos pais ou dos avós. Não precisou de ler nos livros como nós.

 

Berlim não é mais do que um enorme museu onde circulamos livremente e o Estádio Olímpico, de tão afastado do frenesim da metrópole, consegue ter momentos em que provoca uma viagem no tempo e nos sentimos parte dessa mesma história.

 

O metro no meio da floresta

 

A estação do Estádio Olímpico no metro de Berlim é a penúltima da linha U2. Fica já nos arredores de Berlim e, depois de uma fase em que nos deixamos levar pela azáfama da cidade, começamos a notar as carruagens cada vez mais desertas e a paisagem lá fora começa a substituir o cinzento dos prédios pelo verde das árvores.

 

É fácil sentirmo-nos perdidos, como se já estivéssemos a fazer parte de um novo mundo. Quando saímos na estação, não há uma única pessoa. Os carris entrelaçam-se em cinco ou seis linhas diferentes mas não há uma única carruagem a passar. Parece tudo abandonado.

 

A sensação parece cada vez mais forte quando saímos da estação, que até tem um pequeno museu do Metro de Berlim, com a parte de frente de uma carruagem amarela com destino ao Olympia-Stadion a sair por uma parede.

 

As indicações para o estádio impedem qualquer sensação de medo e, com o passar dos minutos, começamos a ver pessoas aqui e ali. Mas o sentimento de estarmos numa outra era parece persistir. No topo de um pequeno túnel lemos «Zum Olympia Stadion», uma facilmente decifrável indicação, mesmo para quem nunca tenha tido alemão, e imaginamos como seria a azáfama de outros tempos quando as carruagens chegavam repletas de adeptos em peregrinação até ao estádio.

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O túnel vai dar a uma pequena rua que, por sua vez, desagua na enorme praça do Estádio Olímpico. As marcas da imponência da arquitetura nazi são evidentes. O estádio pode ter sido remodelado para o Mundial em 2006, mas não é difícil vê-lo na década de 30, no período de maior pujança da Alemanha de Hitler.

 

De fora, continua a ter o aspeto clássico e duas enormes torres servem de enquadramento para os anéis olímpicos, que nos transportam imediatamente para 1936 e para os Jogos em que Jesse Owens desmitificou a noção de supremacia ariana propagandeada pelos nazis.

 

Curiosamente, não é a única invasão clássica de que somos vítimas. Junto à bilheteira onde compramos os bilhetes para visitar todo o complexo olímpico, está a decorrer uma exposição de carros clássicos que conseguem impressionar mesmo quem não é muito fã de automóveis.

 

Memórias desbloqueadas a cada segundo

 

Entrar no Estádio Olímpico, a partir do topo sul, serve quase como um desbloqueador de memórias a cada passo novo que damos. Talvez por se chamar Estádio Olímpico a ideia que mantemos sempre em mente é a dos Jogos Olímpicos de 1936, mas a história do estádio é muito maior.

 

Podemos estar esquecidos de outros momentos marcantes mas rapidamente eles são desbloqueados pelo olhar. Quando a pista de tartan de um azul berrante no meio de tanto cinzento se destaca, somos imediatamente transportados para os Mundiais de 2009, quando Usain Bolt estabeleceu o recorde do mundo dos 100 metros, que ainda resiste, de 9,58 segundos.

"Ruisain" Bolt

Do azul do tartan passamos para o verde da relva e imaginamos o peito de Materazzi a ser atingido pela cabeça de Zidane, não muitos minutos antes de Fabio Grosso decidir o Mundial de 2006 a favor da Itália. A história é tanta que nos sentimos pequenos de ali estar.

 

O complexo olímpico também está lá para nos fazer lembrar todos os momentos importantes pelos quais o estádio já passou. Num muro no exterior do estádio, durante vários metros, há pinturas que assinalam precisamente isso. Nós não resistimos a tirar fotografias: desde os sprints de Owens e Bolt ao concerto do U2, passando pelo erguer do troféu de Cannavaro em 2006 ou pelos festejos das alemãs durante um jogo do Mundial feminino em 2011.

 

Marcas do abandono

 

À medida que avançamos, a imagem moderna começa a ser substituída pela imagem clássica. Como se o bonito tivesse sido posto à frente, arrumando o abandonado mais atrás para não aborrecer os visitantes.

 

É aqui que entram as piscinas e o complexo onde se disputaram as provas de saltos. A água parece estar em condições, apesar de tudo, mas as bancadas estão com um aspeto de quem não vive há muito, com sinais de musgo e, muito possivelmente inalteradas desde a sua construção em 1936.

Complexo das piscinas

Por falar em 1936, sabemos já por esta altura que o nosso caminho vai terminar na famosa Torre do Sino do Estádio Olímpico. Ainda é preciso andar um bom bocado, apesar de visualmente estar já ali à nossa frente, e somos obrigados a contornar o Maifeld, uma enorme área de relva concebida para demonstrações de ginástica ou provas equestres.

 

Depois, finalmente, a Torre do Sino. Em toda a Berlim, é o local em que nos sentimos mais próximos de partilhar um espaço com Hitler. E isso nota-se no arrepio que sentimos na pele. O dia está nublado, mas não precisamos de estar muito agasalhados. Apesar disso, naquele instante, e também muito por culpa da construção de pedra, sentimos um frio na barriga muito mais intenso.

 

Os nossos passos ecoam lá dentro. Nas paredes, vemos imagens e lemos inscrições sobre o tempo da Alemanha Nazi. E vemos Hitler com vários dos seus ministros ali mesmo, naquele espaço, onde nós estamos naquele momento. E é intenso.

 

Alvo dos ataques dos Aliados, a estrutura já não é a mesma da década de 30. Teve de ser reconstruída, de forma fiel, em 1962. O sino dos Jogos Olímpicos de Berlim já não toca – rachou depois de uma queda durante um ataque britânico – e chega a parecer poético, tendo em conta que é uma referência a um dos períodos mais negros da história.

 

Mas, lá em cima, no topo da torre, o arrepio é substituído por uma arrebatadora contemplação da natureza. Com o Estádio Olímpico de Berlim mesmo à nossa frente – não há melhor sítio para o ver do que dali – conseguimos ver tudo o que nos rodeia, inclusive, ao longe, a omnipresente Torre da Televisão, construída pelos alemães de leste durante a era do Muro de Berlim.

A magnífica vista da Torre do Sino

É a sinédoque perfeita para acabar a visita ao Estádio Olímpico de Berlim. Ali, pisando a mesma terra que Hitler pisou, vendo o mesmo estádio em que figuras como Jesse Owens, Usain Bolt, Zinedine Zidane ou Fabio Grosso fizeram história e com uma construção, distante mas à vista, de uma época em que a Alemanha estava dividida.

 

É apenas uma pequena parte da viagem a Berlim mas ajuda-nos a entender o todo e a plantar uma vontade cada vez maior de um dia lá voltar.

 

 

 

Guardar para ler depois:

Estadio Olímpico de Berlim no Pinterest

 

Guia para três dias em Berlim

 

Três dias não são suficientes para ver Berlim. Já tivemos esta conversa noutras ocasiões, e já sabemos que sim senhora, três dias não são suficientes para ver cidade nenhuma, mas em Berlim a frase aplica-se mesmo. Basta pensar que, há não tanto tempo assim, a cidade era objetivamente duas - e, portanto, tem o dobro das coisas para ver.

Reichstag é um excelente plano de fundo

Mas também é verdade que muitas pessoas só têm mesmo um fim-de-semana grande para ver a cidade, e sempre é melhor que nada - porque até uma escala (afinal, por que é que a Lufthansa não tem hub em Berlim? Snif) de cinco horas valeria a pena na capital alemã.

 

Já expliquei antes por que é que Berlim é uma cidade para toda a gente, e por isso a ideia neste guia é explorar um bocadinho de cada coisa e dar um ponto de partida a quem está perdido na organização da viagem (ou aguçar o apetite a quem ainda não a marcou).

 

Dia 1 - Dizer olá a Berlim

 

A minha sugestão é que comecem pelo centro e partam daí para conhecer outras áreas da cidade. A Mitte é a zona central, e bem lá no meio, está a Ilha dos Museus: meus amigos, façam o que quiserem mas não percam o Pergamon. Eu não sou uma pessoa de museus, mas ver à minha frente - no meio de uma ilha berlinense e dentro de um edifício - um templo grego e uma das portas da Babilónia é de fazer o coração andar mais rápido. Não se chamaria Ilha dos Museus se fosse só pelo Pergamon: ao todo são cinco, e ali ao lado ainda têm a Catedral de Berlim. Há muito por onde escolher.

Catedral de Berlim

Entre a ilha e as Portas de Brandenburgo fica a Unter den Linden, e a nossa sugestão é que se passeiem pela avenida - há obras a decorrer um pouco por toda a zona, mas é um local privilegiado para perceber a imponência que marca muita da arquitetura berlinense.

 

Depois das fotografias da praxe naquele típico cartão de visita da cidade, façam uma curva à esquerda e parem um momento a contemplar o Memorial aos Judeus Mortos na Europa. Seguindo este percurso, é talvez o primeiro momento em que estamos frente a frente com um dos períodos mais marcantes da cidade, e um verdadeiro convite à introspeção.

Memorial dos Judeus Mortos na Europa

Porque o dia já está provavelmente longo (aproveitaram para comer, certo? E esperamos que tenha sido um kebab!), temos uma última sugestão para o dia: ver Berlim de cima, à noite. Para isso, é preciso algum planeamento prévio: alguns dias antes (ou semanas, dependendo de quando querem visitar), reservem a vossa entrada no Bundestag, o Parlamento Alemão, para conhecerem os meandros do edifício que alberga todas as decisões do país. O ponto alto é a subida à cúpula, de vidro, de onde podem ter uma visão panorâmica de toda a cidade.

 

Dia 2 - A Berlim da tragédia

 

Preparem-se, porque o dia hoje é duro - e não só fisicamente. Se quiserem começar calmamente, a minha sugestão é que visitem o Checkpoint Charlie. Apesar da carga histórica, hoje é mais uma atração turística "levezinha" que outra coisa. Por outro lado, podem sempre recorrer a uma das imagens mais marcantes da Guerra Fria e recordar que o impasse dos tanques da Crise de 1961 teve lugar ali mesmo.

Pormenor da Topografia dos Terrores

Muito perto, no entanto, fica a Topografia dos Terrores, e, aí sim, o soco no estômago é real. Imaginem um memorial, museu e centro de informação que junta todos os períodos maus da história da Alemanha: temos referências à I Guerra Mundial, temos o terror do período do III Reich e temos a dor da Guerra Fria. Tudo juntinho, num local que se podia ver em dez minutos mas no qual devem ficar bastante mais tempo do que isso.

 

Há muitas opções para o que fazer a partir daqui, na zona (entre elas o Museu Judaico), mas o tempo escasseia, pelo que a nossa sugestão é que sigam em direção à Potsdamer Platz. Vão passar por uma série de edifícios que albergaram organismos de Estado durante o século XX, e, num pequeno desvio, por uma torre de vigia da RDA (fica na Erna-Berger-Straße). Potsdamer é um sítio com muitas opções para almoçar e, frequentemente, um local de exposições, pelo que é uma boa ideia parar para arejar as ideias.

 

Um passeio pelo Tiergarten, o monumental parque que ocupa grande parte da zona central de Berlim, é uma boa ideia se estiverem com tempo, mas com apenas três dias a melhor solução para chegar à Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche é apanhar o autocarro (200) ou o metro. Esta igreja, que junta as ruínas do edifício original - destruído durante a II Guerra Mundial - a uma nova construção é um exemplo perfeito da conjugação entre "velho e novo" que nos acompanha um pouco por toda a cidade. Foi também neste local, onde em dezembro se monta um mercado de Natal, que um atentado matou 11 pessoas. Não percam a oportunidade de entrar dentro do novo edifício para ver o efeito maravilhoso dos vitrais azuis.

Um exemplo de como era o Muro de Berlim

Depois disso, é altura para entrar de novo no metro, desta vez a caminho do Memorial localizado na Bernauer Strasse. Porque não são totós como nós - e já leram este guia - vão aproveitar para visitar não só o memorial que encontram na rua, com uma representação do muro de Berlim, torres de vigia e zona da morte, e homenagens às vítimas, mas também o centro de informação que fica do outro lado da estrada. (Nós acabámos por ir lá também, mas só na nossa segunda visita ao local, graças à nossa Helenazinha) Além do centro de documentação, e da perspetiva arrepiante que dá sobre o período da divisão alemã, há também uma plataforma de observação sobre o memorial que nos dá uma perspetiva irrepetível.

 

Dependendo da hora, há várias opções para o que fazer a seguir: um passeio até ao Cemitério judaico de Schönhauser Allee, por exemplo, é uma delas. Ou seguir diretamente para a Alexanderplatz, uma das praças mais emblemáticas da cidade, onde encontram também a Fernsehturm (torre da televisão). Não é uma recomendação para os fracos de estômago, ou sofredores de vertigens, mas aqueles a quem esses males não afligem podem beneficiar de uma vista como não há outra em toda a cidade. Uma das lembranças mais impressionantes, para mim, foi ver claramente a diferença entre os edifícios da Berlim Oriental e Ocidental, lá do alto, e perceber exatamente onde ficava a divisão.

 

Dia 3 - As artes e o ar livre

 

Nem todos são loucos por história olímpica como nós, por isso a nossa recomendação para três dias na cidade não inclui o Estádio Olímpico - mas, se quiserem ir até lá, não vão dar o tempo como perdido. Sugerimos, em vez disso, seguir para a zona de Kreuzberg, tradicionalmente uma das mais pobres de Berlim, onde se fixou a maior percentagem de população turca. Nos últimos anos, tem-se tornado uma zona "in", sobretudo junto da margem do canal Landwehr, e recebe um mercado turco que é uma maravilha de visitar.

Mercado em Kreuzberg

Depois é hora de descansar numa das zonas mais bonitas e artísticas da capital, a que só chegámos por causa, mais uma vez da nossa Helenazinha. A Badeschiff é uma piscina flutuante no rio, e até pode ser a vossa praia, mas não é por isso que a recomendamos: à volta têm velhos armazéns de velharias hipsters, parques verdes espetaculares e esplanadas onde podemos perder horas. Um retrato perfeito da vibe jovem e enérgica que, para mim, é sinónimo de Berlim.

Banco para gigantes junto a Badeschiff

Não muito longe, e ainda junto ao rio (mas na outra margem), fica a East Side Gallery e claro que não podíamos deixar de vos dar a dica de passar por lá. Afinal, é tão emblemática como as portas de Brandenburgo, e proporciona mais um momento de reflexão.


Visita Bónus

 

A visita ao DDR Museum, muito perto da ilha dos museus, foi um dos pontos altos da nossa viagem. Não a incluímos em nenhum dos dias porque achamos que é um bom joker: está a chover? Olha que boa oportunidade. Já não queremos andar mais? Que tal ficar logo no centro? Ainda temos um par de horas no dia de hoje? Vamos a caminho.

Famoso Trabant no DDR Museum

Trata-se de um pequeno museu (com bilhete barato, o que é sempre interessante) sobre o dia-a-dia na República Democrática Alemã, com objetos de época que tornam mais real toda a história que conhecemos sobre a RDA, a Stasi e o Muro de Berlim. Não falta sequer o Trabi (Trabant) e o Ampelmann, símbolos do quotidiano alemão oriental.

Berlim, ou "a melhor cidade do mundo e arredores"

 

Desculpem-me a excitação. Berlim é (excluindo Lisboa) a minha cidade preferida, e por isso posso dizer que é a melhor cidade do mundo e arredores.

 

A minha primeira experiência com a capital alemã foi em em junho de 2006. Com 15 anos, em pleno Mundial de futebol, fui mandada de avião ter com uma amiga da minha mãe que lá morava e tive uma semana para explorar a cidade como quis e me apeteceu. Fiquei apaixonada - com a arquitetura, com a história que se respirava a cada esquina, com a vida da cidade (multiplicada por mil com a quantidade de adeptos que por lá andavam na altura). Voltei e tinha sonhos com as portas da Babilónia, e quando me perguntavam como tinha sido a viagem respondia: "Aquilo é incrível. Tu estás a dez passos de um edifício qualquer, mas 15 minutos depois continuas à mesma distância".

 

(Also available in English)

 

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Foi por isso natural que, quando percebemos que o bichinho das viagens não ia desandar de nós, eu tenha sugerido que visitássemos Berlim. Viagem (cara) marcada, e em setembro de 2013 aterrámos em Schönefeld com quatro dias e meio para reavivar memórias e criar algumas novas.

 

Claro que tinha o receio de ter as expectativas demasiado altas. Tinham passado sete anos, eu já não estava no nono ano e não havia Mundial de futebol a animar a cidade (mas houve eleições). Felizmente, era infundado. Berlim estava ainda melhor, agora sem controlos de segurança ao pé das portas de Brandemburgo, com uma vibe ainda mais cosmopolita, e eu ia com a viagem bem estudada.

 

Íamos visitar os grandes marcos da cidade, claro. Nem por sombras eu ia deixar de rever a minha adorada Porta de Ishtar (oitava porta da Babilónia) no Pergamon, e obviamente ia passar pelo Memorial do Holocausto. Mas agora havia tempo, espaço e vontade de encontrar aquela torre de vigia escondida numa rua perto da Potsdamer Platz; e maturidade para perceber melhor o que está em causa na Topografia dos Terrores.

 

E isso é o que faz de Berlim a melhor cidade do mundo e arredores: agrada aos fanáticos da história antiga e aos que preferem o século XX; tem arquitetura para todos os gostos e feitios; esconde arte nos recantos mais improváveis; tem os melhores kebabs que eu já comi... e, sobretudo, dá uma lição a todos os que estiverem abertos a recebê-la.

 

Voo (ida e volta, por pessoa): 144 euros (TAP)

Alojamento (por noite, para duas pessoas): 47 euros

Top-5 de Roma

Fazer um "best of" de uma cidade onde só se esteve durante um fim-de-semana é duro: afinal, não houve muito tempo para explorar aqueles recantos fora dos guias tradicionais. Mesmo assim, decidimos arriscar num top para Roma, com as cinco coisas que não devem perder na cidade.

 

1. Apaixonar-se pela cidade na Passeggiata del Gianicolo

Uma das vistas da Passeggiata del Gianicolo

Não há volta a dar: se só fizerem uma coisa em Roma, que seja calçar uns bons sapatos e subir pela Passeggiata del Gianicolo até aos miradouros que, de cima, nos fazem apreciar toda a beleza da cidade. Se começarem o passeio pelo lado norte, a primeira paragem é no Faro del Gianicolo, para umas palhaçadas; a Terraza que vem depois é onde se junta mais gente.

 

2. Um passeio por Trastevere

Trastevere

A zona de Trastevere é das mais bonitas da capital italiana. Considerada uma das zonas "modernas" da cidade - apesar de já aparentar alguma idade -, é o sítio ideal para descansar os pés e os olhos entre visitas a monumentos. Tem também alguns dos melhores sítios para comer em Roma.

 

3. Comer um crepe (ou um gelado) na Piazza Navona

Piazza Navona

É um cliché, mas nós não fugimos aos clichés só porque sim. A Piazza Navona é *o* sítio para fazer people watching em Roma, e quando se junta isso a um crepe com Nutella ou um gelado fresquinho, o que há para não gostar?

 

4. Fazer exercício na escadaria da Piazza di Spagna

Fazer exercício... ou descansar nos degraus!

(E quem diz "fazer exercício", também pode dizer "sentar-se nos degraus".) É verdade que está sempre a abarrotar de turistas, mas e então? O topo da escadaria da Piazza di Spagna tem uma vista privilegiada sobre Roma, e podem juntar a isso um exercício bem necessário depois de um fim-de-semana a comer à italiana. Na primavera, o florido que embeleza toda a zona dá-lhe um encanto especial.

 

5. Uma visita ao Coliseu

Coliseu de Roma

Não há como fugir ao fugir ao Coliseu - o maior de todos, mas ainda mais imponente se pensarmos que estamos numa estrutura com praticamente 2000 anos. Recordar as barbaridades que por ali eram norma, e recordar a estratégia do "pão e circo", de uma forma tão palpável, é também uma lição de humildade.

Um guia para ficar apaixonado por Roma em dois dias

 

O lugar-comum diz que todos os caminhos vão dar a Roma e nós fizemos questão de comprovar se havia fundo de verdade. A nossa conclusão foi esmagadora: não só é verdade como fazemos questão de conhecer cada rua e ruela, cada esquina e praça, cada recanto de uma cidade que tem tanto para oferecer.

 

Num fim-de-semana de calor, há dois trunfos fundamentais: uma garrafa de água vazia e calçado apropriado. A primeira porque há fontes espalhadas por toda a cidade com água fresca que vos vai saber maravilhosamente e a segunda porque mais do que andar muito, vão andar num piso que parece uma montanha-russa. Subidas, desníveis, empedrados: tudo vale para vos deixar os pés magoados e à procura de tréguas.

 

Se a escolha de um sítio para ficar é fundamental (como sempre), a seleção de início de viagem dá inúmeras opções. Há um bocado de Roma histórica a querer ser descoberto a quarteirão e dificilmente ficarão desapontados. Para facilitar, vamos dividir as sugestões entre as margens do Tibre. Começamos com o lado do Vaticano no primeiro dia e passamos para o lado do Coliseu no segundo.

Castel Sant'Angelo visto da ponte

A Ponte Sant’Angelo, de frente para o famoso castelo e com uma vista privilegiada sobre a Basílica de São Pedro, é uma passagem privilegiada sobre o Tibre. A sensação de espanto surge pela primeira vez e promete acompanhar-vos a cada hora que passar.

 

Quanto mais cedo chegarem ao Vaticano, melhor. Há fila para entrar na Basílica, fila para entrar nos Museus do Vaticano e fila para chegar à cúpula que garante uma das melhores vistas sobre a cidade. Se conseguirem bater as filas, ganham tempo precioso para a segunda metade do dia. E se quiserem visitar os dois, sigam primeiro para o Museu - a não ser que haja uma missa especial em São Pedro.

 

Um último conselho relativamente aos Museus do Vaticano pode não ser mais do que um instinto de sobrevivência. O espaço é enorme e podem facilmente perder a noção do tempo lá dentro. Se for realmente no início da viagem, a não ser que gostem mesmo muito de arte, não caiam no erro de não seguir os sinais de «caminho express» para a Capela Sistina. Acreditem: mesmo a andar muito rápido, como nós, ainda vão passar por inúmeros corredores antes de chegar ao Santo Graal da arte de Michelangelo. A sala vai estar apinhada de gente, supostamente silenciosa, mas será fácil fugir a essa ideia. Escolham um bom lugar, olhem para cima e deliciem-se. Não é todos os dias que têm direito a ver algo assim.

Jardins do Vaticano

De costas para a Basílica, na famosa Praça de São Pedro, vão querer seguir para a direita, na direção de Trastevere. Lembram-se nos famosos desníveis? Preparem-se para um grande ao subir a Via del Gianicolo rumo à Passeggiata com o mesmo nome. Pode ser exigente mas vai compensar quando chegarem lá acima, no meio das árvores, com uma vista deslumbrante não só sobre a cidade mas também sobre a cúpula da Basílica. Descansem, tirem fotos, façam palhaçadas a imitar os rostos de muitos dos bustos ali existentes e, com a energia reforçada, sigam sem medo na direção de Trastevere.

Nunca se esqueçam de se divertir em viagens

Esta zona, junto ao rio, é Roma no seu expoente máximo. Há praças, esplanadas, e inúmeros sítios para comer e descansar, se encontrarem a sombra certa. Por esta altura, dependendo do tempo que demoraram no Vaticano, vão estar com fome. Podem fazer como nós, e comer um delicioso salmão grelhado (pedido fora do menu porque… desejos), ou simplesmente procurar uma das gelatarias de qualidade comprovada.

Uma das muitas praças de Trastevere

O dia deverá estar quase a acabar mas pode haver uma última oportunidade para verem um sítio muito movimentado e famoso à conta de inúmeros filmes: a Bocca della Veritá. Mais uma vez, vão estar diante de uma enorme fila mas se quiserem a versão expresso, podem aproveitar apenas uma troca de pessoas e fotografar entre as grades. Por último, se quiserem fazer um pequeno desvio, têm o Circo Massimo não muito longe. Em tempos foi a maior arena para os romanos se entreterem mas agora não parece muito mais do que uma zona de descampado. Vale pelo seu significado histórico mas não vos exigirá muito tempo.

 

Com o pôr-do-sol a chegar, um passeio junto ao Tibre promete protagonizar um excelente final de dia. Não é tão romântico ou agradável como o Sena em Paris mas é muito menos movimentado e igualmente relaxante. Depois de tantos quilómetros a andar – e com outro dia inteiro pela frente – vai saber-vos bem.

 

Do Coliseu à Piazza Navona

 

O Coliseu de Roma é, muito provavelmente, uma das construções mais famosas do mundo e, necessariamente, uma das coisas que nos vem imediatamente à cabeça quando se pensa na capital italiana. Sendo assim, é mais do que justo que marque o início de um novo dia.

Coliseu de Roma

A parte boa de Roma é que, por muito longe que o Coliseu possa ser de uma outra atração que tenham em mente, há sempre um trajeto exequível sem pontos baixos. Perto do Coliseu, podem aproveitar a vista do lindíssimo Arco de Constantino antes de entrar no Fórum Romano. Entre ruínas, vão poder ter uma sensação do que era viver em Roma no apogeu da civilização romana. Muito importante, para escapar (dentro do possível) a longas filas, é comprar a entrada para o Fórum e Coliseu no primeiro - já que a maioria das pessoas vai diretamente para o grande cartão de visita de Roma.

 

Quando saírem, do lado contrário, não estarão muito longe do Monumento a Vittorio Emmanuele II. Certamente já terão reparado nele durante o passeio na Passaggiata del Gianicolo e, uma vez mais, também terão a oportunidade de subir lá acima para aproveitar a vista. Vocês saberão melhor do que ninguém se compensa.

Piazza di Spagna

A partir daqui, embora haja locais de atração mais próximos, talvez valha a pena seguir sempre em frente na direção da Piazza di Spagna. Mais ou menos a meio caminho, terão mais uma subida íngreme para cumprirem a tradição de atirar uma moeda na famosíssima Fontana di Trevi. Depois, sigam trajeto até à famosa escadaria. Vejam-na de baixo, subam-na e aproveitem a vista. Aqui terão uma ideia perfeita sobre os sítios por onde já andaram e o que estarão dispostos a fazer ainda.

 

Se forem corajosos, afastem-se ainda mais do centro rumo à Piazza del Popolo, um sítio perfeito para fazer people watching e descansar os pés. Acreditem: eles vão estar desesperados. Se preferirem atalhar, sigam na direção do Panteão (não vão mesmo querer perder esta oportunidade) e da Piazza Navona.

 

Esta última servirá como o grande checkpoint do dia. Não interessa a hora a que lá chegarem, deixem-se ficar. Com sorte, poderão ver um dos habituais espetáculos de movimentação de aves que deixam turistas e italianos de boca aberta e telemóveis no ar. Com azar (se é que se pode chamar a isto azar), encontram um sítio para se sentarem, comem um gelado, um crepe, uma pizza ou outra coisa qualquer e absorvem todo aquele ambiente romano.

Piazza Navona

Vão estar cansados, com os músculos de rastos e pés cheios de bolhas mas, acreditem, não vão evitar o sorriso nos lábios. Roma é assim mesmo. Conquista-nos a cada esquina e por cada caloria gasta tem outra deliciosa para nos oferecer.

Planear um fim-de-semana em Roma

 

A segunda-na-verdade-terceira viagem foi Roma: porque há uma razão para os clichés o serem, certo? Ao contrário de Paris, eu nunca tinha estado na capital italiana - Ele sim, e sabia o que fazer e o que queria mostrar.

 

(Also available in English)

 

roma_1.jpg

Claro que ainda não tínhamos aprendido totalmente que somos mais ou menos anti-museus, e lá perdemos horas nos do Vaticano (na versão Xpress diretos à Capela Sistina, but still...), mas mesmo assim foi mais um passo na nossa aprendizagem. Se tivesse que vos deixar com um único conselho para Roma seria este: calcem uns bons sapatos e façam a Passeggiata del Gianicolo, porque vão ser recompensados com um passeio adorável, praticamente deserto, e algumas das melhores vistas da cidade.

 

Como aqui tenho espaço para mais, digo-vos que aproveitem para ver todos os cantos e recantos da cidade, que é um verdadeiro museu a céu aberto, e é o que faz de Roma uma das minhas cidades preferidas. Para isso, é totalmente imprescindível que não ponham os pés em nenhum transporte público, desde que estejam no centro - sim, vão andar muito (muito!), mas vai valer a pena.

 

Esqueçam o mapa, usem o Tibre como referência quando for preciso e andem de piazza em piazza, e de fonte em fonte (a água é bebível e fresquíssima), enquanto as energias vos durarem. Entrem nas igrejas em que vos apetecer entrar, espreitem as ruas que vos der na real gana e, se estiver bom tempo, sentem-se no chão quando os pés não aguentarem mais e observem o rebuliço desta cidade onde mal se veem italianos. Roma é mesmo assim: um estoiro para o corpo e um combustível para a alma.

 

Voo (ida e volta, por pessoa): 127 euros (TAP)

Alojamento (por noite, para duas pessoas)105 euros

Top-5 de Paris

A capital francesa é uma cidade tão concorrida que fazer uma lista de cinco coisas a não perder acaba por ser sempre uma tarefa ingrata. Cada pessoa terá as suas preferências mas mesmo assim arriscamo-nos a apresentar uma sugestão, com muitos regalos para os olhos e alguma introspeção.


1. Passeio pelo Sena

Margens do Sena

Se o tempo ajudar, dificilmente poderão encontrar algo melhor. Podem começar na zona da Catedral de Notre Dame, mesmo depois do incêndio, e seguir pelas margens do rio enquanto vivem e respiram como parisienses. Levem alguma comida convosco e aproveitem um banco vazio para relaxar e admirar a paisagem.


2. Sacré Coeur

Sacré Couer

Do rio para a «montanha». O Sacré Couer merece a visita e tem o bónus de oferecer uma vista sobre a cidade incrível. Se souberem calcular a hora da vossa visita, poderão beneficiar, apesar dos milhares de turistas, de um pôr-do-sol inacreditável. Ou, se forem em janeiro como nós, de uma cidade completamente branca.


3. Circuito da fama

Viva a neve?

Preparados para andar? Nada melhor do que começar nos jardins onde está a Torre Eiffel, passar pelo Trocadéro a caminho do Arco do Triunfo e descer os Campos Elísios até à Praça da Concórdia enquanto cantarolam Joe Dassin.


4. Jardim do Luxemburgo

Mais uma tarde para aproveitar

É mais um sítio onde poderão aproveitar o espírito de ser parisiense e passar uma excelente tarde, entre bom tempo, boa comida e um sítio verdadeiramente agradável. O bairro envolvente pede um passeio e o Panteão não está muito longe.


5. Mémorial de la Shoah

Mémorial de la Shoah

Não costuma figurar no topo das listas turísticas mas fazemos sempre questão de entender a marca que os conflitos do passado deixaram em cada uma das cidades que visitamos. Por mais que se visitem espaços deste género, haverá sempre espaço para a surpresa e introspeção. A Place des Vosges e a Catedral de Notre Dame não ficam muito longe.

Um sábado em Roland Garros

Suzanne Lenglen

Filas para entrar, para sair, para comer e para ir à casa de banho, insetos terríveis que obrigaram a uma visita à enfermaria e um sol imperdoável. A nossa experiência no Grand Slam parisiense teve disto tudo, mas também teve ténis de alto nível.

 

Uma experiência marcada há anos

 

Alguns sonhos existem para não ser realizados, mas eu não tenho desses. Sou uma rapariga de sonhos simples de realizar, ainda que nem sempre baratos. Assistir a um dia de ténis em Roland Garros era um desses - e existia há anos.

 

A terra batida tem um encanto especial. A característica cor dos courts, as marcas no chão que dispensam o olho de falcão, os pontos mais longos do que em qualquer outra superfície, dão ao ténis um encanto que pisos mais rápidos não conseguem. Roland Garros é, para mim, o expoente máximo do ténis. E Paris está ali ao lado - um dia havia de ir.


Esse dia chegou em 2018, na última jornada da terceira ronda dos torneios de singulares no Grand Slam francês. A viagem para Paris estava marcada há meses - nem um pequeno percalço que me podia ter deixado impedida de andar de avião abalou a nossa confiança - e quando recebemos informação de bilhetes «de última hora», no início de maio, sabíamos que era a nossa oportunidade. Depois de mais de uma hora de espera no site do torneio, e de anos a sonhar com a possibilidade, tínhamos os bilhetes «na mão»: íamos estar no Suzanne Lenglen no dia 2 de junho.

 

O entusiasmo do calendário

 

Quando os encontros da terceira jornada ficaram definidos, dois dias antes da nossa ida, o verdadeiro entusiasmo chegou. «Claro que o Nadal vai jogar no court principal, mas será que temos direito a Del Potro...?» No dia anterior soubemos que os nossos bilhetes nos dariam lugar para ver Fognini com Edmund, Herbert com Isner e ainda Begu, Caroline Garcia, Serena Williams e Goerges. Nos courts anexos, onde podíamos também entrar, João Sousa ia jogar um encontro de pares ao lado de Leonardo Mayer.

João Sousa após a derrota em pares

Só no final do dia de sexta-feira soubemos (e agradecemos aos céus) que a chuva tinha interrompido o encontro entre Monfils e Goffin e esse seria terminado no nosso court, no dia seguinte. Ver um dos meus jogadores preferidos, francês, a jogar perante o seu público em Roland Garros estava muito perto de ser um ás.

 

Meio mundo em Roland Garros?

 

E certo é que, no que toca a ténis, Paris não desiludiu. Depois de várias filas e três controlos de segurança, com dezenas de pessoas a garantir que nada corria mal, chegámos ao recinto em cima do final do encontro de João Sousa, que abandonou o court com cara de poucos amigos depois de perder por 2-0 com os espanhóis Lopez (Feliciano e Marc).

 

Mudámos rapidamente o rumo e seguimos para o Suzanne Leglen, onde Fognini e Edmund já mostravam que podíamos estar perante uma dura maratona. E foi aí, assim que ocupámos os nossos lugares, que começou o martírio. Pelos vistos incomodámos uma das «bêtes de Roland Garros», e eu paguei o preço. A picada do inseto levou-me a conhecer a enfermaria do torneio, cheia de gente simpática e cuidadosa, onde só faltou mesmo conseguir ver a televisão onde mostravam imagens dos courts.

O ambiente em Roland Garros

Meia hora depois, já de curativo e com o braço com o dobro do tamanho normal, foi tempo de arranjar comida. Mantendo a tradição de todos os grandes eventos desportivos, Roland Garros tem a sua dose de filas de horas para restaurantes. Mas a organização conseguiu premiar as pessoas inteligentes e dar a opção de pré-encomendar alguns menus online - foi só questão de aproveitar o tempo e o fim dos custos do roaming na enfermaria e, cinco minutos depois de sair, tinha o meu saco com duas refeições.

 

Aquilo que a organização não conseguiu resolver foi a fila para a casa de banho - mais meia hora perdida aí e, uma hora depois de ter saído do meu lugar, voltei a tempo de ver Fognini a vencer a negra. «Agora preciso mesmo é de um banho. E de comer»: foi assim que o italiano se despediu do público.

 

O encontro de Monfils vinha a seguir e o court mostrava bem que quem ia jogar era francês. O ambiente tornou-se elétrico e, apesar dos aplausos e manifestações de apoio a Goffin também existirem, não havia dúvida de quem era a estrela ali. Infelizmente, para mim e para o público presente, os vários match points que teve à disposição não foram suficientes para impedir um quinto set e a derrota de Monfils.

 

Uma pausa bem merecida

 

Tínhamos um encontro e meio jogados no court e já eram quase cinco da tarde. Nem o facto de Caroline Garcia ir jogar logo a seguir, com Irina Begu, evitou o êxodo do court - nós fizemos parte da multidão que abandonou os seus lugares e procurou um lugar longe do sol para fazer uma pausa e trincar qualquer coisa. Afinal de contas, tínhamos saído de casa pouco antes das quatro da manhã para apanhar o primeiro voo para Paris. A fatura estava a caminho...

As mecas do ténis mundial

Mais uma vez, filas. Para sair, para comer, para andar no recinto. A solução que encontrámos foi abrigarmo-nos na sombra de um court anexo, onde duas juniores treinavam (quem sabe não teremos visto a Serena Williams do futuro?). Quando o lanche acabou e a sombra começou a ser invadida por dezenas de pessoas, achámos por bem voltar ao Suzanne Lenglen e prepararmo-nos para Serena Williams.

 

Já não havia grande dúvida que o encontro de Isner e Herbert ia mudar de casa, já que as maratonas iniciais tinham atrasado muito o calendário. Tínhamos portanto um último jogo para ver - e se o ambiente para ver Monfils estava elétrico, para ver a ex-número 1 (ou eterna número 1?) mundial não ficava nada atrás. Serena Williams entrou bem e decisiva no encontro, aproveitou a energia do público e pela primeira vez nesta edição, jogou realmente bem. Mal sabíamos que dois dias depois ia desistir antes de defrontar Maria Sharapova. Tivemos sorte.

 

Mike Tyson e o final de um dia em cheio

 

Quase oito horas e meia depois de entrarmos em Roland Garros era tempo de partir. Alguns encontros ainda decorriam, mas nunca teríamos hipótese de bater as filas, claro, para entrar nesses courts, por isso achámos por bem despedirmo-nos do recinto. Nova fila (mais pequena, desta vez), para sair do court, e damos por nós a ser empurrados por seguranças que criam um cordão de segurança e nos impedem de passar.

 

A curiosidade é mais forte: quem vai ali? Nenhum tenista que tenha passado por nós vai com uma entourage tão grande. Uma mulher exuberante chama a atenção, e ficamos convencidos que quem vai ali é alguém que não conhecemos. Mas depois, no último momento, uma tatuagem característica e uma cabeça rapada chamam a nossa atenção: é Mike Tyson quem vai rodeado de segurança a sair do estádio. As impressões? Para que é que um boxeur precisa de tanta gente?, e... bolas, é mais baixo do que se esperava.

 

Por outro lado, analisando bem as coisas agora, a frio, ainda bem que ia rodeado de tanta gente. Não há dúvida de que é preferível ser picada por um inseto no braço do que mordida na orelha por Tyson.

 

Seguimos caminho e, depois de uma longa caminhada, estamos novamente no metro, no meio de rostos e ombros escaldados e caras cansadas. A nossa experiência em Roland Garros teve de tudo: excelente ténis, multidões, partidas inesperadas e muitas horas bem passadas. Para ser 100% Paris, só nos faltou a chuva e o cancelamento de jogos. Ainda bem que esses não chegaram.