Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O essencial de Filadélfia num dia

 

Nota prévia: um dia em Filadélfia é pouco. Sentimos a necessidade de fazer as coisas a correr e há sempre o risco de não conseguirmos absorver o essencial da cidade que foi, em tempos, a capital dos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, se tiverem a oportunidade de passar umas horas não hesitem. Vão encontrar algo que não existe em mais lado nenhum.

Filadélfia esteve desde o início no nosso radar para a viagem a Washington. A proximidade geográfica – cerca de duas horas de autocarro que na altura custou apenas dois euros (ida e volta) – é um convite a juntar as duas e não se vão arrepender, independentemente do tempo que acabarem por passar por lá.

O berço dos Estados Unidos

A cidade é, sobretudo, a sua história, por isso é inevitável fazer do Independence National Historical Park o centro da viagem. Aqui, vão poder visitar, com guia, o Independence Hall, o histórico edifício onde foi assinada a Declaração de Independência. O local está praticamente na mesma e é facílimo sentir a atmosfera vivida na altura, quando os estados se uniram e viraram costas ao Reino Unido.

Daí, poderão explorar as redondezas a pé e sem grande dificuldade. As opções, sempre com base na cultura, história e tradição, são enormes. O famoso sino da liberdade está do outro lado da rua e podem visitá-lo com enorme facilidade. Depois também têm o National Constitution Center, com exposições e sessões de vídeo que ajudam a compreender ainda melhor como os Estados Unidos se transformaram naquilo que são hoje.

No mesmo raio de ação poderão visitar ainda o túmulo de Benjamin Franklin, o Museu Nacional da História dos Judeus Americanos, o Museu da Revolução Americana e alguns dos bancos e mercados mais antigos do país.

Por falar em mercados, e se o vosso apetite estiver para aí virado, não percam a oportunidade de experimentar o famoso Philly Cheesesteak.

Por esta altura, o vosso objetivo poderá passar por explorar a zona da downtown, com destaque para o famoso edifício da câmara. Aqui, poderão entrar também no espírito de Bruce Springsteen e limitarem-se a vaguear pelas… ruas de Filadélfia, sem destino aparente. De qualquer modo, recomendamo-vos que façam a enorme Benjamin Franklin Parkway, que vos vai levar até ao Museu de Arte de Filadélfia.

Dois gatos pingados na escadaria do Rocky

Pode ser um desafio para as pernas – e para o corpo inteiro, sobretudo se apanharem uma chuvada monumental como nos aconteceu – mas o misticismo da caminhada vai recompensar no final, quando virem a estátua do Rocky, subirem a famosa escadaria e olharem para aquela enorme avenida como o próprio Sylvester Stallone olhou no emblemático filme.

Se tiverem algum tempo disponível, divirtam-se também a ver a quantidade de pessoas que sobe as escadas a imitar a famosa cena. Até carros param em segunda fila para pais deixarem filhos pequenos correr escadaria, culminando com uns golpes na atmosfera. Não haverá muitas experiências assim.

Odiar Nova Iorque... e aprender muito com isso

New York... Concrete jungle where dreams are made of": a voz da Alicia Keys ressoa muitas vezes na minha cabeça quando penso em Nova Iorque, mas fico-me sempre pela selva de cimento - não fui a NYC para realizar sonhos.

Nós no Central Park

Voltemos atrás: fui eu que exigi incluir a cidade como paragem na minha primeira viagem aos Estados Unidos, enquanto o Rui me tentava convencer a começar por Washington D.C., que seria novidade para os dois. Eu estava convicta - "Não faz sentido nenhum ir aos EUA e não visitar Nova Iorque!" - e nem os apelos de "eu já lá estive e não foi assim tão fixe" me fizeram largar a ideia.

Assim, arranjámos um compromisso. Iríamos a Washington, sim, mas faríamos um desvio de dois dias para visitar a grande maçã (os Yankees iam receber os Red Sox e tudo, não foi assim tão difícil arranjar um pretexto para nos deixar os dois felizes). Não era o ideal - e continuo a achar que o meu desamor talvez se tenha devido em parte à falta de tempo que lá passámos - mas era o possível.

Tínhamos estado apenas um dia completo na capital americana quando nos pusemos a caminho de Nova Iorque, de autocarro (uma viagem de quatro horas e meia), aproveitando o jet lag que nos despertava às cinco da manhã. A pit stop começou logo a dar para o torto ao chegar à estação: o autocarro estava avariado, vai partir, afinal não, pronto, agora é que vai ser. Depois de uma meia hora, foi mesmo - e só parou no Holland Tunnel, que separa Jersey de Manhattan.

Quatro horas de caminho e tínhamos ficado "apeados" (mas sem poder sair do autocarro) no meio da autoestrada, com o nosso destino a míseros quilómetros, do lado de lá do rio. A epopeia envolveu esperar pelo reboque da empresa, que não chegou, e sermos rebocados por um camião da Port Authority - por 15 metros, antes do cabo que nos puxava rebentar. Sem termos ordem de soltura que nos permitisse apanhar um táxi até ao nosso destino, acabámos por esperar cerca de uma hora até sermos transferidos para um novo autocarro.

Contas feitas, demorámos quase sete horas a chegar ao destino - e isso poderia ter-me deixado de pé atrás com a cidade, mas não foi o caso. Nunca estive numa situação tão chata com gente tão bem disposta: em vez de resmungos, ouviam-se cantorias e palhaçadas. O rebentar do cabo do nosso reboque foi recebido com gargalhadas. Claro que ninguém estava contente, mas há coisas mais graves no mundo - haveríamos de chegar.

Os famosos táxis amarelos não nos salvaram

O hotel foi uma nova desilusão, apesar de só percebermos exatamente como no dia seguinte, sem água quente para o banho matinal. O barulho era ensurdecedor, o ar condicionado demoníaco, a porta não fechava e os funcionários pareciam, à falta de melhor termo, mafiosos. Mas também não foi pelo hotel que eu odiei Nova Iorque.

O que me fez não gostar da cidade foi a falta de espaço, que só existe verticalmente; a falta de verde, que em abril nem o Central Park - o único espaço onde me senti verdadeiramente bem -, com as suas árvores despidas, consegue camuflar. O frio, mesmo com tempo de t-shirt, que se fazia sentir.

Em Nova Iorque (ou em Manhattan, vá), falta a arquitetura monumental de Washington mas também, vim a reconhecer depois, os edifícios de aspeto antigo que se encontram em Boston ou Filadélfia e as cores que nos recebem em São Francisco. Faltam os vasos na varanda das cidades do sul e falta a proximidade com o rio - que, mesmo estando ali ao lado, só agora começa a ser integrado na cidade. Mas, sobretudo, falta a possibilidade de olhar em frente e ver horizonte sem ter de subir ao Empire ou ao Top of the Rock.

Nova Iorque é uma cidade que, parece-me, implica esforço para gostar. E quem me conhece sabe que eu sou preguiçosa em tudo - não é por uma cidade que vou mudar. Nova Iorque implica tempo, explorar os cantinhos mais recônditos para encontrar aquilo que poucos descobriram, fazer a pesquisa para saber onde se come bem, forçar o contacto para receber um sorriso.

A vista do Top of The Rock

Já eu sou rapariga para cidades que me recebem de braços abertos, de banco no jardim à minha espera, de um azul do céu visível a cada esquina, de cores que não sabia que existiam, de flores novas. Tudo isso me faltou em Nova Iorque.

Ainda assim, não me arrependo da visita - apesar de ter mesmo desejado estar de regresso a Washington logo na manhã do segundo dia - porque me ensinou a coisa que me fez ser realmente feliz nas viagens: não gostamos todos do mesmo. Afinal, se pensarmos bem, foi por ter odiado Nova Iorque, quando toda a gente me dizia maravilhas da cidade, que acabei por não ligar a todos os que diziam que cruzeiros eram viagens para velhos - e ter alguns dos melhores dias de férias da minha vida.

O lado desportivo da capital dos Estados Unidos

Washington é uma das 13 metrópoles norte-americanas que contam com pelo menos uma equipa para cada grande desporto profissional dos Estados Unidos. Mas nem por isso tinha tido muitas razões para festejar até 2014, quando visitámos a capital do país.

Os Wizards (NBA), Nationals (MLB), Capitals (NHL) e Redskins (NFL) somavam fracasso atrás de fracasso mas começava a viver-se uma era de confiança. É esta a substância dopante do desporto: a esperança. E aí, de facto, não havia rival para as equipas de Washington, sobretudo no hóquei no gelo e no basebol.

Ver a ação de perto

Como fizemos a viagem em abril, sabíamos que íamos fora do calendário do futebol americano, por isso os Redskins estavam fora de hipótese. O que não calhava mal, tendo em conta que é o único estádio claramente fora do centro da cidade. De resto, com uma boa frescura física – e o tempo a ajudar – dá para chegar a pé, com maior ou menor dificuldade.

A primeira aventura foi ao ar livre, no basebol. A temporada estava no início e, mais uma vez, os Nationals assumiam-se como equipa com capacidade para chegar longe. Era um dia de sol e calor – tanto que acabámos os dois com um escaldão no nariz, talvez a nossa maior tradição desportiva nos Estados Unidos -, e o ambiente no estádio estava ao nível da nossa primeira experiência desportiva no país. Eu já tinha ido nos anos antes mas era a primeira vez da Sarah.

Uma bola abandonada

As memórias do jogo entre os Nationals e os Marlins, de Miami, são sobretudo da desadequação ao ambiente. Tinha tido más experiências em Boston e avisei a Sarah que, assim que começa a arrefecer, nos arrependemos de não levar tudo o que podíamos. Fiz mal – e os olhos da segurança que revistou a mala da Sarah à entrada demonstravam logo isso.

Foi uma experiência verdadeiramente agradável. Os lugares foram baratos e eram bons. Estávamos próximos da ação e, por mais do que uma vez, houve bolas a cair ao pé de nós. «Agarra uma para mim! Eu faço anos!», repetiu a Sarah, vezes e vezes sem conta, ignorando que o aniversário tinha sido na véspera e… a concorrência era enorme. Até porque não faltava pressão psicológica assim que um adulto conseguia segurar o prémio máximo: «Give it to a kid! Give it to a kid!», diziam.

Como em qualquer outro estádio, as equipas apostam muito na diversão e há algo que diferencia os Nationals de todas as outras: a corrida presidencial. Num intervalo entre innings, há sempre espaço para que mascotes em homenagem a antigos presidentes dos Estados Unidos deem uma volta ao campo ao som dos gritos de apoio dos espetadores que, dependendo do lado para onde acordaram naquela manhã, torcem por um ou por outro.

Uma das famosas corridas presidenciais

Já vos disse que estávamos em abril? O tempo neste mês consegue ser uma roleta russa. Apanhámos sol e muito calor nuns dias e, no espaço de uma noite, já nem conseguíamos andar um quarteirão sem gelar os ossos das pernas. Ainda assim, no dia em que fomos ver um jogo de hóquei no gelo dos Capitals, a temperatura do lado de fora era superior a 30 graus. Dos nossos, Celsius.

A Sarah estava de calções curtos e morria de calor. Queria ar condicionado, queria beber água. Queria ter o mínimo de peso em cima do corpo. De repente, ao entrar para o pavilhão (que fica perfeitamente integrado no coração da cidade, junto à Chinatown), tudo mudou. O frio que emana do rinque tornou aquela experiência uma das piores possíveis para ela.

Dá para perceber o frio pela imagem?

Eu estava de calças e t-shirt mas tremia. Ela, de calções, sofria ainda mais. O desespero era tão grande que chegou a aproveitar pequenos sacos de plástico, nos quais vinham embrulhadas umas pequenas mochilas de oferta aos espetadores, para colocar sobre as pernas e tentar criar uma pequena camada protetora. Sem sucesso.

Dentro do rinque, a geração de Alexander Ovechkin partia para mais uma época de desilusão. A história era a mesma ano após ano: dos melhores durante a fase regular passavam a fracasso nos playoffs. Só mesmo em 2018 isso mudou, com o tão ansiado título.

Mas ali, naquela tarde, houve algo que não mudou. O frio. Chegámos a ponderar seriamente a hipótese de ir comprar roupa à loja da equipa, mas aguentámos, estoicamente, até ao final. Foi a melhor experiência? Nem por isso. Foi giro vermos finalmente um jogo da NHL juntos mas, para futura memória, ficaram apenas as pernas arrepiadas e as mochilas que nunca mais voltaram a ser utilizadas. Conselho? Por mais calor que esteja nesse dia, estejam sempre preparados antes de entrar num pavilhão cheio de gelo.

Do frio do hóquei no gelo para o calor com os Miami...Heat

Foi o que aconteceu quando vimos os Washington Wizards com os Miami Heat. A fase regular estava a terminar e LeBron James não jogou. Nem Chris Bosh. Dwyane Wade estava no cinco inicial mas também só fez 18 minutos. Até Ray Allen esteve mais tempo em campo, saído do banco. Com tanta poupança, não surpreendeu que os Wizards tivessem vencido com facilidade. E a geração também era boa, com John Wall (bem fisicamente) e Bradley Beal.

A euforia foi grande (afinal uma vitória é sempre uma vitória) e apercebemo-nos que não há volta a dar: a Sarah não gosta mesmo de NBA. Foi o primeiro de muitos jogos que vimos ao vivo, mas a sensação não mudou. Continuamos a ver mas já sabemos que é um bocado a contra gosto. Vale pela experiência, pelos nachos, pela emoção, pelas iniciativas que vão promovendo durante os descontos de tempo e intervalo, mas depois, quando a bola começa a bater no chão, o desinteresse apodera-se dela. É pena: podíamos ser ainda mais felizes.

Guia para ver o indispensável de Washington D.C. em três dias

 

Quanto tempo é preciso ficar na capital dos Estados Unidos para ver os indispensáveis? É fácil dizer que um dia (muitíssimo bem aproveitado e com muitos quilómetros nos pés) daria para explorar o National Mall e os seus monumentos, museus e memoriais, mas a verdade é que Washington merece mais do que um único dia - e aventuras para além dos limites do Mall.

Jefferson Memorial

Esta é a nossa proposta para aproveitar três dias na cidade... e ficar com vontade de voltar.

 

Dia 1 - O National Mall

Não há como fugir. Os pouco menos de dois quilómetros de comprimento do National Mall - um parque e não um centro comercial - são o coração da cidade para qualquer turista que se preze, e é por aí que deve começar o ataque a Washington.

Para quem chega de Portugal, há que abraçar o jet lag e partir à descoberta bem cedo, para bater as multidões que ao longo do dia por ali se juntam (esta dica é fundamental se - como nós - tiverem a sorte de visitar durante o pico das cerejeiras em flor, que leva multidões até ao Mall). Começando no extremo este do parque, o primeiro edifício que encontram é o Capitólio, que podem visitar fazendo a reserva do tour (gratuito) online ou rezando para que, no próprio dia, ainda haja passes disponíveis. A abertura de portas é às 08h30.

(Se conseguirem levantar-se a horas mesmo muito madrugadoras e estiverem na época das cerejeiras em flor, a nossa sugestão é que apanhem o nascer do sol do lado contrário do parque, junto à Tidal Basin, para as melhores vistas.)

O memorial a Ulysses S. Grant será apenas o primeiro de muitos que, dedicados a antigos presidentes, vão encontrar pelo caminho. Claro que as estrelas da companhia são os de Washington, Lincoln e Jefferson, que verão mais à frente.

Parar para a palhaçada é sempre uma hipótese

E como para a frente é que é caminho, aproveitem para continuar pelo parque. Vão começar rapidamente a perceber que estão rodeados de museus - fazem parte do instituto Smithsonian e são todos de entrada gratuita, por isso esta é a altura de escolher o que visitar. São mais de arte? A National Gallery ou o Hirshhorn Museum estão mesmo aí. Natureza ou ciência? O museu do Ar e do Espaço e o museu de História Natural agradam a miúdos e graúdos. Preferem um crash-course em História? O museu de História Americana é uma boa opção mas, ainda mais diferente, o National Museum of the American Indian é o primeiro que vão ver - e a sua cafetaria, com o nome pomposo Mitsitam Native Foods Cafe, tem a comida que não sabiam que vos faltava provar.

Contem com um par de horas para visitar a(s) vossa(s) escolha(s) e ponham-se depois a caminho para a próxima paragem, sempre tendo como referência o Washington Memorial - que, afinal, é o monumento que associamos à cidade. Apesar de estar fechado para obras quando visitámos, já reabriu e os bilhetes estão disponíveis online, antecipadamente, pelo que poderá ser uma opção para os fortes que não sofrem de vertigens.

Smithsonian Castle

É para lá do obelisco que entram na parte mais interessante - na minha opinião, claro - do parque. Os monumentos e memoriais multiplicam-se e todos trazem qualquer coisa de novo. A Reflecting Pool conduz-nos até ao Lincoln Memorial mas, pelo caminho, há mais para ver: do lado direito, sugerimos uma passagem pelo Monumento aos Veteranos do Vietname; do lado esquerdo (ou já depois de se porem lado a lado com Lincoln), pelo Monumento aos Veteranos da Guerra da Coreia.

O Lincoln Memorial vale por si e pela frase de Martin Luther King, Jr. gravada na pedra, mas também pela vista que nos abre sobre esta artéria verde no meio da capital americana e pelo convite à reflexão que nos faz quando aproveitamos os degraus para descansar um pouco. Os rangers (o National Mall é um parque florestal) andam por ali a responder às questões dos turistas, e é boa ideia absorver um bocadinho do conhecimento.

Recarregadas as baterias, rumem agora à Tidal Basin, a reserva em redor da qual estão a maioria das cerejeiras que, na primavera, dão um show que atrai milhares. Os memoriais dedicados a Martin Luther King, Jr. e a FD Roosevelt (este último é, provavelmente, o meu preferido) ficam em caminho. Depois, terminem esta aventura no Mall junto do Jefferson Memorial.

Washington Memorial

Se vos sobrar dia, podem fazer uma visita ao Arlington Cemetery logo depois do Lincoln Memorial (fica a cerca de um quilómetro e meio a pé, e fecha às 19h00) e, depois, retomar o passeio junto à Tidal Basin. Mas a verdade é que, com tanto para ver, difícil será chegar ao fim do percurso antes de o cansaço se instalar.

 

Dia 2 - Explorar o centro

A não ser que este vosso dia 2 seja uma segunda-feira, recomendamos que comecem com uma visita ao Eastern Market, para um pequeno-almoço reforçado ou (só ao fim-de-semana) para explorarem o mercado de rua que ocupa o espaço com... o que calhar. Uma forma bem-disposta de começar o dia.

Biblioteca do Congresso

Depois, rumem à Biblioteca do Congresso (fechada ao domingo) para uma visita rápida, e absorvam a imponência do Supremo Tribunal, ali ao lado, antes de seguirem para a Constituition Avenue, onde fica o melhor museu que alguma vez foi criado: o Newseum. Quando visitámos, não havia sombra no seu futuro: as últimas notícias dão, no entanto, conta do seu encerramento no final de 2019. Esperamos que aproveitem o próximo mês e meio para o visitar, e perder-se por lá muito mais do que um par de horas. Uma visita marca-nos de forma profunda, por ser um modo diferente de olhar para a história que já conhecemos: o Unabomber, o Muro de Berlim, o 11 de Setembro…

O resto da antena de uma das Torres no Newseum

Um pouco mais à frente ficam os National Archives - encerram ao fim-de-semana -, outra visita que recomendamos. Se este itinerário começa a parecer um tour dos edifícios governamentais é porque, de certa forma, a capital norte-americana é exatamente isso: uma reunião de serviços do governo que se prestam, ali, a ser escrutinados pelo público. É nos arquivos que podem ver as cópias da Declaração da Independência ou da Constituição americana, mas também uma série de exposições mais interativas sobre os direitos conquistados ao longo dos anos. Não é necessário reservar antecipadamente os bilhetes mas, dependendo da altura do ano, talvez essa seja uma boa ideia.

A Casa Branca mais famosa do mundo

Por esta altura esperamos que já estejam bem almoçados e prontos para mais uns metros de caminhada, sempre muito fácil: é seguir a Pennsylvania Avenue até chegar à morada mais famosa do mundo, no número 1600. Pelo que conseguimos entender, a visita à Casa Branca só é possível para americanos, uma vez que o pedido deverá ser submetido aos membros do congresso do respetivo estado, mas uma fotografia do famoso edifício terá de fazer parte das memórias que se trazem de Washington, seja quem for o morador da altura.

A entrada para Chinatown

Para o final da tarde, sugerimos que explorem a zona da Chinatown (onde também fica a Capital One Arena, "casa" dos Capitals e Wizards). Apesar de já não ser propriamente muito autêntica, e de ter muitos poucos chineses a chamar-lhe casa, é uma área rica em comércio e com algumas decorações tradicionais chinesas que vale a pena "caçar".

 

Dia 3 - Georgetown e arredores

Há alguns monumentos na zona de Washington D.C. que não podem ficar fora do roteiro, apesar de serem pouco mais do que uma estátua: é o caso do Memorial de Guerra dos Fuzileiros, que fica em Arlington, bem perto do famoso cemitério. Sim, é "só" uma estátua, mas é uma estátua que faz parte do nosso imaginário, de postais, de filmes, de uma iconografia da guerra que temos sempre presentes (há quem o conheça por Memorial de Iwo Jima). Chega-se lá facilmente a partir da estação de metro de Rosslyn.

Reconhecem a imagem, certo?

Depois, se não o incluíram no primeiro dia, devem visitar o cemitério de Arlington, o cemitério militar onde estão enterrados quase todos os americanos mortos em combate nos (numerosos) conflitos em que os Estados Unidos participaram. O centro de visitantes localizado à entrada tem mapas do enorme espaço, mas outra opção será deambularem por entre as campas e memoriais livremente. Há dois presidentes enterrados em Arlington, Taft e Kennedy, e a campa deste último é uma das mais visitadas de todo o cemitério; outra é, sem dúvida, a do soldado desconhecido, onde podem assistir, de hora a hora (a cada meia hora no verão), ao render da guarda, numa cerimónia sempre muito concorrida.

Arlington Cemetery

Feita toda a exploração do lado de lá do rio Potomac, rumem então a Georgetown – poderão ver o complexo de Watergate ao cruzar a ponte -, uma das zonas mais bonitas de toda a cidade, e ideal para um almoço e um passeio bem longo durante a tarde. Associada, claro está, à universidade com o mesmo nome, é uma área cheia de jovens, cafés e lojas com pinta e edifícios históricos lindos. Explorar a proximidade ao rio e ao canal C&O (Chesapeake and Ohio) é uma regra de ouro para aproveitar bem a visita a Georgetown, assim como explorar as "old houses" que salpicam todo o bairro. Uma caminhada ao longo do Potomac ao pôr do sol é a forma perfeita de encerrar uma visita de três dias à capital norte-americana.

As famosas cores de Georgetown

Por que é que o Japão me fez reformar definitivamente a minha mala

Há um bom par de anos que a minha mala de viagem - daquelas médias, bem gira, que normalmente se usa em férias de uma semana ou um bocado mais - não sai do armário. Comprei-a pouco depois de começar a viajar com o Rui - afinal não fazia sentido estar sempre a "cravar" a mala a alguém quando sabia que, inevitavelmente, as escapadelas se iam tornar uma coisa frequente.

Gosto muito dela, serviu-me bem. Foi comigo aos Estados Unidos, várias vezes, e à China, e eventualmente a mais uns sítios que agora não me lembro. Mas não tardou a ficar mais vezes de lado do que a uso - primeiro porque a maioria das nossas viagens eram de dois ou três dias, e a mochila servia perfeitamente; depois, porque as companhias aéreas começaram a cobrar pela bagagem de porão; finalmente, porque se há coisa de que não gosto é ter de carregar um malão, seja em que situação for, e ainda menos de esperar por bagagem num aeroporto. Quero chegar, passar o controlo que for preciso e sair porta fora, o mais rápido possível.

A abençoada mochila

Depois de, no ano passado, termos passado 11 dias no sul dos Estados Unidos (é importante mencionar a localização - em Nova Orleães e Atlanta perde-se muita roupa para o suor) e termos sobrevivido só com as nossas mochilas, a ideia de não voltar a usar uma mala tradicional de viagem começou a formar-se.

Não me interpretem mal: não sou contra a bagagem de porão, nos outros; nem sequer para mim, em situações específicas e pontuais - e essas são facilmente identificáveis. Metem sempre o regresso a casa, carregada de prendas que não foram comigo na partida. E isso resolve-se com um saco resistente, mas dobrável, que não ocupa espaço nenhum e nos dá 30 litros de bagagem quando é necessário (também é útil para outra coisa fundamental: lavar roupa. Já lá vamos).

No espaço de um ano, foram três as viagens com duração superior a uma semana em que a única coisa com que tive de me preocupar foi a minha mochila. Depois da tal viagem ao sul dos Estados Unidos, fizemos um cruzeiro nas Caraíbas, com uma noite em Miami, e, no mês passado, estivemos 11 dias no Japão - e agora tenho a certeza de que a minha primeira opção será sempre evitar o malão. Fica a faltar uma experiência invernosa, mas creio que não vai alterar a minha convicção.

Vamos por partes. Fazer com que isto aconteça é fácil, basta lavar roupa quando é necessário. Se o fazemos em casa, por que não noutras paragens? Na nossa primeira viagem, aproveitámos a máquina de lavar e secar do nosso Airbnb, e nem sequer alterámos a rotina; agora, no Japão, encontrámos uma lavandaria automática a cinco minutos do nosso hotel e incluímos um par de horas de "relax" nos afazeres de um dia a meio da viagem. Menos de duas horas depois, tínhamos a roupa toda lavada e seca e estávamos de volta ao hotel. (O saco desdobrável dá jeito para isto, escusam de levar a mochila - que certamente não está cheia só com roupa - atrás de vocês.)

Levar roupa para três, cinco ou sete dias depende da disposição, do espaço disponível, da viagem que vamos fazer, mas a verdade é que nunca precisamos de mais do que isso, independentemente do número de dias que estejamos fora. O único cuidado especial a ter é levar roupa que possa ser lavada toda junta (tento evitar roupa branca e preta - ou uma, ou outra).

Claro que é preciso tentar evitar grandes molhas... ou veem-se de estendal montado em frente ao aquecedor.

E a segunda parte? Só há benefícios. Nada de chatices para despachar bagagem num avião, e ter de esperar por ela depois; nada de taxas, quando se aplicam; e, mesmo fora dos aviões, é um descanso.

Por isso é que digo que o Japão enterrou de vez a minha mala de viagem: depois de tantos dias entre aviões, comboios, metros e autocarros, vendo centenas de turistas a lutar para enfiar as malas não sabiam bem onde, ou simplesmente a ser estúpidos e a ocupar lugares em autocarros apinhados com as suas malas, percebi que não é assim que quero viajar. Quero preocupar-me só com a minha mochila, de preferência pouco pesada, que consigo sempre levar ao colo ou aos meus pés, que entra facilmente nos compartimentos superiores de comboios ou autocarros e que não chateia ninguém - às vezes passa despercebida e alguém tropeça nela, mas isso até é bom sinal.

No Japão, há um sistema de envio de bagagens que a maioria das pessoas acha fabuloso: podemos estar em Quioto e despachar as malas para o próximo hotel, em Tóquio, por exemplo, sem nos preocuparmos com o assunto. Melhor ainda? Não ter malas para enviar e poupar uns trocos por não ter de o usar. Mas a existência, e a popularidade, demonstram o quão melhor é viajar de mãos livres (ou com uma pequena mala de rodinhas, se vocês quiserem. Eu sou team mochila).

O único obstáculo poderia ser a dificuldade em lavar a roupa, mas se até em Portugal, que há meia dúzia de anos não tinha uma lavandaria automática, já se encontram a cada esquina, quão difícil será? Em último caso, podem sempre lavar roupa à mão. E se nós conseguimos pôr a trabalhar - com uma ajudinha, vá - as máquinas de lavar em japonês, toda a gente consegue, em qualquer sítio.

Cara de felizes com toda a nossa bagagem, na chegada a Quioto.