As maravilhas da Rússia subterrânea
Pode ser difícil para um português – sobretudo se estiver habituado a movimentar-se em Lisboa – compreender como passar horas na rede de um metro pode ser uma atração turística e desejada por muitos. Mas na Rússia é assim mesmo. Pelo menos nas duas maiores cidades: Moscovo e São Petersburgo.
Independentemente da estação do ano em que se visitar, esteja um sol abrasador ou um frio de estalar o esqueleto, é sempre bom reservar pelo menos um par de horas para explorar devidamente a rede de metro, conhecendo em todo o esplendor a imponência de estações que foram construídas e ornamentadas para servirem de «palácios do povo», aumentando a confiança e dando uma oportunidade para que pudessem lavar os olhos com uma beleza imponente.
O toca-e-foge do Metro de Moscovo
A beleza da rede metropolitana de Moscovo tem tanta fama quanto proveito. Uma pequena pesquisa na internet garante-nos inúmeras listas das estações mais bonitas a visitar – aquelas que são mesmo imperdíveis – e foi precisamente isso que fizemos antes de nos lançarmos à aventura.
Depois de fazer um top superior a dez estações, definimos as melhores coordenadas para tornarmos a viagem mais eficiente – procurar as melhores transições entre linhas pode ser uma ciência – e lançámo-nos à aventura. O metro de Moscovo parece ter apenas uma desvantagem: as intermináveis escadas rolantes que nos chegam a roubar quase cinco minutos a cada entrada ou saída. De resto, sem exagero, é praticamente tudo perfeito.
A frequência faz com que não consigamos estar muito mais do que dois minutos sem novo comboio. É o ideal, se for para o caso, para sair, ver o ambiente, fotografar e regressar à viagem na próxima composição.
Nas estações há espaço para tudo. Homenagens à glória russa dos séculos passados ou a Lenine, elogios ao período soviético – com inúmeras marcas e símbolos associados -, à corrida ao espaço ou… ao metro de Paris.
Com inúmeros bustos, estátuas, vitrais, candeeiros impressionantes, paredes decoradas, tudo o que possam pensar ver num palácio e nunca imaginaram sequer presenciar numa rede de metro habitual.
Durante esta aventura, há conselhos que fazem sentido: nunca se esqueçam de olhar para o teto – às vezes as melhores experiências vêm mesmo daí – e tirem o tempo necessário para fotografar (como já se viu, perder o metro está longe de ser um problema). Por vezes as estações são mais bonitas repletas de gente, noutras vezes desertas, por isso o melhor é mesmo reservar um tempo para as verem de ambas as formas.
Outras recomendações básicas? O metro é a forma de movimentação perfeita numa cidade com tantos pontos de interesse separados por quilómetros como Moscovo. Por isso, em princípio, deverão ter um cartão (Troika) recarregável com dinheiro. A parte boa? Com apenas uma viagem (com um custo aproximado de 50 cêntimos), poderão passar horas numa das experiências mais inesquecíveis que Moscovo vos dará. Já agora: mesmo que não estejam ativamente a ver as estações, não se esqueçam de estar atentos quando viajarem. Às vezes as surpresas trazem as melhores recordações.
São Petersburgo é o parente pobre de Moscovo?
Não, não é. E, embora muita gente pense que sim e associe apenas a beleza da rede metropolitana a Moscovo. Há, porém, algumas diferenças significativas entre os metros das duas principais cidades russas. A começar pela frequência de utilização: no período de três dias em que estivemos em São Petersburgo, andámos de metro apenas duas vezes (ambas no dia de despedida – uma para conhecer as estações, outra para iniciar a viagem para o aeroporto).
A rede de São Petersburgo também é significativamente mais pequena do que a de Moscovo e, como tal, tem menor probabilidade de ter tantas estações bonitas. Ainda assim, é possível escolher cerca de dez estações capazes de nos deixar de água na boca (tendo em conta que eu fotografei as de Moscovo e a Sarah as de São Petersburgo, não tenham mesmo dúvidas de que estas são muito mais apetecíveis).
Estabelecer a rota de viagem é muito mais simples mas as transições entre linhas não são tão simplificadas em Moscovo: como há menos linhas há também menos opções. Foi também aqui que reparámos em algo que nos passou ao lado na capital: gente como nós a entrar e sair nas mesmas estações, a fotografar e a seguir viagem. É certo que chamaram a atenção por a estação estar deserta, até porque em Moscovo, agora que pensamos nisso, o difícil é não bater de frente em grupos organizados de turistas com guias locais a fazer a voltinha do metro.
E o que nos oferecem as estações de São Petersburgo? Temos um pouco de tudo: visões mais futuristas, homenagens às indústrias soviéticas, odes ao desporto e, como não podia deixar de ser, muita ornamentação luxuosa, banhada a ouro, candeeiros vistosos e inúmeras referências aos ícones da luta soviética.
Aqui, ao contrário de Moscovo, não deverá ser necessário ter um cartão (a não ser que planeiem fazer muitas viagens de metro). À entrada de cada estação – sim, aqui as escadas rolantes também demoram o tempo suficiente para Tolstoi escrever mais um novo volume de Guerra e Paz – há máquinas que vendem pequenos tokens que valem uma viagem cada. O preço da viagem está padronizado e é ligeiramente mais barato que o de Moscovo.
Seja numa ou noutra cidade, estejam também preparados para passarem por detetores de metais à entrada. Os controlos nunca nos parecerem verdadeiramente apertados mas dão pelo menos uma aparente sensação de segurança. O atentado em 2017 que fez onze mortos continua fresco na memória dos russos.
As estações que recomendamos:
Moscovo
Slavyanksy Bulvar (linha 3)
Kievskaya (linha 3)
Novoslobodskaya (linha 5)
Komsomolskaya (linha 5)
Tagankskaya (linha 5)
Teatralnaya (linha 2)
Mayakovskaya (linha 2)
São Petersburgo
Sportivnaya (linha roxa)
Admiralteyskaya (linha roxa)
Obvodny Kanal (linha roxa)
Mezhdunarodnaya (linha roxa)
Avtovo (linha vermelha)
Kirovskiy Zavod (linha vermelha)
Narvskaya (linha vermelha)
Pushkinskaya (linha vermelha)
Ploshad' Vosstaniya (linha vermelha)