Como a Rússia é uma aventura ainda antes da viagem
Ir à Rússia estava nos nossos planos há vários anos mas fomos adiando consecutivamente na agenda para evitar todo o peso burocrático que uma viagem destas carrega. Apesar de já ter ido, não posso dizer que tivesse grande experiência a planear uma aventura destas: foi em 2000, tinha 15 anos e não tive de mexer uma palha.
O que é essencial fazer assim que se decidir visitar a Rússia? Um passaporte com pelo menos mais seis meses de validade depois do fim da viagem pretendida, um formulário para obtenção de visto, um documento de uma agência de viagens/hotel/entidade apta para o efeito a confirmar o «recebimento de turista estrangeiro» e um seguro de viagem com uma cobertura mínima por morte ou invalidez permanente por acidente de 50 mil euros.
E, claro está, tudo isto tem de estar preparado, pronto e confirmado no momento em que fizerem o pedido de aplicação de visto. As opções são várias: o centro de vistos pode ser a escolha mais regular – até por ficar no centro de Lisboa -, mas nós optámos por ir à secção consular no Restelo. Importante: os pedidos no consulado só podem ser feitos com marcação prévia e são tratados ou às segundas ou às quintas-feiras (9h30 às 11h30).
Mais conselhos que podemos dar sobre esta parte chata? Recorremos ao iVisa.ru para garantir a confirmação de recebimento de turista estrangeiro (pareceu-nos a solução com o melhor rácio facilidade/preço) e… não sejam – nunca – preguiçosos. Por exemplo: se, depois de fazerem o pedido de visto, tiverem um papel a dizer que podem levantar a partir da segunda-feira de duas semanas depois, não deixem para o dia seguinte se acordarem com sono.
Depois de lerem isto não deve acontecer, mas o que diriam se fossem lá na terça-feira e estivesse fechado? E novamente na quarta apenas para vos dizerem que o serviço é só às quintas-feiras? E novamente na quinta para – finalmente – tratar o assunto e perceberem que já são quase prata da casa e sabem os horários ao minuto dos autocarros que podem apanhar. Não sejam como o Rui, não sejam totós.
Há uma última recomendação pré-viagem que vale a pena dar. Apesar de se conseguir fazer perfeitamente uma semana na Rússia sem falar uma palavra da língua ou compreender o alfabeto cirílico, pode valer a pena preocuparem-se com o essencial. No meu caso, não foi uma aventura nova. Mas preocupei-me em dominar mais facilmente o alfabeto e diverti-me durante umas semanas a ouvir um podcast para aprender russo. Acreditem: dominar o alfabeto agiliza a vossa viagem e ser capaz de um diálogo (mesmo que muito básico) torna a pessoa mais aberta ao nosso esforço e, ao mesmo tempo, garante-nos um estranho estado de satisfação. Apesar disso, não deixa de ser irónico que a frase mais utilizada durante estes dias tenha sido «eu não falo russo»… em russo. Sim, preparem-se para ser abordados na rua várias vezes.
Se não se quiserem dar a este trabalho, ou simplesmente preferirem ter uma rede de segurança, vale muito a pena recorrerem à app do Google Translate que faz a tradução automática… quase sempre sem dificuldades.
Os transportes em Moscovo e São Petersburgo
Numa viagem com um peso burocrático e logístico tão grande, não podíamos deixar de fazer as duas grandes cidades. Os transportes em Moscovo e São Petersburgo são um mimo. As duas redes de metro são muito eficazes e com uma frequência impressionante. Estão relativamente bem preparados para turistas (mais a de Moscovo) e permitem-nos chegar praticamente a todo o lado.
O transporte de e para os aeroportos, contudo, implica outras soluções (se não quiserem, claro, recorrer ao táxi). À chegada a Domodedovo, há dois tipos de comboio. Podem ir numa solução mais turística, confortável, moderna e… cara (Aeroexpress) ou, como nós, numa versão suburbana, praticamente sem turistas e obviamente mais barata. É a diferença entre 500 e 110 rublos… e vinte minutos de viagem. No caso de São Petersburgo, o autocarro 39 liga vários pontos da cidade ao aeroporto de Pulkovo. Em ambos os casos, a ligação à rede do metro torna a chegada ao sítio para onde querem ir mais fluida e eficaz.
Autocarros no centro da cidade e serviços de transporte individual também são uma hipótese mas há três aspetos negativos: o trânsito consegue ser caótico e, apenas para o transporte individual, pode ser mais caro e uma verdadeira roleta-russa na possibilidade de apanharem um louco ao volante.
E o que realmente interessa…
Fazer a viagem em julho ajudou a ver Moscovo e São Petersburgo de uma forma mais apelativa. O frio, o que existiu em São Petersburgo, foi perfeitamente suportável – o suficiente para não ter levado nenhum casaco de Lisboa (por esquecimento) e não me ter arrependido – e a chuva só incomodou verdadeiramente num dia. De resto, até tivemos mais calor do que qualquer outra coisa. Foi possível andar de t-shirt e desejar ter uns calções e chinelos à mão.
Moscovo e São Petersburgo são radicalmente diferentes mas ambas aconselháveis. Da arquitetura soviética que impressiona – temos matéria-prima suficiente para fazer um top-10 de fotografias só da Catedral de São Basílio – à história de um país com uma riqueza cultural infindável, o difícil é encontrar razões para não gostar de uma viagem destas. A gastronomia é perfeita para quem gosta de cogumelos (cof, cof, Sarah) e os pishki de São Petersburgo são, muito possivelmente, o melhor doce que provavelmente nunca provaram.
Sim, a aventura de planear e garantir uma viagem à Rússia pode ser custosa. E, com isso, ter-nos adiado a ideia durante alguns anos. Mas, no final, compensou. E muito. Como vão poder perceber nos próximos posts.
Voo (ida para Moscovo, regresso de São Petersburgo, por pessoa): 357 euros (TAP)
Alojamento (por noite, para duas pessoas): Moscovo, 45 euros // São Petersburgo, 57 euros
Comboio (Moscovo-São Petersburgo): 29,75 euros