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Introdução à espionagem soviética do KGB no Hotel Viru

Uma das salas do centro de espionagem soviético

O melhor conselho para aproveitarem verdadeiramente esta experiência tem origem numa questão semântica: não partam do princípio que vão visitar o Museu do KGB, apesar de ser esse o nome que aparece em muitos sítios. Se fosse esse o nosso objetivo, muito facilmente íamos acabar por nos sentir defraudados e achar que tudo não passava de publicidade enganosa. Mas se, por outro lado, quiserem visitar a extensão da rede de espionagem que os soviéticos tinham num hotel luxuoso em Tallinn, as horas (não mais do que duas) passadas no topo do Hotel Viru valem muito bem a pena.

 

A contextualização é pouco mais do que um bem desnecessário neste tema da Guerra Fria associado a espiões. Desde pequenos – independentemente da idade ou geração – que somos expostos a filmes e referências de aparelhos de escuta, microcâmaras escondidas e controlo absoluto sobre determinados alvos. Na Estónia, na periferia do império soviético, o Hotel Viru em Tallinn era uma extensão natural da política de controlo aplicada pelo Kremlin e pelo KGB.

 

Só se consegue visitar com reserva (através do site do hotel), num dos tours com hora marcada, e é uma experiência que não terão em mais lado nenhum. Ao entrar no hotel, começam desde logo a imaginar o que seria noutros tempos. É um espaço igual a tantos outros alojamentos de luxo - mas datado - e é fácil passar por lá sem se saber que há mais para saber. Mas, à porta de um dos elevadores, à hora marcada, percebe-se que há um grupo a formar-se para saber mais sobre os métodos de espionagem aplicados no passado.

 

Nada era deixado ao acaso. Mesmo antes de visitarmos alguns dos espaços – nos andares superiores – somos introduzidos ao tema. Os turistas estrangeiros eram quase sempre controlados, bem como dignitários de visita à Estónia. Os quartos eram escolhidos a dedo para garantir um relatório extenso sobre tudo o que se dizia e fazia e até algumas mesas do restaurante do hotel estavam preparadas para garantir que nada se perdia.

 

A Estónia pode não ter sido o epicentro da Guerra Fria, e estava a milhares de quilómetros da zona «mais densa» da Cortina de Ferro, mas o que fica desta experiência é o exemplo. Perceber como se fazia, o que tinham à disposição e como comunicavam com o Kremlin – sim, havia um dos míticos telefones vermelhos que davam acesso direto a Moscovo quando se levantava o auscultador.

Estónios deixaram as salas como as encontraram

Em duas salas, somos expostos ao gabinete do responsável do centro de espionagem e a uma outra sala com vários artefactos necessários. Está tudo velho, e podia estar mais bem conservado, mas garante o efeito de nos transportar a um período emblemático da segunda metade do século XX. Além disso, vendem-nos a ideia de que algumas coisas foram deixadas exatamente como foram encontradas, para demonstrar a forma rápida e desordenada como Tallinn foi abandonada com o desmembramento da União Soviética.

 

Há ainda um extra que não pode ser ignorado: o Hotel Viru é o edifício mais alto da Estónia e as salas visitadas estão nos andares superiores. Isto significa, portanto, que a vista sobre a cidade é magnífica. Só a possibilidade de ver o resto da cidade e o Báltico valeria os doze euros da reserva. Assim é mais uma cereja no topo do bolo do que qualquer outra coisa. História e paisagem: uma combinação perfeita.

A cereja no topo do bolo