Nada pagaria tanto IMI no basebol como o estádio dos Giants
Começou por chamar-se Pacific Bell Park em 2000. Desde então já foi rebatizado três vezes: para SBC Park em 2004, para AT&T Park em 2006 e, no ano passado, para Oracle Park. Independentemente do nome, o estádio dos San Francisco Giants é um regalo para a vista e merece a visita. Mesmo que os bilhetes não sejam dos mais baratos na liga.
A modernidade trouxe um sabor insonso às infraestruturas desportivas. Já não me lembro bem onde li pela primeira vez que os novos estádios das fases finais de Europeus e Mundiais parecem sair todos do mesmo molde e deixou de ser possível identificar imediatamente em que ano foi um determinado jogo só pelo estilo da construção do estádio onde foi disputado.
Estádios ingleses, italianos, sul-americanos, de países de leste, norte-americanos pareciam ter sempre uma pegada inconfundível. Hoje, parece tudo mais do mesmo. São cobertos, aumentaram o conforto e são planeados rigorosamente para nos agradar, disso não há dúvida, mas perdeu-se a diferenciação.
Nos Estados Unidos está a viver-se isso no basebol também, mas persistem estádios que nos transportam para o antigamente e que trazem elementos diferenciadores. Se Fenway Park (Boston) e Wrigley Field (Chicago) se destacam naturalmente por serem construções da segunda década do século passado, o estádio dos San Francisco Giants, apesar de ser mais recente, é um mimo de se ver. E foi construído na baía de São Francisco, paredes-meias com a água e, dependendo da bancada, é possível ver a Bay Bridge, que liga a cidade a Oakland.
O estádio pode ser do século XXI mas tem um instinto antigo. E nós, habituados a ver as imagens pela televisão, não quisemos perder a oportunidade. Destacando-se pelos seus tijolos alaranjados, o estádio diferencia-se pela vista, pela bancada baixa do lado direito (em cima da baía) e… pela enorme luva que está ao lado de uma igualmente enorme garrafa de Coca-Cola do lado esquerdo.
Os bilhetes não foram baratos, a mais de 50 dólares por pessoa. O jogo com os Los Angeles Dodgers – eterno rival – logo no início da temporada não ajudou. Mas, apesar do mau tempo (choveu ligeiramente), compensou. E, verdade seja dita, era um dia especial.
O encontro pode ter começado às 19h18 de São Francisco mas em Portugal já passava da meia-noite. Foi o jogo do aniversário da Sarah. Desde que começámos a visitar regularmente os Estados Unidos, escolhemos quase sempre a semana em que faz anos. Já viajámos no próprio dia para Washington, já visitámos um famosíssimo bar de blues em Chicago e… vimos um jogo dos San Francisco Giants.
Na primeira viagem, em Washington, vimos um jogo no dia seguinte, e a Sarah teimou que queria uma bola batida por um dos jogadores. Estivemos mesmo perto, mas alguém se antecipou. «Nem te mexeste! Podias ter-te esforçado», acusou, realçando que fazia anos (mesmo sendo no dia seguinte) e que merecia uma prenda.
Ter boa memória tem destas coisas. Dois anos depois, no regresso aos Estados Unidos, não perdi a oportunidade em São Francisco e antecipei-me. Depois de chegarmos aos nossos lugares, disse-lhe que já voltava e fui direto à loja comprar uma bola. Foi assim que começou a tradição de comprar bolas de basebol em todos os estádios que visitamos durante as viagens.
Pode ter sido batota mas ficou contente. Mais ainda do que com o jogo em si. Não foi espetacular durante grande parte das duas horas e 58 minutos que demorou e, como é habitual, as atenções perdem-se entre conversas, como a que é mantida com o bebé que faz as delícias das últimas filas.
A tradição é assim mesmo. Levar uma criança de meses para um jogo de basebol tem sido uma constante por todos os sítios em que passamos. Mais ainda do que na NBA e no futebol americano, o basebol resiste como evento de experiência familiar, dos mais novos aos mais velhos.
Dentro de campo, só o final foi espetacular. Até lá, contudo, tivemos inúmeras oportunidades para contemplar aquela vista fenomenal, que em Portugal seria mais do que motivo para elevar o valor a pagar do IMI. Nós não precisámos de abrir os cordões à bolsa. Não conseguíamos ver a ponte mas acompanhámos a baía durante o pôr-do-sol e foi impressionante, mesmo no meio da neblina e chuva que apareciam ocasionalmente.
Quando o jogo foi para extra innings (chamemos-lhe prolongamento), pensámos que a experiência pudesse vir a ser desconfortável. E se nunca mais saíssemos dali? Em outubro de 2018, houve um jogo da World Series que só terminou sete horas depois. Será que corríamos esse risco em 2016? Não… e foi impressionante.
Pela primeira vez, pudemos assistir a um walk-off home run. E o que quer isso dizer? Foi o que aconteceu quando um jogador dos San Francisco Giants atirou a bola diretamente para fora do campo, ali à nossa frente, e garantiu instantaneamente a vitória à equipa.
O basebol pode ser dramático e muda tudo numa questão de… um segundo. Num instante o pitcher dos Dodgers está a lançar a bola, no seguinte há mais de 40 mil pessoas a festejar exuberantemente a vitória contra o grande rival. E nós estávamos lá.