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O lado desportivo da capital dos Estados Unidos

Washington é uma das 13 metrópoles norte-americanas que contam com pelo menos uma equipa para cada grande desporto profissional dos Estados Unidos. Mas nem por isso tinha tido muitas razões para festejar até 2014, quando visitámos a capital do país.

Os Wizards (NBA), Nationals (MLB), Capitals (NHL) e Redskins (NFL) somavam fracasso atrás de fracasso mas começava a viver-se uma era de confiança. É esta a substância dopante do desporto: a esperança. E aí, de facto, não havia rival para as equipas de Washington, sobretudo no hóquei no gelo e no basebol.

Ver a ação de perto

Como fizemos a viagem em abril, sabíamos que íamos fora do calendário do futebol americano, por isso os Redskins estavam fora de hipótese. O que não calhava mal, tendo em conta que é o único estádio claramente fora do centro da cidade. De resto, com uma boa frescura física – e o tempo a ajudar – dá para chegar a pé, com maior ou menor dificuldade.

A primeira aventura foi ao ar livre, no basebol. A temporada estava no início e, mais uma vez, os Nationals assumiam-se como equipa com capacidade para chegar longe. Era um dia de sol e calor – tanto que acabámos os dois com um escaldão no nariz, talvez a nossa maior tradição desportiva nos Estados Unidos -, e o ambiente no estádio estava ao nível da nossa primeira experiência desportiva no país. Eu já tinha ido nos anos antes mas era a primeira vez da Sarah.

Uma bola abandonada

As memórias do jogo entre os Nationals e os Marlins, de Miami, são sobretudo da desadequação ao ambiente. Tinha tido más experiências em Boston e avisei a Sarah que, assim que começa a arrefecer, nos arrependemos de não levar tudo o que podíamos. Fiz mal – e os olhos da segurança que revistou a mala da Sarah à entrada demonstravam logo isso.

Foi uma experiência verdadeiramente agradável. Os lugares foram baratos e eram bons. Estávamos próximos da ação e, por mais do que uma vez, houve bolas a cair ao pé de nós. «Agarra uma para mim! Eu faço anos!», repetiu a Sarah, vezes e vezes sem conta, ignorando que o aniversário tinha sido na véspera e… a concorrência era enorme. Até porque não faltava pressão psicológica assim que um adulto conseguia segurar o prémio máximo: «Give it to a kid! Give it to a kid!», diziam.

Como em qualquer outro estádio, as equipas apostam muito na diversão e há algo que diferencia os Nationals de todas as outras: a corrida presidencial. Num intervalo entre innings, há sempre espaço para que mascotes em homenagem a antigos presidentes dos Estados Unidos deem uma volta ao campo ao som dos gritos de apoio dos espetadores que, dependendo do lado para onde acordaram naquela manhã, torcem por um ou por outro.

Uma das famosas corridas presidenciais

Já vos disse que estávamos em abril? O tempo neste mês consegue ser uma roleta russa. Apanhámos sol e muito calor nuns dias e, no espaço de uma noite, já nem conseguíamos andar um quarteirão sem gelar os ossos das pernas. Ainda assim, no dia em que fomos ver um jogo de hóquei no gelo dos Capitals, a temperatura do lado de fora era superior a 30 graus. Dos nossos, Celsius.

A Sarah estava de calções curtos e morria de calor. Queria ar condicionado, queria beber água. Queria ter o mínimo de peso em cima do corpo. De repente, ao entrar para o pavilhão (que fica perfeitamente integrado no coração da cidade, junto à Chinatown), tudo mudou. O frio que emana do rinque tornou aquela experiência uma das piores possíveis para ela.

Dá para perceber o frio pela imagem?

Eu estava de calças e t-shirt mas tremia. Ela, de calções, sofria ainda mais. O desespero era tão grande que chegou a aproveitar pequenos sacos de plástico, nos quais vinham embrulhadas umas pequenas mochilas de oferta aos espetadores, para colocar sobre as pernas e tentar criar uma pequena camada protetora. Sem sucesso.

Dentro do rinque, a geração de Alexander Ovechkin partia para mais uma época de desilusão. A história era a mesma ano após ano: dos melhores durante a fase regular passavam a fracasso nos playoffs. Só mesmo em 2018 isso mudou, com o tão ansiado título.

Mas ali, naquela tarde, houve algo que não mudou. O frio. Chegámos a ponderar seriamente a hipótese de ir comprar roupa à loja da equipa, mas aguentámos, estoicamente, até ao final. Foi a melhor experiência? Nem por isso. Foi giro vermos finalmente um jogo da NHL juntos mas, para futura memória, ficaram apenas as pernas arrepiadas e as mochilas que nunca mais voltaram a ser utilizadas. Conselho? Por mais calor que esteja nesse dia, estejam sempre preparados antes de entrar num pavilhão cheio de gelo.

Do frio do hóquei no gelo para o calor com os Miami...Heat

Foi o que aconteceu quando vimos os Washington Wizards com os Miami Heat. A fase regular estava a terminar e LeBron James não jogou. Nem Chris Bosh. Dwyane Wade estava no cinco inicial mas também só fez 18 minutos. Até Ray Allen esteve mais tempo em campo, saído do banco. Com tanta poupança, não surpreendeu que os Wizards tivessem vencido com facilidade. E a geração também era boa, com John Wall (bem fisicamente) e Bradley Beal.

A euforia foi grande (afinal uma vitória é sempre uma vitória) e apercebemo-nos que não há volta a dar: a Sarah não gosta mesmo de NBA. Foi o primeiro de muitos jogos que vimos ao vivo, mas a sensação não mudou. Continuamos a ver mas já sabemos que é um bocado a contra gosto. Vale pela experiência, pelos nachos, pela emoção, pelas iniciativas que vão promovendo durante os descontos de tempo e intervalo, mas depois, quando a bola começa a bater no chão, o desinteresse apodera-se dela. É pena: podíamos ser ainda mais felizes.