O Minho como aperitivo para Vigo
Há uma coisa sobre a qual não falamos (todos) o suficiente. Viajar é contagiante. Há um bicho-viajante que se instala dentro de nós quando começamos a fazer viagens com maior frequência e, quando paramos para pensar, percebemos que não há como nos livrarmos disto.
A nossa viagem a Vigo começou quando estávamos a voltar para Lisboa depois de termos feito a Estrada Nacional 2 entre Montargil e Chaves. Ao parar numa estação de serviço na autoestrada, enquanto a Sarah foi comprar qualquer coisa, fui ao telemóvel ver quando é que o Atlético Madrid jogava em duas cidades: Vigo e Sevilha.
A minha paixão pelo Atlético Madrid tem-nos feito fazer várias viagens até à capital espanhola para ver jogos. Agora, depois da ida a Chaves, pensei que poderíamos aproveitar uma viagem diferente que nos permitisse ver um pouco mais de Portugal e, ao mesmo tempo, um jogo do Atlético.
Quartel-general em Ponte de Lima
Sem feriados perto do fim-de-semana ou dias de férias para meter, a viagem teria de começar na sexta-feira a seguir ao trabalho. O grande objetivo era poder chegar o mais perto de Vigo possível para que o dia no sábado fosse menos cansativo.
Começámos a procurar por hotéis a partir do Porto e a calcular quantas horas precisaríamos para chegar lá. Queríamos encontrar algo barato, confortável e, acima de tudo, que nos permitisse fazer um check-in tardio. A escolha recaiu num hotel nos arredores de Ponte de Lima, cumprindo na perfeição a ideia que tínhamos para poder explorar um pouco do Minho no sábado.
O jogo começou por estar marcado para as 16h15 (hora espanhola) mas a previsão de calor adiou-o para as 18h30. Foi uma alteração perfeita: teríamos tempo para ir com mais calma no sábado até Vigo, sem esquecer alguns dos sítios que queríamos visitar no Minho.
Ponte de Lima, claro, foi a primeira paragem. Estacionámos perto da ponte, à sombra de uma árvore que parece ter sido plantada especificamente para nos satisfazer numa manhã de imenso calor, e fomos explorar a zona.
Tirámos umas primeiras fotografias perto do carro e decidimos atravessar a ponte a pé, depois de comprarmos uma garrafa de água de litro e meio que nos permitisse refrescar sempre que precisássemos. A «vila mais antiga» de Portugal respira vivacidade e a prova de canoagem infantil que estava a acontecer é apenas mais um sinal disso.
Parámos para ver uns minutos de rapazes e raparigas a pagaiar à melhor velocidade que conseguiam perante os gritos de motivação de amigos, familiares e monitores. Ali, na capital da modalidade, poderão estar os próximos Fernandos Pimentas e Emanueis Silvas.
Próxima paragem: Viana do Castelo
Estava na hora de regressar ao carro e fazermo-nos à estrada. O objetivo era seguir até ao litoral até chegar a Viana do Castelo. Tínhamos uma coisa em mente: o Santuário de Santa Luzia. O calor tornava tudo cada vez mais complicado mas seguimos a missão à risca.
Não havia muita gente no Santuário mas à porta estava estacionada uma enorme limusina reservada para os noivos que casavam lá dentro. Não entrámos – não quisemos incomodar – mas aproveitámos para fotografar o Santuário e absorver as vistas sobre Viana do Castelo que o miradouro nos oferecia. Tinha sido uma boa ideia ir até lá.
A hora de almoço estava quase a chegar e ainda não sabíamos exatamente onde comeríamos. A ideia era seguir pelo litoral para norte, por Vila Praia de Âncora, Caminha e Vila Nova de Cerveira até cruzar o rio Minho para chegar a Espanha.
O acaso trocou-nos (um pouco) os planos. À saída de Viana do Castelo, um casal pedia boleia aos carros que passavam. À primeira ignorámos mas depois de falarmos entre nós, decidimos fazer inversão de marcha e perguntar para onde queriam ir. «Âncora», disseram. «Pois bem, entrem».
Ela era espanhola e jornalista, ele francês e estudante de Ciência Política com uma ideia de futuro muito indefinida ainda. Vivem os dois em Toulouse e tinham chegado ao Porto, dois dias antes, via Marselha. Estavam a caminho de Vigo para ir ter com uma amiga que trabalha nas Islas Cíes.
Almoço em Vila Nova de Cerveira
A conversa era tímida e intercalada por momentos de silêncio. Envergonhados, acabaram por pedir para continuarem connosco mais uns quilómetros. Em Caminha, chegámos a parar para apanharem o barco mas faltavam duas horas e meia para a próxima travessia e, uma vez mais, pediram-nos para seguir connosco.
Despedimo-nos em Vila Nova de Cerveira. Eles iam passar a ponte e nós fomos à procura de um sítio para comer. Estacionámos no centro e atravessámos pequenas ruas, saltitando entre sombras. Tudo estava ornamentado com peças de crochet mas nada se aproximava sequer da casa que vimos, à nossa esquerda. Toda ela parecia ser feita de lã, desde os tijolos à roupa estendida entre varandas.
Não foi surpresa, por isso, que os poucos turistas que passavam fizessem fila para ter a oportunidade de tirar fotografias.
A caminho de Vigo
Depois de uma refeição confortável – e refrescante – concordámos em seguir diretos para Vigo, chegando a tempo de um possível mergulho na praia antes do jogo. Era sábado, o termómetro marcava 38 graus, e devia estar tudo a abarrotar mas, tal como tínhamos feito na viagem até Chaves, só precisávamos de cinco minutos para trocar de roupa, sair do carro, ir à água, mergulhar e voltar.
O desafio foi mais complicado do que esperávamos. Como nós, havia dezenas de carros à procura de um lugar para estacionar. Desistimos da ideia e optámos por uma solução intermédia: eu ia ficar no carro, no parque de estacionamento de uma equipa do terceiro escalão espanhol (FC Coruxo), enquanto a Sarah ia à água. Depois, trocávamos de posição. Depois de parar o carro, fomos recompensados. Um casal ia sair e íamos ficar com um lugar praticamente à entrada da praia. Perfeito!
A água não estava propriamente quente mas o calor que sentíamos ao sair recompensava. Não precisámos de mais de vinte minutos para voltar a sair, com o corpo refrescado e a mente já no jogo de futebol.
O maior desafio voltou a ser o mesmo: estacionar. Ficámos a mais de um quilómetro do Estádio de Balaídos mas, vendo as coisas pelo lado positivo, o caminho era sempre a descer. Sim, se forem pessimistas poderão destacar que o regresso ao caso seria sempre a subir. Vá, esqueçamos essa parte por agora.
O ambiente no estádio foi interessante. Felizmente ficámos em lugares que tinham sombra e por isso não sofremos tanto como quem estava no outro topo. O Celta venceu o Atlético Madrid por 2-0 (é uma espécie de maldição que tenho: em onze jogos que vi, os colchoneros só ganharam três e pelo meio estive num empate que poderia dar título em 2014 e na final da Liga dos Campeões em Lisboa) e nunca pareceu ter o triunfo em causa.
Regresso a Portugal com o plano de domingo na mente
Confesso: o caminho de regresso ao carro nem foi muito difícil. Ainda não tínhamos hotel reservado para a noite de sábado mas a ideia era ficar perto do Porto para que o regresso a Lisboa no dia seguinte não fosse muito cansativo.
A sair de Vigo, tivemos a oportunidade de ver, possivelmente, o pôr-do-sol mais bonito que alguma vez vimos (uma pena a autoestrada não ter dado para tirar uma única fotografia de jeito) e seguimos o nosso caminho, já com um hotel reservado em Gaia.
O domingo não era apenas o dia de regresso a Lisboa. Tínhamos decidido ir a Aveiro. A Sarah nunca tinha ido e eu só tinha ido em trabalho – duas vezes diferentes, sempre para entrevistar jogadores do Beira-Mar. Agora, íamos estar só os dois e com tempo para fazer o que quiséssemos. Passeámos pela ria, atravessámos a Ponte Laços de Amizade, almoçámos enquanto vimos a largada do Grande Prémio de Fórmula 1 no telemóvel, comprámos ovos moles e fomos de carro até à Costa Nova, para ver as tão famosas casas com riscas coloridas.
Por esta altura, o cansaço já nos invadia o corpo. Não é fácil andar tanto com tanto calor durante tanto tempo. Assim, a meio da tarde, decidimos regressar a Lisboa. Com o sentimento de dever cumprido e… já com outras viagens em mente. É contagiante!
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