Por que é que o Japão me fez reformar definitivamente a minha mala
Há um bom par de anos que a minha mala de viagem - daquelas médias, bem gira, que normalmente se usa em férias de uma semana ou um bocado mais - não sai do armário. Comprei-a pouco depois de começar a viajar com o Rui - afinal não fazia sentido estar sempre a "cravar" a mala a alguém quando sabia que, inevitavelmente, as escapadelas se iam tornar uma coisa frequente.
Gosto muito dela, serviu-me bem. Foi comigo aos Estados Unidos, várias vezes, e à China, e eventualmente a mais uns sítios que agora não me lembro. Mas não tardou a ficar mais vezes de lado do que a uso - primeiro porque a maioria das nossas viagens eram de dois ou três dias, e a mochila servia perfeitamente; depois, porque as companhias aéreas começaram a cobrar pela bagagem de porão; finalmente, porque se há coisa de que não gosto é ter de carregar um malão, seja em que situação for, e ainda menos de esperar por bagagem num aeroporto. Quero chegar, passar o controlo que for preciso e sair porta fora, o mais rápido possível.
Depois de, no ano passado, termos passado 11 dias no sul dos Estados Unidos (é importante mencionar a localização - em Nova Orleães e Atlanta perde-se muita roupa para o suor) e termos sobrevivido só com as nossas mochilas, a ideia de não voltar a usar uma mala tradicional de viagem começou a formar-se.
Não me interpretem mal: não sou contra a bagagem de porão, nos outros; nem sequer para mim, em situações específicas e pontuais - e essas são facilmente identificáveis. Metem sempre o regresso a casa, carregada de prendas que não foram comigo na partida. E isso resolve-se com um saco resistente, mas dobrável, que não ocupa espaço nenhum e nos dá 30 litros de bagagem quando é necessário (também é útil para outra coisa fundamental: lavar roupa. Já lá vamos).
No espaço de um ano, foram três as viagens com duração superior a uma semana em que a única coisa com que tive de me preocupar foi a minha mochila. Depois da tal viagem ao sul dos Estados Unidos, fizemos um cruzeiro nas Caraíbas, com uma noite em Miami, e, no mês passado, estivemos 11 dias no Japão - e agora tenho a certeza de que a minha primeira opção será sempre evitar o malão. Fica a faltar uma experiência invernosa, mas creio que não vai alterar a minha convicção.
Vamos por partes. Fazer com que isto aconteça é fácil, basta lavar roupa quando é necessário. Se o fazemos em casa, por que não noutras paragens? Na nossa primeira viagem, aproveitámos a máquina de lavar e secar do nosso Airbnb, e nem sequer alterámos a rotina; agora, no Japão, encontrámos uma lavandaria automática a cinco minutos do nosso hotel e incluímos um par de horas de "relax" nos afazeres de um dia a meio da viagem. Menos de duas horas depois, tínhamos a roupa toda lavada e seca e estávamos de volta ao hotel. (O saco desdobrável dá jeito para isto, escusam de levar a mochila - que certamente não está cheia só com roupa - atrás de vocês.)
Levar roupa para três, cinco ou sete dias depende da disposição, do espaço disponível, da viagem que vamos fazer, mas a verdade é que nunca precisamos de mais do que isso, independentemente do número de dias que estejamos fora. O único cuidado especial a ter é levar roupa que possa ser lavada toda junta (tento evitar roupa branca e preta - ou uma, ou outra).
E a segunda parte? Só há benefícios. Nada de chatices para despachar bagagem num avião, e ter de esperar por ela depois; nada de taxas, quando se aplicam; e, mesmo fora dos aviões, é um descanso.
Por isso é que digo que o Japão enterrou de vez a minha mala de viagem: depois de tantos dias entre aviões, comboios, metros e autocarros, vendo centenas de turistas a lutar para enfiar as malas não sabiam bem onde, ou simplesmente a ser estúpidos e a ocupar lugares em autocarros apinhados com as suas malas, percebi que não é assim que quero viajar. Quero preocupar-me só com a minha mochila, de preferência pouco pesada, que consigo sempre levar ao colo ou aos meus pés, que entra facilmente nos compartimentos superiores de comboios ou autocarros e que não chateia ninguém - às vezes passa despercebida e alguém tropeça nela, mas isso até é bom sinal.
No Japão, há um sistema de envio de bagagens que a maioria das pessoas acha fabuloso: podemos estar em Quioto e despachar as malas para o próximo hotel, em Tóquio, por exemplo, sem nos preocuparmos com o assunto. Melhor ainda? Não ter malas para enviar e poupar uns trocos por não ter de o usar. Mas a existência, e a popularidade, demonstram o quão melhor é viajar de mãos livres (ou com uma pequena mala de rodinhas, se vocês quiserem. Eu sou team mochila).
O único obstáculo poderia ser a dificuldade em lavar a roupa, mas se até em Portugal, que há meia dúzia de anos não tinha uma lavandaria automática, já se encontram a cada esquina, quão difícil será? Em último caso, podem sempre lavar roupa à mão. E se nós conseguimos pôr a trabalhar - com uma ajudinha, vá - as máquinas de lavar em japonês, toda a gente consegue, em qualquer sítio.