Três dias entre Riga e Tallinn
Três dias raramente são suficientes para ver a sério duas cidades, ainda mais quando se trata de duas capitais - mesmo que pequenas, mereciam mais que isso. Mas às vezes é só isso que temos, e um fim-de-semana grande passado por lá vale a pena de qualquer maneira.
Se algum dia vos calhar a mesma sorte, ou se tiverem mais tempo mas quiserem saber por onde começar, aqui ficam as nossas dicas para passar um dia e meio em cada uma das pérolas bálticas que visitámos.
Um dia para explorar o centro de Riga
O Parque Bastejkalna é uma boa opção para arrancar, se quiserem virar as costas ao normal - que seria começar pelo centro histórico da cidade. Mas essa é exatamente a razão para sugerirmos isso: a maior parte dos turistas vai fazer o percurso inverso, e podem ganhar alguns minutos mais calmos ao inverter a ordem.
O parque ocupa as margens do canal que separa o centro da cidade das suas "avenidas novas" e merece a visita. Há um monte de recantos por explorar, cada um com o seu encanto especial, e, quer dizer, nunca ninguém deu o seu tempo como perdido num passeio por um parque bonito, certo?
Ali ao lado encontram o Monumento da Liberdade de Riga, um obelisco que homenageia os soldados mortos durante a Guerra de Independência da Letónia. Se não lhe derem mais crédito, fica pelo menos a "photo op" e um piscar de olho àquela que deve ser a vossa paragem seguinte: o Museu de Ocupação da Letónia.
Nós somos uns fáceis em tudo o que diga respeito a história do século XX, por isso não podíamos passar ao lado deste museu que nos leva a perceber um bocadinho mais da história de um país que foi ocupado sucessivamente por soviéticos, nazis e soviéticos outra vez - com mais umas porradas pelo meio. Uma introdução fascinante à história política recente da região. (A morada da exposição permanente é Raiņa bulvāris 7, e não a que o Google Maps mostra se procurarem pelo museu)
Quando saírem, se não tiverem já dado por ela, vão ver claramente a Catedral Ortodoxa de Riga, com as suas espetaculares cúpulas douradas. Se for o primeiro exemplo desta arquitetura que veem - como foi para mim - não há como impedir o fascínio.
Atravessar o rio de volta vai levar-vos ao centro da cidade. Se o passeio começou de manhã, esta será uma boa altura para parar e almoçar, antes de seguir caminho até aos Três Irmãos, um conjunto de edifícios que representam os primeiros projetos de habitação na cidade, com datas de construção e estilos distintos.
Estão agora em pleno centro histórico de Riga, e é fácil de perceber. A cidade é bonitinha, mas o seu verdadeiro encanto está nos pormenores: veja-se a Casa dos Gatos, por exemplo. O nome é explicativo. Aproveitem para passear, enveredar por ruas e ruelas e acharem que se perdem - a verdade é que o centro é tão circunscrito que isso dificilmente vai acontecer.
A caminho da Igreja de São Pedro vão passar pelos edifícios da Grande Guilda e da "House of Blackheads", antigo ponto de encontro para a união dos mercadores, armadores e estrangeiros não casados, entre muitos outros. E depois verão a Igreja que, não tendo nada de absolutamente excecional em si, vos dará uma nova perspetiva da cidade: podem subir parte da torre e, do alto dos 72 metros da plataforma de observação, ver para além dos limites da capital.
Por termos visitado no Outono, o frio (e a noite precoce) matou-nos nesta altura, mas se por acaso forem até lá numa altura mais convidativa para andar na rua, a nossa sugestão seria rumarem às margens do Rio Duína Ocidental e verem o pôr do sol das suas margens.
O mercado e uma introdução a Tallinn
Tendo em conta que a viagem entre Riga e Tallinn dura cerca de quatro horas, de autocarro, o dia dois deste fim-de-semana alargado fica consideravelmente reduzido, mas ainda dá para aproveitar.
Para nós - e porque a estação central fica mesmo ali ao lado - isso significou fazer o checkout do nosso hotel e seguir para o Mercado Central de Riga, o maior mercado da Europa e incluído nas listas de Património Mundial da UNESCO em 1998. Além de (para quem gosta, que no nosso caso é só um de nós) ser sempre giro passear no meio de mercados de outros países, que nos permite fazer uma espécie de curso intensivo inicial na cultura local, tem comida maravilhosa, e muito barata.
Uns metros mais à frente fica a Academia de Ciências da Letónia, um edifício que grita "ocupação soviética", construído à semelhança das Sete Irmãs que Estaline erigiu em Moscovo. Um contraste incrível com os edifícios bonitos, de estilo muitas vezes gótico, que salpicam o centro de Riga.
É tempo então de nos metermos no autocarro e atravessar a fronteira para a Estónia. Infelizmente em Tallinn a estação não é a meros passinhos do centro, mas a verdade é que há sítios piores para isso acontecer: os transportes são fantásticos e, em menos de nada, damos connosco a fazer check-in e largar as malas no hotel.
Se já leram uma coisa ou duas sobre as nossas viagens, estão a estranhar a falta de desporto até aqui. Nada temam! Conseguimos arranjar uma viagem que apanhava em cheio o fantástico Estónia-Gibraltar, em futebol, de qualificação para o Mundial da Rússia. Desta vez eu fiquei de fora - metade pelo frio, metade por uns problemas de saúde que me chateavam na altura - mas o Rui ocupou a sua tarde/noite a ver o grande clássico do futebol europeu. E eu, como boa pessoa, acompanhei-o até ao estádio e vim acompanhada de volta com uma camisola da seleção.
Um dia para explorar Tallinn
Se não fizerem mais nada em Tallinn, tratem de não deixar de lado estas duas coisas: uma visita ao Museu do KGB e um almoço no Kompressor.
Caso tenham mais tempo - e, convenhamos, é provável que tenham mais algumas horas - sugerimos que comecem por explorar a zona de Toompea, a mais alta da cidade. Um aviso: pode ser ventosa. Por ser uma zona alta, tem uma série de plataformas de observação com vista privilegiada sobre a cidade - a de Piiskopi é uma das melhores.
Ainda no alto fica a Catedral de Alexandre Nevsky, mais um espetacular exemplo da arquitetura religiosa ortodoxa, construída no final do século XIX. Todo o bairro, com alguns dos edifícios mais antigos encontrados na cidade, merece um passeio demorado e pausas para absorver o ambiente da cidade. Tenham em conta, no entanto, que ao fim-de-semana em Tallinn fica a abarrotar de turistas/bêbedos/jovens vindos da Finlândia, de barco, para um par de dias "a viver barato".
Quando a fome apertar, a paragem obrigatória deve ser o Kompressor: um restaurantezinho que afinal não é tão pequeno assim, do qual mal se dá conta quando se passa por ele, e que serve uma versão de crepes/panquecas XXL maravilhosas, e ao preço da chuva. Nós cometemos o erro de pensar que podíamos comer um crepe salgado e uma sobremesa cada um. A não ser que sejam o Hulk, amigos, acho pouco provável que isso vá acontecer. Entrem, ponham-se na fila para pedir ao balcão e depois tentem arranjar um lugar para sentar enquanto esperam. No nosso caso, a espera foi curta - mas acho que mesmo que fosse longa, valeria a pena.
Estão a dois passinhos das portas da cidade, nomeadamente a Porta Viru, que fazia parte do sistema de muralhas que protegia Tallinn - algumas secções ainda são visitáveis. Muitas vezes, nessa zona, está montado um pequeno mercado com produtos agrícolas, souvenirs e muitas flores. É também aqui que se concentram a maior parte dos turistas - é que a subida a Toompea não é para todos ,- por isso não ficámos muito tempo.
O nosso destino final estava mais à frente, dentro do Hotel Viru - o hotel abriu nos anos 70 e era propriedade da Intourist, a agência de turismo russa. Com um bocadinho de imaginação - ou não tanta assim - percebem por que alberga, hoje, o Museu do KGB. Só se consegue visitar com reserva (através do site do hotel), num dos tours com hora marcada, e é uma experiência que não terão em mais lado nenhum. Vale todos os 11 euros do bilhete (esse escândalo de preço!).
Se ainda conseguirem espremer mais do dia, o Báltico está mesmo ali à mão de semear: e quem não fica feliz por ir conhecer outro mar?