Um guia para ficar apaixonado por Roma em dois dias
O lugar-comum diz que todos os caminhos vão dar a Roma e nós fizemos questão de comprovar se havia fundo de verdade. A nossa conclusão foi esmagadora: não só é verdade como fazemos questão de conhecer cada rua e ruela, cada esquina e praça, cada recanto de uma cidade que tem tanto para oferecer.
Num fim-de-semana de calor, há dois trunfos fundamentais: uma garrafa de água vazia e calçado apropriado. A primeira porque há fontes espalhadas por toda a cidade com água fresca que vos vai saber maravilhosamente e a segunda porque mais do que andar muito, vão andar num piso que parece uma montanha-russa. Subidas, desníveis, empedrados: tudo vale para vos deixar os pés magoados e à procura de tréguas.
Se a escolha de um sítio para ficar é fundamental (como sempre), a seleção de início de viagem dá inúmeras opções. Há um bocado de Roma histórica a querer ser descoberto a quarteirão e dificilmente ficarão desapontados. Para facilitar, vamos dividir as sugestões entre as margens do Tibre. Começamos com o lado do Vaticano no primeiro dia e passamos para o lado do Coliseu no segundo.
A Ponte Sant’Angelo, de frente para o famoso castelo e com uma vista privilegiada sobre a Basílica de São Pedro, é uma passagem privilegiada sobre o Tibre. A sensação de espanto surge pela primeira vez e promete acompanhar-vos a cada hora que passar.
Quanto mais cedo chegarem ao Vaticano, melhor. Há fila para entrar na Basílica, fila para entrar nos Museus do Vaticano e fila para chegar à cúpula que garante uma das melhores vistas sobre a cidade. Se conseguirem bater as filas, ganham tempo precioso para a segunda metade do dia. E se quiserem visitar os dois, sigam primeiro para o Museu - a não ser que haja uma missa especial em São Pedro.
Um último conselho relativamente aos Museus do Vaticano pode não ser mais do que um instinto de sobrevivência. O espaço é enorme e podem facilmente perder a noção do tempo lá dentro. Se for realmente no início da viagem, a não ser que gostem mesmo muito de arte, não caiam no erro de não seguir os sinais de «caminho express» para a Capela Sistina. Acreditem: mesmo a andar muito rápido, como nós, ainda vão passar por inúmeros corredores antes de chegar ao Santo Graal da arte de Michelangelo. A sala vai estar apinhada de gente, supostamente silenciosa, mas será fácil fugir a essa ideia. Escolham um bom lugar, olhem para cima e deliciem-se. Não é todos os dias que têm direito a ver algo assim.
De costas para a Basílica, na famosa Praça de São Pedro, vão querer seguir para a direita, na direção de Trastevere. Lembram-se nos famosos desníveis? Preparem-se para um grande ao subir a Via del Gianicolo rumo à Passeggiata com o mesmo nome. Pode ser exigente mas vai compensar quando chegarem lá acima, no meio das árvores, com uma vista deslumbrante não só sobre a cidade mas também sobre a cúpula da Basílica. Descansem, tirem fotos, façam palhaçadas a imitar os rostos de muitos dos bustos ali existentes e, com a energia reforçada, sigam sem medo na direção de Trastevere.
Esta zona, junto ao rio, é Roma no seu expoente máximo. Há praças, esplanadas, e inúmeros sítios para comer e descansar, se encontrarem a sombra certa. Por esta altura, dependendo do tempo que demoraram no Vaticano, vão estar com fome. Podem fazer como nós, e comer um delicioso salmão grelhado (pedido fora do menu porque… desejos), ou simplesmente procurar uma das gelatarias de qualidade comprovada.
O dia deverá estar quase a acabar mas pode haver uma última oportunidade para verem um sítio muito movimentado e famoso à conta de inúmeros filmes: a Bocca della Veritá. Mais uma vez, vão estar diante de uma enorme fila mas se quiserem a versão expresso, podem aproveitar apenas uma troca de pessoas e fotografar entre as grades. Por último, se quiserem fazer um pequeno desvio, têm o Circo Massimo não muito longe. Em tempos foi a maior arena para os romanos se entreterem mas agora não parece muito mais do que uma zona de descampado. Vale pelo seu significado histórico mas não vos exigirá muito tempo.
Com o pôr-do-sol a chegar, um passeio junto ao Tibre promete protagonizar um excelente final de dia. Não é tão romântico ou agradável como o Sena em Paris mas é muito menos movimentado e igualmente relaxante. Depois de tantos quilómetros a andar – e com outro dia inteiro pela frente – vai saber-vos bem.
Do Coliseu à Piazza Navona
O Coliseu de Roma é, muito provavelmente, uma das construções mais famosas do mundo e, necessariamente, uma das coisas que nos vem imediatamente à cabeça quando se pensa na capital italiana. Sendo assim, é mais do que justo que marque o início de um novo dia.
A parte boa de Roma é que, por muito longe que o Coliseu possa ser de uma outra atração que tenham em mente, há sempre um trajeto exequível sem pontos baixos. Perto do Coliseu, podem aproveitar a vista do lindíssimo Arco de Constantino antes de entrar no Fórum Romano. Entre ruínas, vão poder ter uma sensação do que era viver em Roma no apogeu da civilização romana. Muito importante, para escapar (dentro do possível) a longas filas, é comprar a entrada para o Fórum e Coliseu no primeiro - já que a maioria das pessoas vai diretamente para o grande cartão de visita de Roma.
Quando saírem, do lado contrário, não estarão muito longe do Monumento a Vittorio Emmanuele II. Certamente já terão reparado nele durante o passeio na Passaggiata del Gianicolo e, uma vez mais, também terão a oportunidade de subir lá acima para aproveitar a vista. Vocês saberão melhor do que ninguém se compensa.
A partir daqui, embora haja locais de atração mais próximos, talvez valha a pena seguir sempre em frente na direção da Piazza di Spagna. Mais ou menos a meio caminho, terão mais uma subida íngreme para cumprirem a tradição de atirar uma moeda na famosíssima Fontana di Trevi. Depois, sigam trajeto até à famosa escadaria. Vejam-na de baixo, subam-na e aproveitem a vista. Aqui terão uma ideia perfeita sobre os sítios por onde já andaram e o que estarão dispostos a fazer ainda.
Se forem corajosos, afastem-se ainda mais do centro rumo à Piazza del Popolo, um sítio perfeito para fazer people watching e descansar os pés. Acreditem: eles vão estar desesperados. Se preferirem atalhar, sigam na direção do Panteão (não vão mesmo querer perder esta oportunidade) e da Piazza Navona.
Esta última servirá como o grande checkpoint do dia. Não interessa a hora a que lá chegarem, deixem-se ficar. Com sorte, poderão ver um dos habituais espetáculos de movimentação de aves que deixam turistas e italianos de boca aberta e telemóveis no ar. Com azar (se é que se pode chamar a isto azar), encontram um sítio para se sentarem, comem um gelado, um crepe, uma pizza ou outra coisa qualquer e absorvem todo aquele ambiente romano.
Vão estar cansados, com os músculos de rastos e pés cheios de bolhas mas, acreditem, não vão evitar o sorriso nos lábios. Roma é assim mesmo. Conquista-nos a cada esquina e por cada caloria gasta tem outra deliciosa para nos oferecer.