Um toque brasileiro imprevisto no Camp Nou
Há estádios que não precisam de jogos para merecerem uma visita. O Camp Nou, em Barcelona, é um deles. Pela história, pela imponência, pelo estatuto, é impossível visitar a cidade catalã sem pensar em passar pelo Camp Nou. Quando, além disso, percebemos que há um jogo à nossa espera (com o Villarreal, no caso), torna-se impossível fugir.
O Barcelona-Villarreal daquela noite fria de dezembro, em 2013, é irrepetível. Não por ter tido uma exibição magnífica de Messi, até porque o argentino não estava disponível, mas por se ter disputado em vésperas do Mundial de Clubes em Marrocos.
E qual é a importância deste pormenor? A América do Sul ia ser representada pelo Atlético Mineiro e houve uma migração em massa de adeptos brasileiros para a Catalunha. Como qualquer bom turista – sobretudo de cariz desportivo – fizeram questão de ir assistir ao jogo com o Villarreal e tomaram de assalto o Camp Nou.
Não seriam, aparentemente, suficientes para fazer a diferença num estádio com a dimensão do Camp Nou mas a verdade é que o livre-trânsito entre bancadas – sobretudo no anel superior – foi um convite a que pudessem andar metros e metros para se juntarem todos junto ao topo norte… exatamente onde estávamos.
Há momentos inesquecíveis. Ter o Camp Nou com uma boa moldura humana (recordamos que cheio mete mais de 90 mil pessoas) consegue ser assoberbante, sobretudo quando começam a cantar o hino no início do encontro – mas há qualquer coisa de único quando são os cânticos dos adeptos do Atlético Mineiro a dominar o universo sonoro.
Lá dentro, no relvado, a uma distância tão grande como se estivéssemos no antigo Coliseu de Roma, Neymar brilha como a nova estrela de um Barcelona já sem Guardiola. Cá fora, somos entregues ao leque de cânticos de toque brasileiro. A improbabilidade do momento conquista todos os outros, que não resistem a reservar um minuto do seu tempo para se aproximarem daquelas centenas de adeptos e registar o episódio em fotografia ou em vídeo.
O Camp Nou seria sempre uma experiência única. Visto de fora, pela forma como está construído, parece um estádio igual aos outros, quiçá mais pequeno até. O que não se percebe de imediato é que o relvado está localizado abaixo do nível da superfície. Por isso, lá dentro, quando se começam a subir escadas, perdemos a noção da altura que estamos a atingir.
É impossível fugir à sensação de pequenez. Naquele estádio à antiga, mesmo longe de estar lotado, sentimo-nos apenas um grão de areia num deserto catalão que tem encontrado oásis atrás de oásis desde que um adolescente argentino chamado Messi surgiu e, anos mais tarde, começou a ser liderado por Guardiola, numa equipa com outras figuras como Xavi e Iniesta.
Num jogo sem Messi e Xavi, e já com Guardiola na Alemanha, Iniesta foi titular, mas a estrela foi mesmo Neymar, para gáudio da falange de adeptos que sonhava mais com o troféu no Mundial de Clubes – onde o Barcelona seria o principal rival, curiosamente – do que com um eventual triunfo dos culés sobre o Villarreal.
A experiência deixou marca. Pelo simples facto de ser um jogo do Barcelona. Por ser no Camp Nou. E, claro, por haver uma falange de figurantes que fizeram a festa e ajudaram a tornar aquela noite irrepetível. Seja como for, qualquer jogo do Barcelona no Camp Nou será sempre especial. Só precisam de ter cuidado com as vertigens – se as tiverem – e com a possibilidade de ser um jogo disputado à chuva. Sim, uma parte necessária de ser um estádio à antiga passa por ter apenas um quarto das bancadas cobertas. Valerá sempre a pena, de qualquer forma.