Uma viagem ao passado à boleia da JFK Library
“JFK” é nome de filme, de documentário, de monumento. Para os… menos crescidos, é uma figura que faz parte da história, sem estar demasiado próxima de nós. Afinal, o seu assassinato ocorreu há mais de 50 anos. Por isso mesmo, e apesar de saber da existência de uma biblioteca-museu em seu nome, e de ter alguma curiosidade, nunca pensei seriamente fazer o desvio – estando em Boston – para ir até lá.
Os americanos têm esta tradição de ter uma biblioteca-museu em homenagem aos seus antigos presidentes, que começou após a presidência de Hoover (1929-1933). A mais recente já inaugurada é a de George W. Bush, no Texas – a de Obama deverá abrir ao público em Chicago, em 2020.
Além de funcionarem como arquivo para os documentos e coleções presidenciais, estas bibliotecas têm também uma componente museológica, com exposições sobre o período em que o presidente serviu como tal e, muitas vezes, sobre a vida do próprio presidente.
É o caso da JFK Library and Museum, erguida em Columbia Point (Boston). Para nós, foi uma surpresa. Sendo a terceira vez que visitávamos Boston, queríamos voltar aos nossos locais preferidos, claro (olá Fenway Park), mas também explorar zonas onde não tínhamos ido até então. A biblioteca fica em South Boston, ao pé do campus da University of Massachusetts, e um bocadinho “fora de mão” do percurso habitual do turista que visita a cidade e se limita ao centro, Cambridge e, eventualmente, Charlestown.
Aliás, esse tinha sido o principal impedimento para não termos visitado a zona antes: a viagem ao longo de quatro estações de metro, mais o shuttle gratuito, pareciam demorar demasiado tempo para o que a biblioteca nos ofereceria. Não podíamos estar mais enganados. Primeiro, porque a viagem se faz num instante; depois, porque mesmo que fosse muito mais longe, valeria a pena a visita.
O edifício em que está alojada não é espetacular, e apesar de eventualmente ter sido erguido num estilo que pretende ligar o intemporal com o contemporâneo, mostra o sinal dos tempos – foi inaugurado em 1979. Isso, no entanto, não é impedimento para se apreciar a arquitetura que contrasta enormemente, no bom sentido, contra a baía de Boston que tem como pano de fundo. Se não fosse por mais nada, já valia o passeio para ver a cidade de outra perspetiva.
Mas o verdadeiro encanto está lá dentro, e não é no caldo verde (Portuguese kale soup with linguiça) que servem ao almoço no café. Não façam como nós, que pensámos ver a exposição numa hora. Acabámos por passar lá quase 3h, e provavelmente poderíamos ter ficado mais.
Em dois pisos, somos levados a conhecer a história do miúdo John, do Massachusetts, que se torna jornalista e só depois entra na política, das várias campanhas, para a Câmara dos Representantes e depois para o Senado, e eventualmente para a presidência. E depois entramos naquilo que nos absorve, numa exposição intemporal que fala da crise dos mísseis de Cuba e da conquista do Espaço, mas também do presente norte-americano na altura, da relação com Martin Luther King (que já conhecíamos, depois da nossa passagem por Atlanta) ou da figura de Jacqueline Kennedy.
Que nos põe a assistir a conferências de imprensa dos anos 60 durante largos minutos, e nos faz perceber por que é que o antigo presidente é descrito por tantos como um homem cativante, destinado para o cargo. Ao mesmo tempo, vamos apanhando pormenores familiares deliciosos – afinal esta biblioteca tem uma enorme influência, na sua génese e organização, da sua família.
Por mais americanizada que a visita seja – e não tenhamos dúvidas que o é, como em quase tudo o que é feito naquele país e fala de política – cumpre o seu propósito: é um local de educação e partilha e pensamento.
Praticalidades
Preço do bilhete: 14 dólares
Horário: 9h – 17h (o último filme introdutório começa às 15h55)
Como chegar: linha vermelha até JFK/UMASS e shuttle (gratuito) #2